Ícone do site Folha Popular

Tarifas dos EUA ao Brasil e seus Impactos no Vale do Taquari

Contexto da tarifa de 50% e a relação Brasil-EUA
O professor Mateus Dalmaz, docente de História e Relações Internacionais da Univates, comenta que a recente imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre determinados produtos brasileiros carrega um forte componente político, além do econômico. Segundo ele, essa medida não é apenas uma estratégia comercial, mas também um instrumento de pressão política, tanto no Brasil quanto em outros países como a Índia e a África do Sul.

Dalmaz destaca que, tradicionalmente, as questões políticas internas não costumam permear a política externa de forma tão direta. No entanto, na gestão atual americana, especialmente durante o governo Trump, essa divisão tem sido rompida, transformando a política externa em uma extensão da política doméstica e buscando agradar um eleitorado conservador.

Política externa dos EUA e consequências globais
O professor enfatiza que essa mistura entre política interna e externa provoca incertezas no cenário internacional, levando outros países a buscarem parcerias mais diversificadas e fortalecerem o multilateralismo. Ele cita que até aliados históricos dos EUA, como Canadá, países europeus e Japão, sofreram tarifas elevadas, o que tem fortalecido alternativas como o grupo BRICS, que, apesar de não ser um bloco econômico formal, funciona como uma rede de negócios que se consolida em contraponto à imprevisibilidade dos Estados Unidos.

O Caso do PIX e a Soberania Nacional
Sobre o sistema de pagamentos brasileiro PIX, Dalmaz ressalta que os EUA têm uma postura protecionista, preocupados com a competitividade do PIX frente aos cartões de crédito americanos. Para ele, essa reação demonstra uma contradição dos Estados Unidos, que historicamente defendiam o livre comércio e o liberalismo econômico, mas agora agem com protecionismo para proteger seus interesses.

Esse comportamento evidencia que os EUA reconhecem que sua hegemonia econômica está sendo desafiada por outros polos, o que gera um cenário multipolar no comércio internacional, onde os Estados Unidos tentam mudar as regras do jogo para se manterem competitivos.

Impactos para o Rio Grande do Sul e o Vale do Taquari
Dalmaz aponta que o Rio Grande do Sul foi parcialmente poupado da lista de produtos atingidos pelo tarifaço, especialmente em setores tradicionais do estado, como o tabaco, calçados e produtos primários. Contudo, ressalta a importância da manutenção e aprofundamento do diálogo bilateral para proteger e fortalecer os setores exportadores da região.

Ele menciona que as negociações ocorrem em vários níveis, incluindo contatos entre ministros da Fazenda e secretários do Tesouro, além de iniciativas da sociedade civil, como câmaras de comércio bilaterais. Apesar desses canais, a influência política interna brasileira — especialmente a presença de grupos aliados à postura americana — tem retardado um acordo mais rápido.

Diferenças entre as tarifas de abril e o atual tarifação
Segundo o professor, o tarifaço atual representa uma mudança clara na política externa americana em relação a governos anteriores. A estratégia é proteger o mercado interno americano diante da concorrência externa e da desindustrialização, incentivando também a realocação de empresas estrangeiras para os EUA como contrapartida para a redução das tarifas.

Ele explica que essa “chantagem tarifária” se baseia na imposição de tarifas elevadas, com propostas para que os países negociem a redução aceitando medidas como a transferência de empresas para solo americano, o que evidencia um viés protecionista e uma postura menos racional e mais política.

O entrave político e judiciário nas negociações
Dalmaz destaca que, no caso brasileiro, o entrave maior está na sobreposição das questões comerciais com as demandas políticas e judiciárias impostas pelos EUA. O governo brasileiro pode negociar tarifas e comércio, mas não tem competência para interferir no judiciário, que está sendo usado como parte da pressão americana.

Essa mistura dificulta o avanço das negociações, pois enquanto o executivo brasileiro demonstra abertura para o diálogo, não pode responder às demandas judiciais, gerando um impasse que se sustenta pela espera estratégica dos EUA sobre possíveis mudanças políticas internas.

Sair da versão mobile