Dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) atualizados em fevereiro apontam que, no primeiro mês de 2025, Teutônia contabiliza cinco ameaças e uma lesão corporal. Foram 40 medidas protetivas emitidas para a Comarca de Teutônia. Os dados são públicos e disponíveis no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS).
Os dados da SSP são divididos em cinco categorias: feminicídio consumado, feminicídio tentado, ameaça, estupro e lesão corporal. Neste ano já foram 10 feminicídios contabilizados no Rio Grande do Sul e, no geral, 4.817 notificações relacionadas à violência contra mulheres. Ao abrir os dados, tem-se 24 notificações para feminicídio tentado, 10 consumados, 2.753 ameaças, 160 estupros e 1.870 lesões corporais registradas.
Em relação aos municípios do G8, são três comarcas responsáveis pelas emissões de medidas protetivas. A Comarca de Teutônia atende Teutônia, Paverama, Westfália, Poço das Antas e Imigrante. Fazenda Vilanova e Colinas são atendidas pela Comarca de Estrela e Boa vista do Sul, pela de Montenegro. Os dados oficiais não discriminam os municípios de onde as medidas protetivas foram emitidas, mas sim as cidades de coberturas. Além disso, no site do TJRS, as medidas protetivas não dão conta das medidas solicitadas, apenas das deferidas, ou seja, os números podem ser subnotificados.
Os números de janeiro de 2025 (único mês atualizado até o fechamento desta matéria) mostram que, no geral, houve uma diminuição em registros de ameaça e lesão corporal em comparação ao ano passado para Teutônia e Poço. Já em Colinas, Fazenda Vilanova e Paverama, em relação ao mesmo período de 2024, houve um acréscimo de ameaça e lesão corporal. Boa Vista do Sul não registrou notificações para as cinco categorias da SSP em ambos anos.
Medidas protetivas emitidas em 2024
Comarca de Teutônia: 49
Comarca de Estrela: 61
Comarca de Montenegro: 179
Medidas protetivas emitidas em janeiro de 2025
Comarca de Teutônia: 40
Comarca de Estrela: 59
Comarca de Montenegro: 122
Os dados não explicam tudo
A complexidade da violência contra a mulher é gigante e multifatorial. São inúmeros os casos que envolvem esses dados sobre as cidades e as notificações. A delegada regional da Polícia Civil, Shana Luft Hartz, explica que a notificação diante da situação de violência abrange aspectos como a própria confiança da vítima nos órgãos de segurança. Segundo ela, mesmo que cidades pequenas como Colinas, Fazenda Vilanova e Paverama tenham acréscimo no número de ameaça e lesão corporal, o registro é visto como positivo. O registro da violência não significa que a violência está apenas em uma ascendente, mas sim que as mulheres se sentem seguras e confiantes, explica a delegada.
Nesta mesma linha, a advogada e delegada aposentada, Elisabete Cristina Barreto Müller, considera a possibilidade das mulheres estarem mais fortalecidas dentro das suas próprias cidades e com coragem para falar.
“Pode ser que as redes de atendimento desses municípios, em início de gestão, tenham começado alguma campanha de conscientização. Quando as redes se fortificam, as mulheres têm mais coragem de denunciar”
Elisabete Cristina Barreto Müller – Advogada e delegada aposentada
Rede de apoio e acompanhamento
A violência contra mulheres atinge as mais variadas esferas da vida social. O que podemos comemorar, talvez, seja o aumento da escuta, do registro e das medidas de proteção relacionadas às violências contra mulheres. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de Teutônia é a referência na cidade para atendimentos de violência, com uma vasta gama de serviços disponíveis a todas.
A psicóloga e coordenadora do Creas, Adreana Janaína Weber, explica que o centro é a porta de entrada para aqueles que vivenciam situações de violência física, psicológica, sexual, negligência e abandono. Os serviços buscam mediar os conflitos e situações antes que sejam judicializadas. A equipe é composta por assistentes sociais, psicólogos e outros profissionais e está preparada para oferecer acolhimento, orientação e acompanhamento. O Creas não é um órgão de fiscalização, mas sim um canal para comunicar situações de violência e oferecer apoio às famílias.
