O presente e as propostas de futuro para a Via Láctea

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Proposta do governo do estado prevê 3,7 km de duplicação. Lideranças pedem obras em toda rodovia / Crédito: Júlia Amaral

Duplicação de toda a rodovia, intervenções que garantam a mobilidade entre os bairros, passagens seguras para pedestres e ciclistas e melhores acessos às empresas lindeiras são pontos de consenso entre o grupo que analisa as propostas do plano de concessões para a ERS-128 (Via Láctea).

Na segunda-feira (27/1), os representantes estiveram reunidos com o secretário de Parcerias e Concessões, Pedro Capeluppi. E na quarta (29/1) houve o terceiro encontro local. A próxima reunião será na quarta-feira (5/2), às 13h, em Teutônia. O grupo também avalia os impactos na RSC-453 (Rota do Sol).

Apesar do consenso sobre a necessidade de alterações no plano do governo gaúcho, os líderes regionais ainda não concluíram o documento que será entregue ao Estado. Diante das mudanças previstas para as próximas três décadas na rodovia, a análise do passado e dos problemas enfrentados desde a inauguração fazem parte dos estudos.

Histórico violento e baixo investimento

Nos últimos 10 anos, 11 pessoas morreram na Via Láctea, conforme dados da Polícia Rodoviária Estadual de Teutônia (PRE). A pista simples, que liga a Rota do Sol à BR-386, registra um fluxo intenso de caminhões e também é utilizada para deslocamentos urbanos, contribuindo para o alto volume de tráfego. Além dos óbitos, em uma década a rodovia teve 245 acidentes com vítimas lesionadas, resultando em 328 feridos. No total, foram registradas 458 ocorrências de trânsito no período.

Desde sua inauguração, em 1985, poucos investimentos foram feitos. Na pista, nenhuma mudança. Dois trevos de acesso aos bairros só foram modificados após tragédias que marcaram a comunidade. O caso mais emblemático foi a morte de dois estudantes, de 10 e 11 anos, em 2000. O acidente ocorreu no entroncamento da rodovia com a Rua Major Bandeira, então um cruzamento simples, quando um ônibus escolar colidiu com uma carreta. Só depois disso foi construída a rótula aberta que hoje interliga os bairros Alesgut e Languiru à Via Láctea.

Em 2010, um novo momento de comoção: em um intervalo de apenas 13 dias, entre 11 e 24 de março, sete pessoas morreram em quatro acidentes. A comunidade chegou a realizar protestos pedindo mais segurança na rodovia. Após a sequência de tragédias, a concessionária da época, Sulvias, anunciou medidas para reforçar a sinalização, como a instalação de tachões no eixo central da pista, ilhas no meio da rodovia e placas adicionais.

Em 2020, com recursos da administração municipal, foram construídas duas rótulas fechadas: uma no entroncamento com a Rua 17 de Junho, no Bairro Canabarro, e outra na interseção com a Rua Major Bandeira, no Bairro Languiru. “A falta de duplicação ou de outros investimentos em grande parte da rodovia resulta em pontos críticos que aumentam o risco de acidentes”, afirma o prefeito de Teutônia, Renato Altmann. O chefe do Executivo também destaca que não há vias laterais ou acessos adequados aos bairros adjacentes, o que compromete a segurança de motoristas e pedestres.

Duplicação completa e foco na mobilidade urbana

Com as mudanças propostas pelo plano de concessões, há temor de que a segurança seja ainda mais prejudicada, não apenas para os motoristas. O plano prevê a construção de apenas duas passarelas ao longo de toda a rodovia. O vice-presidente da Federasul, Ivandro Rosa, ressalta a necessidade de considerar o contexto local, onde há circulação de agricultores com maquinário agrícola, por exemplo. “Se fosse apenas uma rodovia de trânsito rápido, uma freeway seria o ideal. Mas, esse não é o propósito. A Via Láctea precisa atender tanto a logística quanto a mobilidade urbana”, enfatiza.

Outra preocupação é o trânsito entre os bairros após a duplicação e a reformulação dos trevos [vide gráfico nas páginas seguintes]. Sem vias laterais, os moradores terão que utilizar a pista principal para deslocamentos locais, aumentando o fluxo e o risco de acidentes. O grupo de estudo avalia alternativas para melhorar as travessias e tem como uma das propostas em análise a implementação de quatro cruzamentos em nível, semelhantes aos existentes na Avenida Alberto Pasqualini, em Lajeado, e na BR-386.

