De Teutônia para todo o Estado: Augustin representará o Vale na fase estadual da Mostra Científica

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Turma 203 foi a responsável pelo projeto vencedor da etapa regional / Crédito da foto: Paloma Griesang

Um pequeno troféu foi motivo de grande alegria e comemoração na Escola Estadual de Ensino Médio Reynaldo Affonso Augustin, no Bairro Canabarro, em Teutônia. A cena do momento da chegada com o prêmio na escola não sai da memória da Raiane Laíssa Müller (15). “O pessoal chorava, gritava, foi muito emocionante”, lembra.

Raiane, junto com a professora de Linguagem Corporal e Sociologia, Tatiana Brum da Silva, representou a turma 203, do 2ª ano, na Mostra Científica Regional das escolas estaduais, em Estrela. O trabalho apresentado foi campeão na categoria Ensino Médio e agora representará o Vale do Taquari na Mostra Estadual. “Eu estava representando eles [a turma], o projeto envolveu todos, foi muito gratificante, um reconhecimento de todo a turma”, pontua Raiane.

O projeto campeão tinha como título “Como as PANCs podem salvar o mundo?” e abordava as possibilidades em torno das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). Os alunos fizeram uma pesquisa e catalogação das PANCs existentes na escola, em seu entorno e em suas residências. A partir disso, desenvolveram também receitas de alimentos com as plantas, estas que foram apresentadas ao público e jurados. O objetivo principal era apresentar as PANCs como uma opção alimentícia e nutritiva, demonstrando que podem ser aliadas no combate à fome e escassez de alimentos.

Da ideia à prática

O tema das PANCs partiu da professora Tatiana, que apresentou aos alunos que abraçaram a ideia. Tati teve o primeiro contato com as PANCs durante a pandemia. Já conhecia um pouco das plantas devido a uma experiência que tivera com a filha nas aulas de Yoga, mas não era nada aprofundado. Com medo de um possível desabastecimento no período pandêmico, decidiu estudar mais sobre o assunto. Não precisou ir muito longe, no pátio de casa encontrou PANCs que nasciam espontaneamente. A partir daí, conheceu diversas receitas e começou a pôr em prática.

Quando surgiu a proposta da Mostra Científica, viu a oportunidade de aplicar esse conhecimento com os adolescentes. “O tema era sustentabilidade e tecnologia. Como não tinha nenhum financiamento para a pesquisa, pensamos em fazer algo simples, com o que tínhamos”, explica. A parte da tecnologia foi empregada no uso de aplicativos que auxiliaram na pesquisa e catalogação das plantas.

A partir da ideia, a turma partiu para a ação. Foram divididos em quatro grupos para realizar todas as etapas de pesquisa e construção do trabalho. “Lá em casa já tínhamos o costume de usar [as PANCs], mas muitos colegas não conheciam. Vimos como existem muitas e são acessíveis por aqui”, comenta Raiane.

A professora vê com positividade o resultado. “Foi bem legal, não somente pela turma, toda comunidade gostou. Legal que perceberam que dá para usar, incrementar, que traz benefícios”, salienta. Segundo ela, foi possível desmitificar o uso, e mostrar que não se trata de uma simples modificação da alimentação, mas de uma incorporação gradativa às receitas e refeições. “As pessoas acham que vai ser um alimento light, e não é. Se incorpora nos alimentos, fizemos um brigadeiro com flor, por exemplo, com o mesmo leite condensado mas usando a PANC”, exemplifica.

Outro grande benefício apresentado é que estas plantas nascem espontaneamente, sem precisar de plantio. “É o que muitas vezes cresce e as pessoas chamam de inço”, comenta. Além das receitas reproduzidas, a turma criou a própria receita, de uma barrinha de cereal feita de ora-pronobis.

Depois de todo trabalho, veio a primeira etapa, que foi a Mostra Científica na escola. Além das ponderações, a turma colocou as receitas à disposição para degustação. “Toda turma estava envolvida. E sempre tinha muita gente [no estande]”, conta Raiane. A partir da votação entre a comunidade escolar, o trabalho foi escolhido para representar a escola na Mostra Regional.

A vitória

Tati a Raiane confessam que não foram muito confiantes para a Mostra Regional, devido ao tamanho da feira. Eram 116 trabalhos ao todo, sendo 41 projetos entre o Ensino Médio. “Quando vimos que tinha um troféu só por categoria, ficamos menos confiantes ainda”, revela Raiane.

Porém, ao longo do dia, o estande da dupla passou a ser um dos mais visitados, e ali elas começaram a perceber que havia algo diferente e que estavam chamando a atenção. “A gente percebia que as pessoas estavam gostando”, conta.

Se elas estavam pouco confiantes, a diretora da escola, Mariane Ahlert, sempre acreditou no potencial. “A Mariane sempre confiou, desde o início ela dizia que já era nosso, ela foi a pessoa que mais acreditou, mais do que nós”, lembra a professora.

Na hora da premiação, a ansiedade começou a tomar conta quando anunciaram que o projeto vencedor era de uma escola de Teutônia, afinal só tinha dois trabalhos do município: elas e um projeto da Escola Gomes Freire de Andrade. “Quando ele leu o primeiro nome, ‘Reynaldo’, a gente já sabia que era nós e não ouvimos mais nada. Foi uma surpresa muito grande”, contam.

A professora acredita que o que chamou a atenção dos jurados foi justamente a simplicidade do que foi apresentado, já que haviam diversos projetos que envolviam muita tecnologia. Não no sentido de ser algo menor, mas de utilizar algo que está ao alcance de todos, principalmente voltando para aquilo que é natural. “É o processo reverso, de voltar ao que é natural, o simples e básico. Estamos inovando em uma coisa simples”, reforça.

O reconhecimento

A professora Tatiana reforça que não esperava chegar neste ponto da Mostra Estadual, mas que é algo muito recompensador. “Sempre fomos uma escola reconhecida pela parte do esporte, com muitos troféus em competições. E é muito legal agora ter este destaque pela parte intelectual também. Porque temos muitos alunos e ex-alunos que são verdadeiros exemplos nessa parte, mas isso muitas vezes não aparece, pois muitas vezes somos marginalizados por sermos uma escola de um bairro periférico em uma cidade de bom poder aquisitivo. Isso [o reconhecimento] é muito bonito”, opina.

A diretora Mariane diz que é motivo de muito orgulho e honra estar à frente da escola em um momento como esse. “É muito gratificante. O sentimento que tenho é que nossos alunos são gigantes que, muitas vezes, estavam adormecidos, mas agora chegou a hora de acordar e mostrar”, declara.

Expectativa e ampliação

Com a vitória na regional, a expectativa para a estadual aumentou. “A aprovação nos deixou mais confiantes”, revelam professora e aluna. Enquanto isso, o projeto das PANCs vai sendo ampliado dentro da própria escola. “Estamos vendo a possibilidade de implantar [as PANCs] na alimentação escolar. Já nasceram várias na nossa horta escolar. Para trazer essa cultura para dentro da escola”, reforça Tatiana.

Inclusive, a ideia deu tão certo e caiu no gosto, que as pessoas da comunidade chegam a pedir mudas das plantas utilizadas. “É algo que foi acontecendo”, pontua. A fase estadual da Mostra Científica das escolas estaduais ocorre em novembro.

A aluna Raiane Müller (e) e a professora Tatiana (meio) representaram a turma / Crédito da foto: Paloma Griesang
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