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Produtores rurais enfrentam desafios climáticos, dívidas e incertezas econômicas na região


Apesar do frio, da chuva e das dificuldades que vêm se acumulando ao longo dos últimos anos, os agricultores familiares de Teutônia, Westfália e Poço das Antas seguem firmes em sua missão de produzir alimentos. Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais desses municípios, Liane Brackmann, o setor rural ainda sente os impactos das enchentes de 2024 e enfrenta novos desafios com as chuvas excessivas do último mês, somadas à queda nos preços de insumos e produtos.

Oscilação climática e perdas frequentes

“As estiagens, as enchentes e até os vendavais fazem parte da nossa realidade. Não é fácil superar isso tudo, mas nossos agricultores são heróis”, afirmou Liane. Ela lembra que, embora a região não esteja diretamente nas margens de grandes rios, há registro de deslizamentos, inundações localizadas e perda de produção. “Ano passado tivemos boa colheita de milho e silagem, mas as pastagens agora não se desenvolvem com umidade tão alta”, destaca.

Crise no leite e no crédito

A presidente do sindicato também apontou a preocupação com a queda nos preços do leite, registrada em maio e com reflexos em junho. Outro fator que pesa é o custo dos financiamentos: “Esperamos que o novo Plano Safra mantenha os juros controlados. O Pronaf e o Pronamp são fundamentais para que a agricultura familiar continue produzindo”, observou.

Ela lembra que muitos produtores ainda estão pagando ou renegociando dívidas contraídas para custear lavouras e rebanhos. “Os três meses de suspensão da negativação anunciados pelo Banrisul são um fôlego, mas não resolvem o problema. Entramos em um novo ano agrícola em julho, e sem crédito não há como planejar”, explica.

Seguro rural e frustração no campo

Liane também criticou o corte de 42% no orçamento do seguro rural 2025, anunciado pelo governo federal. Segundo ela, o setor foi pego de surpresa. “Esse seguro já é difícil de acessar, muito caro, e agora se torna ainda menos viável. A Fetag está negociando melhorias em Brasília, principalmente para os agricultores familiares, que mais precisam desse tipo de proteção”, comentou.

Produção de leite: entre o barro e a tecnologia

A pecuária leiteira, carro-chefe em muitas propriedades da região, também sofre com o excesso de umidade. “Vaca não tem botão para desligar. A chuva, o frio e o barro estressam o animal e reduzem a produção”, disse Liane. Algumas propriedades já aderiram a sistemas como compost barn e free stall, que protegem os animais das intempéries, mas essa ainda não é a realidade da maioria.

Capacitação e apoio ao agricultor

Liane ressaltou que o sindicato, além da atuação reivindicatória e assistencial, também trabalha com formação. Em parceria com o Senar, são ofertados de 40 a 48 cursos por ano, que vão desde práticas técnicas até temas sociais, como produção artesanal e gestão. “Queremos um agricultor mais qualificado, preparado para lidar com informática, contabilidade, com a administração da propriedade”, destacou.

Dívidas e renegociações com base técnica

Segundo a sindicalista, os agricultores que comprovarem perdas por meio de laudo técnico emitido pela Emater podem prorrogar os custeios por até três anos. “É justo. Perda por excesso de chuva também precisa ser considerada. Cada município tem sua realidade, e aqui nossa luta é por juros justos, crédito acessível e apoio contínuo”, apontou.

CONTAG, aposentados e protestos paralelos

Liane também comentou sobre os protestos realizados por grandes produtores nas rodovias, lembrando que a pauta da agricultura familiar é mais ampla. “Enquanto eles falam em securitização de dívidas por 20 anos, nós queremos crédito, saúde, habitação, apoio ao SUS e ao crédito fundiário”, diferenciou.

Sobre as denúncias contra a CONTAG, a presidente tranquilizou os aposentados. “Houve confusão, mas o desconto sindical foi autorizado e legal. A CONTAG é nossa representante em Brasília e segue sendo séria. Estamos transformando os aposentados em sócios contribuintes do sindicato, agora com vínculo direto no balcão”, explicou.

Luta diária no campo

Apesar das dificuldades, a mensagem da presidente do sindicato é de resistência. “Seguimos firmes, sempre em diálogo com a Fetag, Emater e demais entidades. Nossa luta é por dignidade, justiça e reconhecimento a quem coloca alimento na mesa de todos os brasileiros, mesmo enfrentando o clima, as dívidas e as incertezas do mercado”, concluiu.

Confira a entrevista na íntegra:

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