Secretárias destacam representação e atuação das mulheres no governo estadual

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Marjorie Kauffmann e Simone Stülp (ao centro) foram as convidadas da Reunião Almoço da Acil / Crédito: Camille Lenz da Silva

As mulheres têm tido forte presença no secretariado do governo estadual. Das 28 secretarias, 11 são chefiadas por mulheres. Destas, duas são naturais do Vale do Taquari: a secretária de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marojorie Kauffmann; e a secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia, Simone Stülp.

As duas foram as convidadas da primeira Reunião-Almoço de 2023 da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil). O encontro ocorreu na quarta-feira (8/3), fazendo alusão ao Dia Internacional da Mulher.

Em pauta, a liderança feminina e a atuação delas no governo. Marjorie e Simone destacaram o trabalho em cargos estratégicos e a importância da qualificação ao ocupá-los para, assim, diminuir a desigualdade entre homens e mulheres.

Cerca de 140 pessoas participaram do evento e acompanharam as falas das secretárias estaduais. O evento foi aberto pela presidente da Acil, Graciela Ethel Black que destacou as lideranças femininas que representam o Vale no governo estadual. “Estão fazendo a diferença no Estado e tanto nos orgulham”, aponta.

Técnica e política

Marjorie Kauffmann iniciou sua fala destacando a atuação técnica na Secretaria. Salientou que por muito tempo resistiu ao rótulo de “ser política” porque se via apenas como uma ocupante técnica de seus cargo. “A vida política, porém, é necessária para que a gente possa expressar o nosso conhecimento técnico e chegar até as pessoas. Hoje sou 50% política, 50% técnica”, brinca. Assim, ela afirma que tem sido uma caminhada fantástica.

Considera que a representatividade é importante também para o Vale do Taquari, que tem sido reconhecida como uma região pujante. “Não é uma coincidência que tenhamos pessoas ocupando o primeiro, segundo, terceiro e vários escalões desse governo. O Vale do Taquari é reconhecido porque nós, de fato, fazemos a diferença para este estado”, pondera.

Ela afirma que o governo do qual ela faz parte sempre contou com mulheres em cargos estratégicos. “Cargos em que é preciso ter a sapiência, delicadeza, articulação. Temos 10 secretárias, grande parte que foram reconduzidas ao cargo. Estão ali por competência e não por cota”, avalia.

Ela afirma que a luta é por igualdade, oportunidade e competência e não apenas pelo gênero. Mesmo assim, ela conta que já sofreu discriminações apenas por ser mulher. Em uma oportunidade, não foi classificada para uma vaga de emprego por não acreditarem que seria capaz de desempenhar a função. Na outra, porque estava grávida. Apesar de avaliar como momentos sérios de discriminação, entendeu que foram situação em que deveria levantar a cabeça e seguir por outro caminho. “Vou sempre defender a presença da mulher quando ela for tão competente quanto qualquer outra pessoa que puder ocupar aquele espaço”, reforça.

Ainda em sua fala, Marjorie destacou as ações que serão prioridades da pasta do Meio Ambiente estadual, reforçando as três diretrizes: questão climática, saneamento básico e inovação ambiental.

A secretária destacou ainda os desafios de atuar no setor público. Para ela, o trabalho conjunto de todos os órgãos é fundamental. “Nós, setores públicos, precisamos nos entender, precisamos reduzir as distâncias. Porque nós precisamos servir o público, eles são nossos clientes. Eles precisam ser tratados de forma decente e precisam de respostas”, aponta.

Marjorie falou ainda dos desafios de equilibrar a vida profissional, pessoal, maternidade e família. Salientou a importância do apoio da família para que ela assumisse os desafios profissionais. Salientou ainda que é preciso saber onde quer estar e do que se permite abrir mão. “Tenho certeza que se eu fosse uma dona de casa, até ia ser boa, mas não seria a Marjorie, porque a parte profissional é muito importante para mim, eu gosto muito do que faço. E se profissionalmente eu não estivesse feliz, eu não seria uma boa mãe”, declara.

Ela finaliza ainda que a política é lugar para mulher. “Mostramos que podemos ter estas engrenagens, e eu tenho algumas. São chefes de departamento, subsecretárias, chefes de divisão, assessorias. Confio plenamente nelas, são mulheres que me atendem muito bem, também por serem mulheres, que andam comigo e fazem diferença”, pontua. Destacou ainda a importância de outras mulheres que compõem seu dia a dia na vida pessoal e família.

