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Daniel Dias diz que o sorriso faz toda diferença

Daniel Dias emocionou o público pela história de vida // Crédito: Luciana Brune

“Temos que valorizar quem somos, o que conquistamos e o que podemos conquistar”, iniciou o multicampeão Daniel Dias – nadador paralímpico brasileiro e recordista mundial. Com a palestra “Alma de campeão: o que você precisa para romper paradigmas e superar suas barreiras?” o esportista inspirou a vencer desafios utilizando como exemplo a sua própria história de superação imposta pela deficiência física. Foi o fechamento do ciclo de palestras da 20ª Convenção CDL Lajeado, nesta quinta-feira (23/6), no CTC.

Ele sempre valorizou o sorriso. “Muitas coisas planejamos na vida e fogem do controle, mas acontece. Nenhum pai ou mãe planeja ter um filho com deficiência. Não espera, mas acontece”, relembrou. Ele nasceu de 7 para 8 meses e foi para a incubadora, com a mãe de 17 anos. Quando os médicos contaram da deficiência, foi difícil para os pais: “Como é essa criança?”. A mãe imaginava a criança sem braço e sem perna. “Quando chega ao meu encontro e diz ‘filho a mamãe está aqui’, ela disse que eu sorri. Isso fez ela não olhar se faltava um braço ou perna. A primeira coisa que ela olhou foi o sorriso. Curou, encantou, apaixonou, aproximou, resgatou muitas coisas que estavam lá dentro”.

“Vivemos numa rotina doida de segunda a sexta-feira e você não para e observa. Esquece até mesmo de sorrir. Como sorriso faz bem. Que tal dizer isso todo dia ao chegar no seu serviço. Por que não escolher para sua vida. A primeira pessoa para quem sorrir é para você no espelho. O sorriso vai contagiar, encantar e unir”.

“Aquele sorriso transformou tudo, há 34 anos, quando não se tinha todo conhecimento. E por que não sorrir? Todos temos meta, mas comece acreditando na força do sorriso. Eu lembro dessa escolha todos os dias que acordo. É uma escolha que você faz para encarar os obstáculos e tempestades. Isso faz grande diferença na vida”.

No primeiro dia de escola – criança não tem filtro, é verdadeira – “foi difícil porque sofri bullying e preconceito. O preconceito existe, está dentro de cada um de nós. Você não pode se achar inferior a ninguém. Somos iguais em nossas diferenças. Todos nós temos diferenças, mas somos iguais em capacitações e realizações. Você é capaz. Naquele momento, enfrentando o preconceito e o bullying, precisei escolher ser feliz, enfrentar os desafios”.

Entrou no concurso de pintura da escola e ganhou a medalha. “Foi considerada a pintura mais bonita da escola. Fez um bem muito grande. Tem que fazer por você mesmo e não para mostrar para os outros. Mostre para você o que é capaz. Entendi que poderia – quando não colocamos limite na nossa vida de realização e capacitação, você não tem ideia do que faz. O limite está aqui [na cabeça]. Mostrar para mim e para os colegas que posso e consigo”.

“Quis fazer educação física na escola: futebol para os meninos e outro esporte para as meninas. O último a ser escolhido não é algo que se comemora, mas acontece. Naquele momento nem fui escolhido. Mais uma vez lidei com o preconceito. Por isso, acredito em escolhas. Eu falei vou jogar. Se é o último, você é goleiro, mas não me mandaram para o gol. Como a pelada não tem impedimento, fiquei na banheira esperando a bola. Não foi rápido, mas fiz o gol. Mais um obstáculo superado. No próximo, já não fui o último a ser escolhido”.

“Temos uma capacidade incrível de reinventar, de fazer acontecer, quando não acontece o limite de realização. Isso faz total diferença, de olhar para você, de dizer que consegue. Só vai acontecer quando estiver claro na vida, quanto mais claro for sua meta, mais foco e determinação vai ter. O sorriso é uma escolha que fizemos. Sorria para a vida”.

