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Quando a paixão pelo conhecimento é descoberta dentro de casa

Gabriel foi medalhista da OBMEP, com ouro em nível regional e prata nacional / Crédito: Júlia Amaral

Quem vê as medalhas de prata e ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) no peito de Gabriel Andréas Schneider Aréstegui (14) talvez não tenha noção do empenho envolvido na conquista. Mais do que uma boa nota nas avaliações, o reconhecimento revela a disciplina orientada pelos pais, Nilton Aréstegui, engenheiro elétrico, e Marineide Schneider, colaboradora da Sicredi Ouro Branco. O objetivo é claro: ensinar o filho a pensar de forma autônoma.

As primeiras medalhas chegaram na olimpíada de 2023, quando Gabriel fez a prova de nível 1, com alunos de 7° e 8° ano, pela Escola Estadual de Ensino Médio Poço das Antas, conquistando ouro regional e prata nacional. A entrega das condecorações aconteceu no salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O feito se repetiu no ano passado, com resultado divulgado em 20 de dezembro. As datas para a cerimônia de entrega das medalhas em 2025 ainda está em aberto.

A excelente colocação em nível nacional nas provas da “18a olimpíada OBMEP-IMPA”, que teve mais de 18 milhões de participantes na primeira fase e 840 mil na segunda, rendeu a Gabriel a participação no Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) no prédio da UFRGS em Porto Alegre. Também, uma bolsa de estúdio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Com a boa colocação alcançada na “19a olimpíada de 2024”, voltou a receber convite para participar do PIC agora em 2025. Dois a três sábados por mês, ele e Nilton foram a Porto Alegre para Gabriel participar das aulas na área da matemática. Mas, a parceria entre os dois antecede as viagens à capital.

Márcia Barbosa, reitora da UFRGS, participou da solenidade de entrega das medalhas / Crédito: Divulgação

As primeiras memórias

Apesar das férias escolares, Gabriel não deixa de estudar e passa os dias junto do pai em uma sala com computadores, óculos de realidade virtual, livros e cadernos. O estímulo começou cedo e faz parte das lembranças de infância. “Lembro de um jogo que meu pai comprou, que era de sílabas. Aprendi palavras, a escrever. E aí, quando eu tinha uns 4 ou 5 anos, começou a matemática”, lembra.

No princípio, quando a família ainda morava em Porto Alegre, tudo era visto como parte de uma brincadeira. Durante os passeios, Nilton pedia que o filho gravasse os números das placas dos carros na rua e fizesse contas de multiplicação, soma ou subtração. “Foi assim que comecei a exercitar, sempre de uma forma mais lúdica”, acrescenta Gabriel. A dificuldade das atividades aumentou com o passar dos anos.

Em 2022, a família deixou a capital e decidiu viver em Poço das Antas, cidade natal de Marineide. A mudança implicou também na troca da escola particular pela escola pública estadual. “O meu pai me ajuda com os temas. Terminamos muito rápido para poder continuar com a programação e a matemática”, conta. Hoje, a programação é uma das grandes paixões de Gabriel. O estudante tem 20 jogos feitos por ele, publicados na plataforma Scratch.

Diante da revolução proporcionada pela Inteligência Artificial, as tecnologias despertaram no estudante novas possibilidades de atuação. Gabriel criou a sua própria “Alexa”, que chama de “Gabí”. Também desenvolveu programas de reconhecimento de objetos, assim como um jogo com óculos de realidade virtual e outros jogos feitos na plataforma Unity. Durante 2024 já visitaram em diversas oportunidades a Faculdade de Informática da UFRGS onde vem apresentando os trabalhos, recebendo felicitações e orientações.

A filosofia de casa

Todas as horas diárias dedicadas aos estudos não têm como objetivo simplesmente tirar uma boa nota na prova ou decorar um assunto. O que Nilton e Marineide querem é que o filho tenha um pensamento autônomo, que seja competente e esteja preparado para o futuro. Por isso, quando Gabriel tinha 3 anos, começaram os primeiros exercícios. “Uma vez por dia incentivamos ele a preencher uma folha com um palitinho e uma bolinha. Desde pequeno, ele sabe que tem um momento de estudos, que responsabilidade é importante e que tudo tem dois lados. Ele descobriu aos 6 anos a diferença entre estudar e brincar”, conta Marineide.

Nilton e Marineide participam de homenagem / Crédito: Divulgação

A rigidez da rotina vem de Nilton. “Para mim, o meu 10 é o zero dele. O que quero dizer com isso é que, onde eu cheguei, tudo o que eu tenho é o ponto de partida dele. O que eu sei, tenho que transmitir para outras pessoas”, afirma o engenheiro. Foi ele quem teve a ideia de recompensar Gabriel por cada tarefa extraclasse feita, como forma de incentivo. Com o valor, o estudante comprou um notebook e celular em 2019.

Muito além da matemática, o sistema de ensino que os dois aplicam é um estímulo ao pensamento lógico e levado como a filosofia de vida da família, que coloca a educação como prioridade. “Se você aprende a pensar, ninguém te engana e você chega a lugares em que os outros não chegaram. Não é uma ‘decoreba’ de assuntos”, finaliza.

Agora, os três aguardam a possibilidade de Gabriel integrar mais um grupo de pesquisa da UFRGS. Também, Gabriel comenta que quer participar do Programa de Iniciação Científica e Mestrado (PICME). Para isto vai ter que esperar concluir o segundo grau. De qualquer forma, os estudos, a matemática, a programação e a disciplina já fazem parte da vida de Gabriel.

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