
A instalação da agência da Caixa Econômica Federal e o crescimento acelerado de estabelecimentos comerciais na Rua Major Bandeira e na região central do Bairro Languiru trouxeram um efeito colateral que preocupa comerciantes e clientes: a falta de vagas para estacionar. O aumento no fluxo de veículos não foi acompanhado por uma expansão proporcional na infraestrutura de estacionamento, gerando uma série de dificuldades diárias para quem trabalha ou faz compras no local.
A reivindicação mais recorrente é a criação de um sistema de estacionamento rotativo gratuito com tempo limitado, semelhante ao implementado com sucesso em ruas como a 3 de Outubro e Capitão Schneider. A medida, segundo lojistas e trabalhadores da área, poderia evitar que veículos fiquem estacionados por longos períodos em frente aos estabelecimentos comerciais, liberando espaço para mais circulação e impulsionando as vendas.
O desafio das vagas fixas
O proprietário de uma loja de automóveis na rua Major Bandeira, Márcio Schaefer, explica que o problema não é a falta absoluta de vagas, mas sim a ausência de rotatividade. “Até eu sei, a gente vai culpar o pessoal da Caixa? Não. Na verdade, não tem opção. Mas, isso ocupa o lugar de um cliente possível”, comenta o empresário, referindo-se ao uso prolongado das vagas por funcionários de estabelecimentos e motoristas que deixam os carros os dias inteiros estacionados nas vagas.
Para Márcio, uma medida simples poderia aliviar o problema: “Como foi feito na 3 de Outubro, pelo menos um lado da via com limite de tempo já obriga a pessoa a não ficar muito tempo. Acho uma alternativa interessante”, sugere.
Agência bancária aumentou o movimento
Lucineia Boaventura, que trabalha em uma loja nas proximidades da agência bancária, confirma a percepção de aumento do fluxo de pessoas após a instalação da Caixa. “Quando veio para cá, o movimento cresceu muito. O pessoal para aqui e vai no banco. Mesmo com estacionamento privado disponível, muitos preferem parar na rua”, relata.
A vendedora lembra que o próprio prédio onde trabalha oferece vagas, mas os clientes optam pela calçada. “É mais fácil para eles descerem do carro e já entrar. Só que isso tira a vaga de quem vem depois”, explica.
Iniciativa privada tenta preencher a lacuna
Diante da escassez, o empresário Ramon Lagemann decidiu agir por conta própria. Ele transformou um terreno na Rua Major Bandeira em estacionamento privado com capacidade para nove veículos. “Vi a necessidade há anos. Com a destruição das casas e construção de prédios e salas comerciais, o fluxo aumentou. Agora, com a Caixa aqui na frente, ficou ainda mais evidente”, diz Ramon.
Apesar do investimento com portão eletrônico e câmeras de segurança, Ramon afirma que o objetivo principal não é o lucro, e sim colaborar com a comunidade. “A ideia é ajudar. Tem muita gente que ocupa a frente das lojas o dia inteiro. Isso prejudica o comércio”, reforça.
Outro estacionamento privado surgiu na esquina das ruas Pedro Schneider e Fernando Ferrari. As ruas do entorno também estão lotadas, porque há fluxo para o Posto de Saúde, Hospital Ouro Branco, Centro Clínico e consultórios em um espaço de um quarteirão.
Rotatividade para evitar o abandono de veículos por horas
A vendedora de uma loja de confecção, Tatiane Dutra, acredita que o tempo excessivo de permanência dos veículos é o grande obstáculo para o fluxo de clientes. “Tem muita dificuldade para estacionar. Às vezes, os clientes desistem de vir porque não encontram vaga. Ou então estacionam longe e fazem tudo a pé”, diz.
Ela observa que a construção de um estacionamento pela Caixa Federal está prevista, mas não há data definida para a entrega. Enquanto isso, a implantação de um sistema de rotatividade seria uma solução mais imediata. “Poderia facilitar muito. Já ajudaria bastante se houvesse controle de tempo nas vagas públicas”, sugere.
Outras ruas já provaram que funciona
A cidade já possui exemplos de que a medida pode dar certo. Em ruas como 3 de Outubro e Capitão Schneider, a prefeitura implementou sistemas de tempo limitado – 30 minutos com o pisca alerta ligado e placas indicativas, o que permite a fiscalização. A ação aumentou a disponibilidade de vagas e melhorou a fluidez do tráfego nas áreas comerciais.
Márcio, comerciante da Major Bandeira, lembra inclusive que já foi multado por exceder o tempo nessas regiões, mas não reclama. “É uma forma de garantir que a vaga gire. Pelo menos assim a gente sabe que sempre vai ter espaço para o próximo cliente.”
Comércio precisa de circulação, não de estacionamento fixo
O consenso entre os entrevistados é de que, em áreas comerciais, o estacionamento deve servir ao movimento, e não ao repouso prolongado. “Reduzir o tempo de permanência dos veículos não vai acabar com o problema, mas vai ajudar bastante”, afirma Márcio Schaefer.
Segundo ele, o modelo rotativo não precisa necessariamente ser pago. Basta que tenha uma fiscalização eficiente e um tempo razoável para as compras serem realizadas. “O ideal seria como nas outras ruas: um lado da via com tempo limitado. Isso já melhora muito.”
Prefeitura em fase de escuta e análise
A Coordenadoria Municipal de Trânsito confirmou que o tema está sob análise. “Entendemos a necessidade de intervenções relacionadas ao estacionamento em locais de grande circulação de pessoas, especialmente em ruas que compreendem os centros comerciais. No momento, não há projeto definido, apenas em estudo. Estamos ouvindo a comunidade antes de discutir, junto ao conselho de trânsito, quais as possibilidades viáveis de intervenção”, diz trecho da nota.
A expectativa é que, após essa fase de escuta com lojistas, moradores e representantes do Legislativo, sejam formuladas propostas concretas que contemplem tanto a mobilidade quanto as necessidades do comércio.
Solução definitiva
Entre as propostas levantadas por comerciantes e moradores, destacam-se a criação de zonas de estacionamento rotativo gratuito com limite de tempo (1h a 2h). Outra sugestão é a fiscalização frequente com emissão de advertências ou multas para veículos que excedam o tempo permitido.
Campanhas de conscientização para motoristas sobre o uso responsável das vagas e incentivo ao uso de estacionamentos privados, com parcerias e incentivos fiscais para quem criar novas vagas são algumas delas. É apontado também a necessidade de melhorias na sinalização viária e nos acessos às ruas com maior fluxo.
Equilíbrio entre crescimento e mobilidade
A situação da Rua Major Bandeira e do Bairro Languiru é o retrato do desafio que cidades em crescimento enfrentam, como equilibrar o desenvolvimento comercial com a mobilidade urbana. O desejo dos comerciantes é manter o fluxo de clientes constante e acessível, sem que a falta de estacionamento afaste quem quer consumir no comércio local.
“Tem espaço. O que falta é girar as vagas, não deixá-las paradas o dia todo”, resume Tatiane Dutra. A comunidade aguarda que o poder público transforme essa demanda coletiva em ação concreta.

estacionamento com curto prazo
e com o pisca alerta ligado

para nove veículos


Crédito das fotos: Anderson Lopes