A educadora Gládis Perlim foi a primeira professora surda no Brasil e segundo ela, a educação precisa desaprender um grande número de preconceitos, entre eles o de “querer fazer do surdo um ouvinte”. Entendendo a importância e o papel da Língua Brasileira de Sinais – Libras, Mariana Briese da Silva decidiu elaborar um glossário de termos da língua para o curso de Biblioteconomia.
A ideia surgiu por incentivos de sua amiga, Alissa Esperon Vian, e se acentuou após a percepção da inexistência de um diálogo entre seu curso e a Libras durante a elaboração de outro glossário, realizado com o Grupo de Estudos e Pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande (GEPIM).
O glossário de Libras foi criado com o auxílio de Cássia Palópolo, formada em biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pelo conhecimento no curso e por ser surda, a jovem contribuiu para a criação dos sinais. O trabalho teve orientação da professora de Letras, Camila Lawson Scheifer e do coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras, Adail Ubirajara Sobral.
“É importante ressaltar que para ser criado o sinal, um surdo precisa fazer porque ninguém melhor que a pessoa que vai utilizar ele. Já que o surdo é muito visual, um ouvinte não poderia criar um sinal”, pontua Mariana.
A quantidade de palavras utilizadas dependeu da necessidade de detalhes e demanda de tempo disposta para a elaboração da dissertação. A jovem pesquisou termos em três glossários diferentes da área da biblioteconomia e após utilizar um software de palavras recorrentes dos três documentos, escolheu as 25 expressões mais utilizadas.
“Eu inseri termos mais gerais já convencionados na Libras, por exemplo: biblioteca, revista, livro. Eles já existiam, não precisaram ser criados, então a gente adicionou ao trabalho e ficaram 44 termos no total, entre termos já existentes e termos novos”, explica.
Foi feito também, um levantamento bibliográfico, tanto em ferramentas digitais, quanto em dicionários impressos da área da Libras, que são reconhecidos no meio. Alguns deles foram: Dicionário da Língua de Sinais no Brasil; dicionário Enciclopédico Trilíngue da Língua Brasileira de Sinais, do Capovilla; Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES; glossário da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Hand Talk e V Libras.
Além de Cássia e Mariana, participaram do projeto as intérpretes Nara Gentil, Natasha Storch. O glossário está disponível no Tesauro Semântico Aplicado – THESA, criado pelo professor Rene Faustino Gabriel Junior da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O software livre foi elaborado para auxiliar em aulas de biblioteconomia, com a finalidade de formar tesauros. A ferramenta é gratuita e é utilizada para fins didáticos em disciplinas dos cursos de graduação e pós-graduação, não somente para a biblioteconomia.
Paixão como motivação
Mariana é bacharel em Biblioteconomia, pós-graduada em Libras e mestranda em Letras – área de concentração Estudos de Linguagem, iniciou os estudos na Libras em 2018 e sua motivação foi sua curiosidade. “Como eu digo, o bichinho da curiosidade sempre quis aprender coisas novas, diferentes, e achei que a Libras era uma delas, mas não imaginei que eu ia me apaixonar tão rápido”, comenta.
O estudo iniciou em uma cadeira optativa de um ano para Libras 1 e 2, na formação de Biblioteconomia. Ela conta que na terceira aula já estava apaixonada e queria ser tradutora intérprete, sonho que segue em projeção.
Aprender para incluir
Ao ser questionada como definiria a Libras, Mariana ressalta a importância da obrigatoriedade da língua no ensino básico e também, do sentimento pela mesma, que é fonte de motivação.
“O que eu sinto quando falo libras e quando falo sobre ela para as pessoas e poder juntar as minhas duas áreas de formação e a paixão que eu descobri pela Libras e o quanto é importante que o maior número de pessoas possa vir a conhecer, se interessar e aprender pra poder tornar o mundo, ou, pelo menos, o nosso entorno, melhor para as pessoas surdas”, expõe.
O que é um glossário?
De acordo com o dicionário, um glossário é uma lista alfabética de palavras utilizadas em um trabalho e dispostas no fim dele; uma espécie de dicionário que trata de um domínio especializado. A estudante explica que é a base de todo dicionário, uma coisa é intrínseca à outra.
Acesse o trabalho em: Thesa (ufrgs.br)
Gostaria de ter acesso ao material .
Muito importante.
Sou ouvinte e estou estudando Libras na UEMA com Prof Louize em SL-MA.
Muito bom, um trabalho dessa magnitude engrandece as competências e habilidades de quem o produz e facilita e ajuda a comunidade surda PARABENS
Uau! 💓 Sou ouvinte, mas estou fazendo LIBRAS. Estou amando poder contribuir na otimização da comunicação inter pessoal!