A crise da Cooperativa Languiru ultrapassou as barreiras internas e os limites geográficos da região. O Rio Grande do Sul inteiro fala no assunto, especialmente após as recentes abordagens em nível estadual por meio da Rádio Gaúcha – foi um dos temas do programa Atualidade de quinta-feira (9/3). A presidente do STR, Liane Brackmann, e o prefeito de Teutônia, Celso Aloísio Forneck, concederam entrevistas a Giane Guerra e Leandro Staudt. Ambos manifestaram reuniões agendadas com a direção da Languiru e canceladas, sem uma nova data. O tema também repercutiu nas câmaras de vereadores de Teutônia e Westfália.
Quatro prefeitos se reuniram na segunda-feira (6/3) para analisar possíveis apoios a serem oferecidos. Celso Forneck (Teutônia), Vânia Brackmann (Poço das Antas), Joacir Docena (Westfália) e Elmar Schneider (Estrela) debateram formas de ajudar e os caminhos a seguir. Todos estão muito preocupados e com as mãos atadas. Os líderes insistem em dialogar com o presidente, com o conselho de administração e com o conselho fiscal. A reunião estava agendada para ontem (10/3) à tarde, mas foi desmarcada. Ficou combinado de remarcar o encontro na próxima semana.
“Queremos conversar, saber, dar sugestões e participar. A nossa preocupação maior são os produtores rurais, que precisam deste amparo, porque também estão na incerteza e nos pedem o que fazer. E se nós não temos o conhecimento da real situação e da real proposta, não temos como dar palpite, porque toda palavra mal colocada pode fazer um estrago ainda maior”, explica Forneck.
Outras empresas, produtores, associados e funcionários ficam sob este “guarda-chuva Languiru”, e os impactos na cooperativa se refletirão adiante. Forneck percebe, neste momento, um impacto emocional. “As pessoas estão com grandes dúvidas, assim como nós prefeitos. Por isso, o G7 do entorno temos todo o interesse de ouvir a Languiru. Estamos muito preocupados, mas temos presente que o modelo cooperativista é a autogestão – quem decide o destino são os associados. Não queremos nos meter ou invadir esse espaço, mas estar à disposição. Somos parceiros. Estamos atentos e ávidos em poder ajudar, mas precisamos ter a oportunidade e a clareza do que está acontecendo”, avalia o prefeito de Teutônia.
Uma fonte relembrou de uma ação política do Município de Teutônia em 2002 junto ao Banco do Brasil, considerada relevante na renegociação da época para apoiar a cooperativa. Sugeriu repetir a fórmula. A lei mudou bastante nestes 21 anos e haveria alguns impeditivos para medidas similares. No entanto, o maior entrave estaria nas condições impostas pelas instituições financeiras para continuar negociando com a Languiru.
O presidente Dirceu Bayer, em entrevista à Rádio Popular, disse que as tratativas evoluíram com os bancos. O executivo admitiu a dívida atingindo R$ 1 bilhão, com a atualização dos empréstimos com bancos, atrasos com fornecedores, transportadores e produtores. Uma fonte adicional consultada pela reportagem confirma que o número de R$ 1 bilhão é o que melhor espelha a atual realidade.
Apesar de um faturamento 17 vezes maior do que em 2002, o caixa da Languiru está exaurido (esgotado). A cooperativa Languiru precisa da injeção de novos valores para ter fluxo de caixa. O fôlego viria da venda de ativos – frigoríficos de suínos e aves estariam avaliados em R$ 700 milhões. Há interessados em comprar ou estabelecer parcerias nas plantas industriais.
Fornecedores também vivenciam momento delicado. Empresários de determinados segmentos relatam valores de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por receber. Produtores de grãos também sentem atrasos nos pagamentos, por conta do alto volume. A dificuldade de reposição de mercadorias nos estoques e nas gôndulas dos supermercados é visível. “Fui ao mercado e não encontrei vários produtos”, relata um consumidor. As farmácias também se ressentem de medicamentos de alto giro.
STR de olho
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Teutônia e Westfália está atento ao cenário da Cooperativa Languiru, principalmente em defesa dos produtores-associados. Nos meses de janeiro e fevereiro, produtores de leite, aves e suínos receberam os pagamentos. A expectativa recaiu sobre esta semana, quando iniciou novo ciclo de pagamentos. Liane Brackmann mencionou os atrasos no pagamento de produção de grãos.
“Nossa preocupação é com a continuidade e que o plano [de reestruturação] dê logo uma resposta. Temos prazos, não podemos esperar porque está dando incertezas e inseguranças na propriedade, até porque o produtor também está com empréstimos tomados devido a exigências de mercado. E também a não freada dos modelos produtivos; que não precisemos parar de produzir”, sinaliza.
“Queremos a reestruturação da cooperativa. Continuaremos esperando um retorno e a reunião. E nos colocamos à disposição para todos que precisam de informação. Zelamos pelo produtor e pela viabilidade das nossas propriedades rurais”, explica.
Enquanto isso…
Também na quinta-feira, a Languiru anunciou a habilitação do Frigorífico de Aves, em Westfália, para exportar ao Canadá. A certificação foi concluída recentemente e as negociações com potenciais clientes estão em andamento. O setor comercial também está atento a outros mercados internacionais.
Bayer também refuta o rótulo de “centralizador” e de “isolado”. “Temos nosso conselho dá total apoio e nossos associados da mesma forma. Este tipo de comentário não nos atinge”, garantiu.
Embora tenha desmarcado reuniões com prefeitos e esteja evitando alguns contatos externos, Dirceu Bayer convidou publicamente o deputado federal Giovani Cherini (PL/RS) para conhecer a realidade da Languiru. “Se baseou em inverdades. Garanto que está arrependido. Convido ele a vir conhecer. Ele não conhece cooperativas e a situação da Languiru. Se conhecesse, não faria”, afirmou.
Em tom de apelo, o presidente pediu paciência e compreensão dos credores com valores atrasados. A expectativa é até a segunda quinzena de abril, no máximo início de maio. “Isso está em curso. É questão de tempo. “É preciso reforçar o que o cooperativismo prega – a união de todos, principalmente dos associados”, reforçou.
Evoluções
Item 2002 2009 2016 2020
Faturamento 140.968.888,00 392.764.321,37 1.254.754.944,22 1.843.503.116,57
Resultado Líquido -6.519.861,87 -1.903.560,58 184.624,57 68.848.738,44
Patrimônio Líquido 21.429.387,98 51.092.711,57 168.535.539,57 304.807.861,09
* A cooperativa anunciou faturamento de R$ 2,5 bilhões em 2022.
Fonte: Cooperativa Languiru