Esporte sempre esteve presente e não sabia da existência do esporte paralímpico. “Não conhecia, mas em 2004, em Atenas, vi Clodoaldo Silva conquistando medalhas. Eu quero fazer isso aí”, disse. São várias oportunidades que passam e espera-se estar pronto. “Não espere estar pronto, agarre a oportunidade e verá do que é capaz. Agarrei a natação e nem sabia nadar. Em oito aulas aprendi os quatro estilos; o normal é um ano. Passei a lapidar o dom que Deus deu, ter rotina e me dedicar”, disse.

Final de 2004 e início de 2005 me dediquei. Queria representar o Brasil em competições internacionais. Em 2006 foi para o primeiro mundial: “saí como revelação da natação paralímpica. Em 2007, no parapan no Rio, primeira competição dos pais, ganhei 8 medalhas de ouro. A cada conquista, a cada batida na piscina, olhar para os pais valeu a pena tudo que passamos. Saio como maior medalhista e um dos nomes da natação. Em 2008 veio a primeira paralimpíada, em Pequim, é muito rápido. Ganhei 9 medalhas – 4 ouro, 4 prata e 1 bronze”.

Trabalho em equipe é importante. “Sozinho não chegará a lugar nenhum. Por mais que natação é individual, não é sozinho que chega lá. Juntos nós somos mais e vamos realizar grandes coisas”, explicou. Ele falou das grandes metas e objetivos. Contou episódio das eliminatórias e das finais dos 50m em Pequim. “Muitas vezes já entramos derrotados ou achando que é difícil. Quando se acredita”, disse.

Sugeriu não olhar para o lado e esquecer para nós, ao citar a disputa final, em que o chinês olhou para o lado e esqueceu de fazer sua prova. “Você perde de fazer o melhor e a chance de ganhar a medalha de ouro. Vá até o final, faça o seu. Quanto for mais claro o objetivo, mais foco e determinação terá”, explica.

Citou as disputas de 2010 (mundial), 2011 (parapan) e 2012 (olimpíada). Após quatro medalhas de ouro, quatro recordes mundiais e todas na raia quatro. 50m nado borboleta, mas era raia cinco. “Olhei e disse que não é problema, porque hoje a raia cinco vai ganhar. Mesmo que eu fosse nadar, era preciso ele acreditar. Uma equipe só realiza grandes coisas quando todos acreditam que é possível”, enfatizou.

Também retratou seu desempenho nos anos seguintes até chegar na Olimpíada do Rio 2016. “Foi onde me tornei o maior atleta paralímpico com 24 medalhas, das quais 14 de ouro. Concretizar em casa, com 14 de ouro”, disse. Em 2021, Tóquio, conquistou as últimas três, de bronze, tornando o maior nadador mundial.

Parapanamericanos – 33 medalhas, todas de ouro

Mundiais – 40 medalhas

Paralímpicos – 27 medalhas

Ao conquistar 100 medalhas na vida, contou como foi traçada esta meta. “Cuidado com o que vai sonhar, porque vai se realizar conforme você acreditar. Sempre sorrindo”, concluiu.

Foi o quarto brasileiro a conquistar o Troféu Laureus – em 2009, 2013 e 2016. Fica atrás apenas de Roger Federer (6), Usain Bolt (4) e Djokovic (4) entre os maiores vencedores.

Ao exibir uma medalha, disse que era seu sonho. “Qual o seu sonho? É um trabalho de equipe”. Trouxe como exemplo a prova do revezamento 4×100 medley da Olimpíada do Rio. Cada um precisava melhor 1seg o seu melhor tempo. E o fato de acreditarem fez o time chegar à medalha de bronze. “Se fizer o melhor, quem está do lado também fará. Cada um baixou 1 segundo e fez o seu melhor. Cada um sabia a estratégia. Acredite na sua estratégia e no seu time”, disse.

“Juntos podem fazer história e a diferença, mudar o impossível”, disse. “O exemplo arrasta. Seja a mudança que você quer, seja o exemplo”, relembra. E exibiu um vídeo com uma história dos filhos. “Quero ser igual a você, não queria ter braço e perna”, o filho disse a ele. “Não importa o que você é, não o que a gente. Importa o que está dentro de você. Importa o ser humano, a pessoa que você é. Não importava o braço ou a perna, estava olhando muito além disso”, relembrou.

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