A Semana Mundial do Aleitamento Materno virou um mês inteiro: o Agosto Dourado. A cor dourada tem um significado importante relacionado ao padrão do leite materno: o ouro. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o leite materno um “alimento de ouro”, daí a referência. No Brasil, a campanha Agosto Dourado é instituída pela Lei Federal n° 13.345/2017.
Em 2024, a campanha tem como mote “Amamentação em todas as situações”, promovendo assim a quebra dos tabus que envolvem o ato majestoso de amamentar em qualquer situação.
Por muito tempo, o simples ato de oferecer o seio ao bebê em espaços públicos era sexualizado ou mesmo “vergonhoso”. Mulheres sentiam-se inibidas em alimentar seus filhos em um espaço que não fosse o doméstico. E somente em 2021 foi aprovado o projeto de lei nº 1.654/19, que assegura o direito das mães de amamentar em local público ou privado aberto ao público, ou de uso coletivo sem sofrer qualquer impedimento.
Um gesto tão rico em todos os sentidos assegura a saúde, tanto da mãe quanto do filho. Segundo o Ministério da Saúde, amamentar traz benefícios à saúde da mulher, pois reduz as chances de sangramento pós-parto, de desenvolver anemia, diabetes e infarto do coração.
A mãe também fica protegida contra alguns tipos de câncer de mama, pois existe uma involução das glândulas mamárias, como um processo de amadurecimento. Ainda, a renovação celular que acontece dentro da mama contribui para a proteção. “A cada ano de amamentação, a mulher tem 6% menos chance de ter alguns tipos de câncer, e isso é cumulativo”, enfatiza Joanna. A amamentação ainda ajuda a mulher a perder mais rápido o peso que ganhou durante a gravidez.
Já para a criança, é uma verdadeira injeção de saúde e de desenvolvimento de toda musculatura facial, além da respiração exclusiva pelas narinas. Assim, o ar é aquecido e filtrado antes de entrar no pulmão, diminuindo a ocorrência de alergias respiratórias. Isso também leva o bebê a dormir melhor.
Apesar de todos benefícios, a amamentação também apresenta avanços e desafios. De acordo com a OMS, apenas 44% dos bebês de 0 a 6 meses são exclusivamente amamentados. A meta global é atingir pelo menos 50% até 2025.
O padrão ouro
A fonoaudióloga e conselheira em amamentação, Joanna Moraes, detalha os benefícios no desenvolvimento dos bebês e na saúde, e destaca o momento único que é a primeira interação. A
golden hour ou hora de ouro é o momento ímpar, quando o filho tem o colo da mãe e faz o primeiro contato pele a pele. O recém-nascido já pode, naquele momento, mamar.
“Esse leite é protetivo, contém imunidade e anticorpos, que fazem a proteção para a criança. Também é laxativo, ajudando a criança a eliminar as primeiras fezes, o que é muito importante para começar o funcionamento do trato gastrointestinal”, destaca Joanna.
Além da proteção que o leite contém, o exercício oral que a amamentação promove é o mais completo para o bebê, pois fortalece os músculos da face e estimula os ossos do crânio e da face a crescerem adequadamente.
Dificuldades da mãe
Joanna explica que os principais desafios que as mães enfrentam são as dores ao amamentar, dificuldades na pega e a baixa produção de leite, que pode ser real ou não. A pega correta é importante para não ferir o seio e, por vezes, prejudicar o oferecimento da mama para o bebê. A dica da consultora em amamentação é observar que o queixo do bebê esteja colado na mama da mulher, o nariz do bebê esteja livre e a barriga colada no corpo da mãe. “É como beber um copo de água”, resume a especialista.
Um outro ponto de dúvidas entre as mulheres é a questão do leite “fraco”. Joanna explica que não existe leite fraco; o que pode acontecer é a baixa produção de leite. A orientação é que a mulher mantenha a sua alimentação saudável e diversificada, sobretudo, o mais natural possível, contribuindo para a qualidade do leite.
“Brinco que ela perde os cabelos e unhas, mas o corpo sabe que ela precisa alimentar um bebê, destinando os nutrientes para o leite”, destaca Joanna.
Três tipos de leite
O corpo e a natureza agem em sincronicidade, e o ato de amamentar é simples e complexo ao mesmo tempo. O copo entende, o corpo reage. O primeiro leite fornecido pela mãe ao recém-nascido é o colostro, mais espesso e rico em anticorpos, fundamentais na imunidade e desenvolvimento saudável do bebê. A descida do leite de transição acontece no terceiro dia de vida do bebê e depende das questões hormonais, ocorrendo mesmo que a criança não mame no peito.
Contudo, em alguns casos, essa descida não acontece naturalmente, daí a importância de um acompanhamento adequado durante o pré-natal, para que a mulher esteja em equilíbrio hormonal.
A não descida do leite pode ter outras razões, como alterações na tireoide, glicose, diabete gestacional, síndrome de ovários policísticos ou mesmo um ciclo menstrual desregulado. “Existem vários fatores considerados de risco para a não descida desse leite, por isso entramos com estímulos para fazer isso acontecer. Temos ferramentas, estudos e ciência para estimular a produção”, explica Joanna.
Passados 15 dias do parto, a mulher oferece o leite maduro, que deve ser o alimento exclusivo do bebê nos primeiros seis meses. A partir daí, para manter a produção satisfatória, o bebê precisa mamar de forma eficiente a cada duas ou três horas.