Pela primeira vez no Vale, Médicos sem Fronteiras presta auxílio a profissionais afetados pela enchente

Moradora de Lajeado, a coordenadora de RH da instituição Verônica Erthal jamais imaginou que o grupo um dia viria ao Vale.

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Crédito: MsF / Divulgação

Depois de mais de 50 anos de existência auxiliando em situações de emergência ao redor do mundo, ninguém no Vale do Taquari imaginava que veria a presença da ONG internacional Médicos sem Fronteiras na região. Porém, em setembro, um momento jamais previsto chegou e Verônica Erthal, moradora de Lajeado e coordenadora de RH da ONG, foi o elo entre o MsF e a região, junto ao seu colega e também morador da cidade, Samuel Johann. A profissional já atuou em diversas regiões do mundo pela organização, em cidades dilaceradas por desastres sociais e ambientais.

Verônica, que também foi afetada pelas cheias, aponta que em 4 de setembro tentou reorganizar a família e a casa, e à tarde se encaminhou para o Parque do Imigrante para atuar como voluntária. Ao perceber a dimensão da tragédia, sabia que precisaria de mais ajuda. Na mesma noite, mandou mensagem para a organização. “Na quarta-feira (5/9) à noite, tivemos a primeira reunião e ganhamos autorização para vestir o colete e poder fazer um mapeamento do que a Médicos Sem Fronteiras poderia fazer”, disse.

Já na sexta-feira começaram a chegar os profissionais, tanto de saúde mental como de logística, e então foi solicitada permissão dos governos municipais e estadual para atuar. Logo de início, foram chamados para atuar no Gabinete de Crise do Piratini em Encantado.

“Pactuamos com o Governo do RS para atuar nas cidades diretamente afetadas pela cheia, desde Muçum a Cruzeiro do Sul”, disse. Nas demais cidades atingidas, como Bom Retiro do Sul, Taquari e Santa Tereza, há ações específicas. Mas em todas elas, o mote é a saúde mental. “Nosso primeiro cuidado foi com os profissionais da linha de frente, da Saúde, Defesa Civil, Bombeiros e do Desenvolvimento Social. Eram profissionais que muitas vezes também tinham perdido algo ou alguém, e precisavam dar conta daquele serviço, reestruturar a casa, com a cidade em desacordo. É muito com o que lidar”, conta Verônica.

Metodologia

O projeto do MsF para o Vale do Taquari foi estipulado para três meses (90 dias). Segundo a profissional, voluntários, Exército e demais profissionais normalmente atuam por 30 dias nestes locais. “Após a saída desses atores externos, as próprias equipes dos municípios terão que continuar atuando, se reestruturando e um mês não é o suficiente. Então, é preciso acolhê-los e ajudá-los a entender as fases do desastre. Nós do MsF sabemos trabalhar 12, 16 horas por dia após um desastre, mas para os profissionais daqui foi inusitado. E como é que você se preserva para dar conta por seis meses, um ano?”, enfatiza, citando que a rotina retomada é nova, e todos os gestores e governos precisam olhar para a situação da mesma forma.

Depois, foram identificados os grupos mais vulneráveis, como migrantes. “É uma população que muitas vezes tem uma dificuldade de entendimento da língua e de acesso ao sistema, porque não são daqui. Bem pontualmente fizemos uma ação junto à Polícia Federal e a Brigada Militar para a reemissão de documentos, colocando um mediador cultural para facilitar a comunicação, o acolhimento.” Após, foi a vez da população idosa rural. “Conhecendo a nossa cultura, eles só buscam ajuda quando for o último dos recursos. Chegamos a eles em parceria com os atores locais”, concluiu.

Sobre o MsF

Com atuação em mais de 70 países através de metodologias de ações validadas e respeitadas, a ONG tem 65 mil profissionais experientes de diversas áreas contratados ao redor do mundo. Para tal, existe um rigoroso processo seletivo. Não há voluntários. A atuação nos países se dá através da permissão para ofertar cuidados à saúde e é gratuita para todos os públicos. A organização sobrevive de doações de pessoas físicas, justamente para garantir independência e neutralidade. Há a possibilidade de doar mensalmente ou periodicamente. A organização entrega com frequência relatórios de transparência com o destino do dinheiro arrecadado. Para ser um doador, acesse o site msf.org.br.

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