Projeto da Univates que ensina Língua Portuguesa a imigrantes prossegue com atividades em meio à pandemia

Virtualmente e em pequenos grupos presenciais a equipe do projeto continua com os trabalhos

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Participantes retiram o material didático periodicamente / Crédito da foto: Lucas George Wendt / Divulgação

O projeto de extensão “Vem pra cá!”, da Universidade do Vale do Taquari – Univates, oferece, desde 2014, aulas semanais e gratuitas de Língua Portuguesa como língua adicional para imigrantes, ministradas por bolsistas e voluntários em escolas da região. 

Mesmo durante a pandemia, o projeto seguiu com as atividades, com o objetivo de assistir aos imigrantes também neste período. Participam cerca de 80 pessoas que residem na região e que vieram de países como Haiti, Bangladesh, Marrocos, Guiné-Bissau, Paquistão e Egito. No último dia 4, um encontro presencial foi realizado com o objetivo de dar sequência às atividades do projeto. 

“Essa experiência está sendo muito positiva. Os imigrantes aderiram à proposta de aulas on-line e começaram a interagir com os colegas e os professores voluntários, por meio do WhatsApp, usando o português”, explica a professora coordenadora do projeto Maristela Juchum. “Esse é um espaço importante para todos. Além de poderem praticar a língua portuguesa no contexto de pandemia, também foi uma maneira de acolher os imigrantes e de dizer que continuamos aqui”. 

Reflexos da pandemia

De abril até agosto foram disponibilizadas atividades de forma virtual pelo WhatsApp, em um grupo criado pela organização do projeto. A partir de setembro a metodologia de ensino mudou. Atualmente os participantes estão sendo chamados ao Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, em Lajeado, para retirarem cadernos com unidades didáticas. 

A professora Maristela detalha. “Eles levam o material para casa e realizam os trabalhos a distância, acompanhados pelos voluntários e professores pelo WhatsApp para esclarecer as dúvidas que possam surgir durante o aprendizado”. Quinze dias depois os estudantes retornam para a escola para acompanharem a revisão das atividades, momento que é também mais uma oportunidade para sanar as dúvidas que possam ter. 

Os materiais didáticos são produzidos pelos voluntários. “É um material autêntico, que dá ênfase ao uso da língua para o ensino de Português como língua adicional. Baseados na concepção interacionista de linguagem, entendemos que o ensino do idioma Português deva se dar por meio de situações reais de uso da língua”, revela a professora. Isso quer dizer que a abordagem didática privilegia as temáticas do cotidiano dos participantes: seus direitos, a cidadania em outro país, questões relativas à saúde e ao trabalho. 

Rede de apoio 

Outro problema que a região viveu e que teve impacto na vida das pessoas que integram o grupo, além da pandemia, foram as cheias na metade deste ano. Este foi um momento em que o “Vem pra cá!” também atuou. “Os imigrantes que residem aqui precisam muito aprender a Língua Portuguesa para que consigam se inserir na sociedade e dar conta de demandas pessoais como, por exemplo, se relacionar socialmente e procurar emprego”. Muito antes de um espaço que serve para o aprendizado do idioma o “Vem pra cá!” representa uma rede de apoio e inserção social dos imigrantes na comunidade regional. 

“É um lugar no qual eles se sentem acolhidos”, explica a coordenadora do projeto. A docente lembra que existem relatos de situações de discriminação sofridas pela comunidade de imigrantes trazidas para as discussões do grupo. A xenofobia na região é, infelizmente, uma realidade. “Não é fácil para eles”, diz. Com as suas ações o projeto busca empoderar os imigrantes para que possam constituir suas vidas neste novo local, tendo acesso a empregos, saúde e educação em condição de equidade. 

Interculturalidade 

“Para todos os que participam é uma oportunidade de trocas ímpar”, diz a professora. Ela defende que a perspectiva é válida tanto para os voluntários quanto para os imigrantes. “Muitos falam mais de um idioma e nos ensinam sobre as culturas de origem”. Nesse sentido, a sala de aula, seja ela presencial ou virtual, se constitui um espaço compartilhado por todos. A interculturalidade tem grande força neste contexto, com os imigrantes e os voluntários ensinando e aprendendo ao mesmo tempo.  No encontro do último dia 4 estiveram presentes 8 imigrantes. 

Lamine Sama reside no Brasil há um ano e cinco meses. Ele tem 31 anos de idade e veio de Guiné-Bissau. “Deixei minha família na África para buscar uma vida melhor aqui”, ele revela. Sama diz que gosta de morar no Brasil e elogia o “Vem pra cá!”. “Eu estou conseguindo aprender o Português. Também gosto de estar aqui com os professores, eles me ensinam muito”. 

Participante Lamine Sama / Crédito da foto: Lucas George Wendt / Divulgação

Do Marrocos, outro país africano, há dois anos e sete meses partiu Ismail Afif, com objetivo similares aos de Lamine. “Vim para cá para buscar emprego. Os meses iniciais foram difíceis, mas agora está tudo bem”, diz o jovem de 24 anos. “Eu comecei as aulas de Português faz pouco tempo, mas não tenho dúvidas de que o projeto é muito bom. E está ajudando muitos os imigrantes”, declara ele. 

Participante Ismail Afif / Crédito da foto: Lucas George Wendt / Divulgação
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