Crescimento da cidade

Atualmente, Teutônia é a segunda maior cidade do Vale do Taquari e abriga o bairro mais populoso da região: Canabarro, com 17 mil moradores. O crescimento econômico exige planejamento para a expansão urbana e a instalação de novos empreendimentos às margens da rodovia, principalmente no lado oeste. “Precisamos que o plano de concessões contemple previsibilidade para o crescimento da cidade, definindo onde serão instaladas futuras empresas e novos loteamentos”, destaca Ivandro Rosa.

Além disso, há preocupações quanto à acessibilidade das empresas localizadas dentro dos bairros. O grupo de estudos propõe mudanças nas rotatórias para facilitar os acessos. Um dos exemplos é a Concretos e Terraplanagem Brandão, localizada no quilômetro 25 da rodovia, que atende municípios como Westfália, Poço das Antas, Brochier, Lajeado, Estrela e Montenegro.

Para atender essas cidades, a empresa recomenda que os motoristas utilizem a BR-386, acessando-a por Fazenda Vilanova, evitando a Rota do Sol. O proprietário da empresa, Dinarte Brandão, critica o plano atual de concessões: “O projeto está completamente equivocado. De que adianta duplicar apenas uma parte da rodovia e deixar o restante sobrecarregado? Além disso, a duplicação total certamente atrairia mais empresas, pois há espaço disponível para isso”, argumenta.

Ele também reforça a necessidade de investimentos e considera inviável uma duplicação parcial. “Aqui há uma grande circulação de caminhões pesados. Apenas nossa empresa movimenta entre 50 e 100 caminhões por dia. Eu sou a favor do pedágio, pois garante a manutenção da estrada, mas a Via Láctea já está no limite”, afirma.

Pedágio sim, mas a preço justo

Assim como Brandão, grande parte do Vale do Taquari não se opõe à cobrança de pedágio, mas contesta a tarifa proposta, que está cerca de R$ 0,10 acima da média nacional. O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Teutônia, Renato Scheffler, reforça a necessidade da duplicação completa. “Tem empresários dispostos a pagar o pedágio, mas sem obter o benefício da duplicação. Por isso, estamos reivindicando a duplicação até o quilômetro 22, logo após o último trevo de Canabarro na primeira fase”, conclui.

O prazo final para consulta pública do projeto está marcado para 22 de fevereiro. É possível que a data seja prorrogada, a fim de possibilitar mais tempo de análise do material e propostas. O grupo de estudos da microrregião também não descarta contar com assessoria de técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para entender o que é viável dentro das propostas que serão elencadas. A Rota do Sol também é estudada.

“Defendemos a duplicação completa da rodovia, incluindo a construção de vias laterais que facilitem o acesso aos bairros e localidades ao longo da ERS-128”
Renato Altmann, Prefeito de Teutônia

“Tem empresários que pagariam o valor do pedágio e não teriam o benefício da duplicação. Por isso que nós estamos pleiteando uma duplicação até o quilômetro 22″
Renato Scheffler, Presidente da CIC Teutônia

“Precisamos ter alguma previsibilidade de expansão urbana, onde serão instaladas
as futuras empresas e os novos loteamentos”
Ivandro Rosa, Vice-presidente da Federasul

“A Via Láctea já está no limite”, Dinarte Brandão, Empresário

Acidentes na Via Láctea de 2014 a 2024

  • Total de sinistros: 458
  • Com danos: 202
  • Com lesões: 245 (um acidente com lesões pode ter vários feridos)
  • Feridos: 328
  • Mortos: 11

História da rodovia

  • 1985 – Inauguração da Via Láctea;
  • 1986 – A primeira morte foi registrada meio ano depois da inauguração;
  • 2000 – Instalação de rótula vazada no entroncamento com a Major Bandeira, depois da morte de dois estudantes;
  • 2020 – Instalação de duas rótulas fechados, em Languiru e Canabarro, com recursos municipais;
  • 2025 – análise do plano de concessões.

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