Maneco Hassen avalia pleito, futuro e sistema político após ser o mais votado no Vale

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Maneco Hassem fez mais de 34 mil votos e chegou perto de uma vaga na Assembleia Legislativa / Crédito da foto: Luciana Brune

De todos os candidatos do Vale do Taquari, o que chegou mais próximo de se eleger foi Maneco Hassen (PT). O ex-prefeito de Taquari fez 34.532 votos, faltaram apenas 2.200 votos para que ele se elegesse a deputado estadual pela federação PT/PC do B. Maneco fica como terceiro suplente.

Ele foi o candidato a deputado mais votado da região. Maneco se diz muito grato e alegre com a votação feita, principalmente no Vale do Taquari. Ele lamenta ter “batido na trave”. “Foram quase 35 mil votos, o quociente do meu partido, o PT, acabou ficando muito alto, em 36 mil votos. Faltou pouquinho, claro que a gente fica triste, mas a gratidão muito grande por quem acreditou no nosso projeto. A votação foi extraordinária, o respaldo da população, principalmente do Vale, foi enorme”, avalia.

O candidato conta que superou sua própria meta de votação, que seria de 32 mil votos inicialmente previsto para viabilizar a eleição. “Porque nas últimas eleições o último candidato a entrar pelo PT fez 30 mil e um pouquinho. Então a meta era 32 mil, e em todos os municípios em que organizamos campanha, cerca de 100 municípios, superamos a meta. Só que, felizmente, o PT subiu a régua”, explica.

Em Taquari, sua cidade e da qual foi prefeito por 8 anos, ele teve 50,33% dos votos, somando 7.561 votos. “A população reconheceu nosso trabalho mais uma vez, e também o potencial e necessidade da candidatura de um deputado. É uma marca enorme, porque por mais que seja da cidade sempre tem as questões dos partidos políticos, candidaturas com pautas definidas, que na eleição influenciam bastante. Estávamos preparados para esse conjunto que tira votos de candidaturas locais, mas ainda assim superamos os 50% de votos. Para mim é um orgulho enorme saber que a população da minha cidade confia, entende e ajuda”, pondera.

Tendo sido o mair votado da região, ele acredita que o compromisso que fica é o de estar cada vez mais presente. “O que eu sempre fiz, mesmo antes da prefeitura, e vou continuar fazendo, dentro das minhas limitações, de estar sempre junto quando necessário para colaborar, auxiliar e ajudar os nossos municípios. A política para mim é um exercício diário, independente de ocupar cargos ou não”, declara.

Sobre a possibilidade de, futuramente, assumir a cadeira de deputado, avalia que tudo depende do andamento do segundo turno, e das alianças que surgirão. “E, claro, daqui dois anos haverá eleições municipais e vários dos deputados que se elegeram irão concorrer a prefeito em suas cidades. A política é dinâmica, se movimenta. Concorrer é uma das formas de participar da política. Eu, obviamente, vou continuar participando da política, o que não precisa necessariamente ser por um cargo eletivo”, aponta.

O Vale sem representantes

Sobre o Vale mais uma vez ter ficado sem representantes nos poderes legislativos federal e estadual, Maneco acredita que seja uma questão motivada por uma série de fatores. Entre eles, a região não ter a cultura de votar em candidatos locais. “O trabalho foi feito, mas é uma conscientização que precisa permanecer e continuar. Para que a gente consiga ir galgando degraus nessa escada até viabilizar a eleição”, inicia.

Em segundo, aponta o número de candidaturas. “Os partidos não tiveram a capacidade de se unirem em torno de apenas uma candidatura”, reforça.

Ele também avalia que as candidaturas a deputados provocam as candidaturas locais com objetivos individuais. “Para fortalecer a sua candidatura como deputado federal, ou para promover uma liderança naquele município vislumbrando uma eleição municipal futuramente. Faz parte do jogo, infelizmente”, considera.

Ele cita os interesses individuais de algumas lideranças que trabalham para candidatos de fora “vislumbrando um cargo para si, ou apoio depois na eleição municipal. É legítimo, mas não salutar. Porque a política perde o sentido de projeto de ação coletiva e de preocupação com a vida das pessoas e passa a ser do interesse individual daquela pessoa”.

Além disso, reforça que sozinho o Vale do Taquari dificilmente conseguiria eleger um deputado. “Seria necessário fazer muitos votos em outras cidades. Essa tarefa a gente cumpriu, mas no nosso caso a régua subiu demais, em outro partido eu teria me elegido”, diz. Neste sentido, acredita que a passagem pela Famurs o ajudou. “Tivemos colegas concorrendo absolutamente qualificados, por mais que eu possa discordar de algumas opiniões políticas. Mas você não expandir para outros municípios a eleição fica difícil”, complementa.

Ele acredita que o Vale tem uma potencialidade e força enorme que ainda não refletiu na política. “Também é necessária, e precisa ser olhada, isso é um tema para debate. Não deu certo nesta como gostaria, mas tenho convicção que ali na frente vai dar, se a gente continuar trabalhando e se unificando nos temas importantes para a região”, opina.

O sistema impede novas lideranças”

O encaminhamento de recursos por meio de emendas parlamentares muitas vezes coloca os líderes locais em posição de reciprocidade com candidatos que já são deputados, enviam recursos, mas são de fora da região.

Maneco acredita que esse sistema impede o surgimento de novas lideranças, e que isso está piorando. “O Orçamento Secreto está aí para provar. O Orçamento Secreto são recursos para os deputados e, agora sem critério nenhum, enviar para os municípios em troca de votos. Os deputados de todos os partidos fazem campanha com ‘trouxe tanto de recurso’, não se fala mais em projeto, em como o deputado votou em Brasília. Tem deputado que mande R$ 300 mil para cá, e lá vota para tira bilhões da saúde e da educação”, comenta.

Ele avalia que isso é muito ruim para a política. “Os legislativos não podem se tornar um despachante dos municípios, só para trazer recursos, isso significa que os executivos estão falhando. Recurso tem que ser uma política pública com o mínimo de critérios para chegar nas cidades, e não conforme o interesse dos deputados”, reforça.

Ele acredita que a situação não mude independente de quem se eleger presidente, pois a maioria dos deputados eleitos se beneficiaram deste sistema. “Acho isso muito ruim, a política perde o conteúdo e bom debate”, pontua.

Veja a entrevista completa:

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