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Startups e universidade trabalham em favor da piscicultura na AquiBom

Verde Acqua produz biofertilizantes líquido e em pó a partir das carcaças de peixes - Crédito: Camille Lenz da Silva

Cumprindo um de seus principais objetivos, a 1ª Aquibom foi palco de palestras e fóruns em busca de debater as perspectivas, desafios e iniciativas para a aquicultura no estado. O sábado (8/11), segundo dia da Feira, foi dedicado especialmente a atividades acadêmicas e palestras sobre processos produtivos.

O processamento do pescado foi um dos temas abordados. Conforme o engenheiro e professor da Univates, Daniel Neutzling Lehn, a atividade gera uma quantidade significativa de materiais tradicionalmente classificados como resíduos, mas que possuem grande potencial de transformação valor agregado. “Além de evitar problemas ambientais, gera receita”, aponta.

A área é de crescente interesse, impulsionada tanto pela necessidade de dar destino correto aos materiais quanto pela busca por novas fontes de receita. No entanto, ainda é relativamente nova no estado.

Segundo Lehn, apenas 35% do processamento do pescado corresponde ao filé; os outros 65% são compostos por cabeças, vísceras, peles, escamas e outras partes. A maior parte dos resíduos na região é direcionada para farinha de pescado, silagem ou compostagem. “São destinos interessantes, mas que não oferecem o melhor retorno financeiro”, aponta o professor.

Estes subprodutos possuem um potencial interessante para diversas aplicações de alto valor agregado: extração e purificação de óleo de peixe; aplicação de peles na área da saúde, como em queimaduras; produção de hidrolisados proteicos; geração de biogás.

Para Daniel, o principal desafio que limita o uso nobre do coproduto do pescado é a sua perecibilidade. “Acredito que se tiver uma cadeia que possa concentrar e coletar essas vísceras, haverá uma boa chance de que empreendimentos sejam criados para processar esse material”, argumenta.

O professor defende um pensamento integrado da logística do destino desses resíduos para superar os desafios.

Startups

Existem movimentos no estado e fora dele interessados em beneficiar este coproduto, desde os tradicionais até as inovações em biotecnologia, impulsionadas por novos empreendimentos e pesquisas.

Um dos exemplos é a Verde Acqua, com sede em Betim (MG) e filial em Lajeado. A startup utiliza carcaças de peixe (resíduos de filetamento, cabeças, vísceras) para a produção de fertilizante líquido. Eles se posicionam no fim da cadeia produtiva para fechar o ciclo da aquicultura, promovendo a economia circular e operando como uma empresa resíduo zero.

O processo de fabricação é denominado hidrólise multimodal e é realizado em uma biofábrica, onde as carcaças são trituradas e misturadas com água, ácidos orgânicos e enzimas, passando por processos fermentativos. O resultado final é o Solus, biofertilizante rico em macronutrientes, micronutrientes, aminoácidos, ácidos húmicos e fúlvicos.

Este fertilizante é utilizado como complemento à saúde do solo, pois ajuda a restaurar o carbono orgânico. Os microrganismos benéficos e as enzimas presentes no fertilizante ajudam a biodisponibilizar os nutrientes para as plantas, sendo um contraponto ao pacote tecnológico químico que, com o tempo, enfraquece o solo.

“O Brasil hoje é o país que mais adere aos bioinsumo. Temos um plano nacional de fertilizantes, um plano nacional de bioinsumos. Esse mercado de fertilizantes especiais cresceu 300% em 5 anos. Conseguimos ver uma mudança de mentalidade e nossa empresa aposta nisso”, afirma o sócio-fundador da Verde Acqua, Carlos Emílio Vieira da Silva.

Agora, a startup desenvolve um produto microencapsulado em pó a partir do doutorado de Carlos Emílio sob a supervisão do professor Daniel. “A apresentação do fertilizante na forma sólida oferece grandes vantagens logísticas e garante a preservação e proteção da carga microbiana, essencial para sua aplicação no solo”, relata Silva.

Carlos Emílio cita que o trabalho tem “tudo a ver” com a proposta da Aquibom. “Hoje há grandes centros de produção e beneficiamento de peixe no Brasil. E o Rio Grande do Sul tem um potencial enorme para virar um desses grandes centros a partir da conexão entre a cadeia: quem produz alevino, quem transforma alevino em juvenil, quem engorda o peixe e o beneficiamento. A gente entra para fechar esse ciclo”, completa.

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