“Foi um dos momentos mais difíceis da nossa vida”. A frase da técnica em Segurança do Trabalho Marta Eliana Cardoso traduz o impacto daquela noite de sábado, há pouco mais de duas semanas. Um incêndio de grandes proporções, ainda sob investigação, consumiu em poucos minutos a casa onde ela vivia com o companheiro, operador de máquina e motorista, Celso Larssen, em Linha Catarina, interior de Teutônia.
O lar, erguido tijolo a tijolo, fruto de anos de trabalho e economia, foi reduzido a cinzas em menos de meia hora. Apesar do rápido combate dos Bombeiros Voluntários, pouco pode ser salvo. Da tragédia, porém, nasceu uma história de resiliência e a extraordinária força da solidariedade comunitária.
O casal estava em um baile quando recebeu as primeiras mensagens. “A Marta olhou o celular e viu várias chamadas. Diziam que nossa casa estava pegando fogo. A gente saiu correndo”, relembra Celso. A filha de Marta, Luani Mueller, também moradora da casa, enviou à mãe a mensagem mais dura: “Volta logo que a nossa casa tá queimando.”
Ao chegarem, encontraram uma multidão em desespero. “Muita gente tentou ajudar, mas o fogo se espalhou rápido. Quando os bombeiros chegaram, já estava tomado. Não sobrou nada”, conta.
Entre as chamas, perderam-se não apenas paredes e móveis, mas memórias de uma vida inteira. “Anos de talões de produtor, documentos de terra, fotos, álbuns, lembranças da família. Algumas coisas não tem como trazer de volta”, lamenta Celso.
O abraço da comunidade
A dor, no entanto, não foi enfrentada sozinha. Naquela mesma noite, Celso e Marta foram acolhidos por familiares. E, já na manhã seguinte, a rede de apoio se multiplicou. “No dia seguinte a gente tinha umas 10 ou 15 opções de lugar para ficar. Nunca vimos tanta empatia. Muitas vezes, as pessoas não têm palavras, mas um abraço basta. Isso foi o que mais nos sustentou”, conta Marta.
A solidariedade se transformou em roupas, alimentos, ajuda financeira e até recursos para a futura reconstrução. “A ajuda não foi só para as necessidades do dia a dia. As pessoas se juntaram de muitas formas”, afirma, emocionada.
Há 3 anos residindo juntos, Celso e Marta sustentam-se um ao outro diante da adversidade. “A gente se abraça, chora e segue junto. Eu quero cuidar dele para que ele fique bem, e ele quer me cuidar para que nós fiquemos bem”, diz Marta.
Celso não economiza palavras ao falar da companheira: “Todo dia eu digo a ela o quanto a admiro como profissional, como mãe, como ser humano. Minha admiração por ela só aumenta.”
O lar destruído era, para eles, mais do que paredes. Marta o define como “um espaço de cura”. “A gente vivia perto das flores, da natureza, dos pássaros, da água. Acordar de manhã e ver o sol entrando pela janela era nosso maior presente. É esse sonho que nos dá força para recomeçar”, afirma.
Por ora, o casal aguarda a conclusão do inquérito policial que investiga as causas do incêndio antes de erguer novamente a casa. Enquanto isso, retomam a rotina de trabalho e enfrentam a maratona de recuperar documentos e reorganizar a vida.
O casal possui uma vakinha on-line, com o objetivo de arrecadar R$ 150 mil para a reconstrução.
Inquérito sobre as causas do incêndio ainda não foi concluído / Crédito: Anderson Lopes
A lição que fica
Para quem possa vir enfrentar perdas semelhantes, a mensagem é de esperança. “Que se agarrem em Deus e não percam a fé”, aconselha Marta. “Acredito que a ajuda que recebemos foi fruto do que a gente sempre plantou. Nada nos faltou. Só confiar que não vai faltar teto, alimento, vestimenta. A solidariedade existe. Estamos aprendendo com isso e só temos a agradecer”, conta o casal.
Marta finaliza com a reflexão de que mesmo quando o fogo leva tudo, algo permanece inabalável, que é o amor, a fé e a generosidade coletiva.