Durante as décadas de 1980 e 1990, as famílias brasileiras conviveram e foram afetadas pela inflação. Conforme o coordenador dos cursos de Logística, Gestão Financeira, Gestão de Recursos Humanos e Gestão de Micro e Pequenas Empresas da Universidade do Vale do Taquari – Univates, professor Samuel Martim de Conto, “foram tempos difíceis, nos quais os preços nos supermercados eram reajustados diariamente”.
Tendo como objetivo estimular a percepção de como as famílias eram afetadas por situações daquela época e promover o aprendizado, os estudantes da turma de Economia e Finanças na Era Digital, ministrada pelo docente, realizaram, durante o segundo semestre de 2021, a coleta de preços de produtos da cesta básica em diferentes municípios da região do Vale do Taquari e áreas próximas.
Realizada mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) é um levantamento contínuo dos preços de um conjunto de produtos alimentícios considerados essenciais.
Os itens básicos pesquisados pelos estudantes foram definidos pelo Decreto Lei nº 399, de 30 de abril de 1938, que regulamentou o salário-mínimo no Brasil e está vigente até os dias atuais. O Decreto determinou que a cesta de alimentos é composta por 13 produtos alimentícios em quantidade suficiente para garantir, durante um mês, o sustento e o bem-estar de um trabalhador em idade adulta.
Diante disso, cada um dos 14 grupos de estudantes realizou três coletas de preços durante os meses de setembro, outubro e novembro, em 18 municípios (15 do Vale do Taquari), totalizando 141 coletas de preço. Conforme observado na tabela, da relação de municípios pesquisados, no mês de novembro, São Valentim do Sul apresentou o maior valor médio da cesta básica, R$ 811,33, enquanto Taquari, o menor valor, R$ 366,50.
Diante disso, estima-se que sejam necessárias 162 horas de trabalho para adquirir a cesta básica em São Valentim do Sul e 73 horas em Taquari. “Cabe salientar que, nesses dois municípios, ocorreu a coleta apenas em um estabelecimento, então é possível que em outros locais os valores tenham diferenças significativas”, explica o docente.
Como exemplo, em Lajeado ocorreram 14 coletas de preços em diferentes locais, resultando na média da cesta básica de R$ 616,69 (menor valor R$ 473,19 e maior valor R$ 877,89). Para efeitos comparativos, a cesta básica em Porto Alegre, conforme o Dieese, no mês de novembro, foi de R$ 685,32. Quanto à variação percentual do valor da cesta básica no mês de novembro em comparação a outubro, os maiores aumentos ocorreram em Capitão e Relvado (7,60% e 7,43%, respectivamente) e as maiores reduções percentuais foram em Taquari e Lajeado (-2,37% e -17,26%, respectivamente).
A estudante Evilin Agostini, de Encantado, cursa Administração de Empresas. Para ela, participar da atividade foi marcante. “Eu consegui vivenciar a teoria na prática. Também foi divertido e, ao mesmo tempo, surpreendente avaliar os preços, a inflação e como isso interfere em tantas áreas – principalmente por se tratar de cesta básica”, observa a jovem.
A estudante relata que o grupo que integrou e se aprofundou nas análises, indo além da cesta básica. “Para verificar realmente como atingiu os brasileiros, observamos os salários, os valores de outros gastos básicos e chegamos a discussões construtivas muito interessantes que se dispersaram também na apresentação dos dados realizada na turma”, avalia.
Ela destaca, em relação à atividade e à importância de iniciativas assim para a sua formação, que “Fazer com que o estudante busque os dados de algo pertencente a sua realidade foi muito positivo, trazendo um pouco do sentimento de responsabilidade e curiosidade com o assunto, além de nos inserir de forma mais real naquilo que vamos encontrar no mercado de trabalho”.
A teutoniense e proprietária de um restaurante, Eledir do Nascimento Nicol (52), sentiu que a inflação impactou no aumento da cesta básica, principalmente, porque vai no mercado habitualmente para compra de alimentos para fazer suas viandas. “O aumento foi muito grande, principalmente nas carnes e frutas. Para a gente que faz almoço, marmitas e viandas para entregar é muito difícil não passar esse aumento para o cliente também. Sentimos a cada semana a diferença, tu vem hoje é um preço, amanhã já é outro, está muito difícil”, desabafa. Como forma de tentar “desviar” desse aumento, Eledir busca por diversos lugares promoções.
Para o Rio Grande do Sul, a cesta básica deve conter:
– 6,6 quilos de carne bovina;
– 7,5 litros de leite;
– 4,5 quilos de feijão;
– 3 quilos de arroz;
– 1,5 quilos de farinha de trigo;
– 6 quilos de batata;
– 9 quilos de tomate;
– 6 quilos de pão francês;
– 600 gramas de café em pó;
– 90 unidades de banana;
– 3 quilos de açúcar;
– 900 gramas de óleo de soja;
– 750 gramas de manteiga.