Inspirar outras mulheres

Simone Stülp iniciou chamando a atenção para o fato de que durante sua trajetória profissional percorreu diversos lugares com predominância masculina. “Desde a minha formação como Química Industrial, até os espaços que ocupei”, complementa. Ela conta que também tem histórias de dificuldades e preconceitos por apenas ser mulher, assim como a colega Marjorie. “Mas eu, Simone, nunca tive dificuldade em estar em locais ‘masculinos’”, pondera.

Ela conta que chegou a se questionar se precisava falar sobre a importância do papel da mulher nestes cargos, já que pessoalmente não tinha dificuldades. “Percebi que sim, eu precisava falar sobre isso, até para inspirar outras mulheres a trilharem este caminho se assim quiserem”, aponta. Essa consciência veio à tona quando começou a receber relatos de mulheres dizendo que ela as inspirava.

Simone trouxe alguns números para falar sobre liderança feminina. Conforme apresentado, 30% dos cargos de liderança no país são ocupados por mulheres, porém as remunerações ainda não são equivalentes. “Portanto, a desigualdade ainda persistem, por mais que muitas de nós, que estamos hoje neste ambiente, não sintamos esta desigualdade pelos locais em que nós costumamos habitar”, reforça.

A secretária salienta ainda que em muitos casos “somos as primeiras a ocupar cargos de liderança”. Considera que mesmo já estando na segunda década dos anos 2000, ainda é comum ouvir que uma mulher é a primeira a ocupar determinado cargo ou espaço. “Um cargo público, uma diretoria, uma presidência, uma reitoria. Precisamos sim falar sobre isso”, defende.

Outro dado que ela destaca, é que seis a cada 10 meninas das escolas públicas não tem referência de mulheres na área de ciências exatas. “Se não há referências, você não se enxerga ocupando esses espaços”, pondera. Ainda, destacou um estudo do Fórum Econômico Mundial que, devido à pandemia, o mercado de trabalho levará 136 anos para alcançar igualdade entre homens e mulheres.

Simone trouxe ainda dados sobre as barreiras e dificuldades encontradas pelas mulheres na busca por esta igualdade.

Entres os dados salientou o de que as mulheres têm dificuldade de lidar com o rótulo de serem muito emocionais, o que, para ela, na verdade é uma vantagem em cargos de liderança. “Porque conseguimos sentir a equipe, sentir as pessoas. E o que são das organizações senão um grupo de pessoas trabalhando em prol de um objetivo”, pondera.

Destacou o fato das mulheres ainda terem dificuldade de perceber e falar de suas conquistas, diferente dos homens. “Por isso temos que sim falar das nossas conquistas”, reforça. Acredita que as mulheres ainda são “acometidas pela síndrome da impostara”, mas que tudo isso “faz parte do abrir os caminhos”. “Por isso não me sinto mais constrangida em falar sobre isso. Meu papel, para além da gestão da Secretaria, é abrir caminhos para tantas outras que quiserem”, considera.

Mulheres e inovação

Simone ainda, a secretária apresentou os dados da sua Secretaria, reforçando que o Rio Grande do Sul ocupa a 1ª colocação no ranking de inovação entre os estados. “Muito disso se deve ao Vale do Taquari”, afirma. Apontou ainda os desafios e o que se precisa para manter esta posição, apresentando o ecossistema de inovação do estado. Apresentou ações, programas e projetos da Secretaria.

Para finalizar, apresentou dados sobre a atuação das mulheres na área da inovação. “Tivemos um crescimento de 70% no número de startups de 2021 para 2022, mas apenas 17% das startup gaúchas foram fundadas por mulheres. Todo desafio é uma oportunidade, aqui temos uma oportunidade a ser trabalhada”, afirma.

Já nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, 21,7% dos gestores são mulheres. “Outro oportunidade que precisamos avançar”, acredita.

Na Secretaria Estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia, 39% dos projetos executados são coordenados por mulheres, 21 de 53 projetos totais. E nos nossos gestores de inovação e tecnologia, dos 29, 16 são mulheres”, revela.

A secretária destaca ainda que dos 51 mil pesquisadores cadastrados na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), 30 mil são mulheres. “Isso nos mostra que temos grande número de mulheres inseridas na ciência e tecnologia e inovação, o que falta ainda é caminharmos um pouco mais na liderança deste momento. Porque sim, temos contribuições únicas, formas distintas de atuar nos ambientes de trabalho”, diz.

Ela avalia que ambiente liderado por mulheres tendem a ser mais empáticos e trabalhar de forma mais sistêmica. “O impacto costuma ser maior e a lucratividade, da mesma forma, costuma ser incrementada. A cultura da inovação precisa abraçar a equidade de gênero e a diversidade em todas as suas formas”, conclui.

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