Onde procurar ajuda
Denúncia: Diretamente na Delegacia de Polícia Civil de Teutônia
Disque Denúncia da Brigada: (51) 99802-6428
O Creas é um dos serviços de referência na cidade em caso de violência contra a mulher. Atendimentos pelo telefone (51) 98577-0386 (WhatsApp)
Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher
O Disque 100 é um serviço gratuito que recebe denúncias de violações de direitos humanos em todo o Brasil
Se precisar, não hesite em falar
Tanto se fala em “briga de marido e mulher não se mete a colher” que, em 2024, foram contabilizadas 72 mulheres mortas por serem mulheres. Sabemos que a grande parte é violentada dentro de suas próprias casas por aqueles que dizem amá-las e por elas não conseguirem se desvencilhar de um relacionamento tóxico. O programa Comunidade Alerta da Rádio Popular do dia 22 de fevereiro trouxe a temática dos relacionamentos tóxicos, trazendo à tona as discussões sobre como identificar, lidar e buscar ajuda. O debate teve a participação do promotor de Justiça de Teutônia, doutor André Prediger.
Embora homens também possam ser vítimas, a maioria dos casos de relacionamentos tóxicos envolvem violência do homem contra a mulher. Prediger aponta que, apesar dos direitos iguais, homens e mulheres são biologicamente diferentes, com o homem possuindo maior força física e, historicamente, exercendo o papel de provedor, o que pode levar à violência patrimonial e submissão financeira da mulher.
Sair de um relacionamento tóxico é um processo difícil que exige coragem e apoio. É fundamental que a vítima reconheça a situação, busque ajuda e tome decisões para proteger sua integridade física e emocional. A rede de apoio, incluindo amigos, familiares, profissionais e instituições, desempenha um papel crucial nesse processo.
A reportagem conversou com duas vítimas de violência, de 51 e 56 anos. As identidades são preservadas e, por motivos de segurança e integridade, serão chamadas de “A” e “B”. Em ambos os relatos, as vítimas mostram o início dos relacionamentos como “perfeitos”. O sonho da atenção e carinho que todas nós merecemos estava ali, diante delas. Contudo, não existe conto de fadas, e sim um filme de suspense psicológico com a reviravolta esperada: máscara de bom moço caindo.
“As risadas faziam parte da nossa rotina diária, assim como os passeios e as viagens. Jamais sonhei que aqueles momentos eram puro fingimento”, relata “B”.
A sedução, doação e carinho cedem espaço à crise de ciúmes, dominação e manipulação, e a vítima se questiona sobre a sua própria percepção das coisas. “A” expõe um episódio em que, diante da chegada do companheiro bêbado, procurou o acolhimento na vizinha e ligou para a polícia. As viaturas chegaram em “10 ou 15 minutos, encostaram e recolheram ele, mas ele dizia que não sabia do que se tratava, que não era verdade e que eu estava mentindo”. A palavra da mulher é colocada em dúvida. Logo, a sua versão, questionada.
Ambas foram violentadas duramente, não somente de forma física. A dor psicológica de uma vítima de violência causada por quem, até então, é alvo de amor e admiração é complexa e intensa. “A” e “B” puderam dar seus depoimentos pois conseguiram sair deste ciclo de violência e salvar suas próprias vidas. Elas deixam recados de coragem àquelas em uma situação de violência.
“Aproveito e peço a todas as mulheres em situações assim que busquem por ajuda, se olhem no espelho diariamente e conversem consigo mesmas. A força está dentro de ti, somos muitas e vamos te apoiar. Ao ver teu sorriso, mesmo em meio as lágrimas, tenha certeza que você encontrou o caminho”, disse “B”.
“Tenham coragem para denunciar. Nós mulheres temos que ter coragem e enfrentar a situação. Não aceitem o pedido de desculpas deles, são só lobos em pele de cordeiro e, quando podem, eles partem para a agressão”, apontou “A”.