
O vice-presidente de infraestrutura da Federasul, Antônio Carlos Bacchieri, defendeu nesta semana, em entrevista ao programa Espaço Aberto desta sexta-feira (25/4), a retomada das ferrovias no Rio Grande do Sul. Ele foi o primeiro convidado de uma série de entrevistas sobre os desafios da mobilidade e da logística no estado, especialmente após os impactos das chuvas e enchentes de 2023.
Bacchieri afirmou que o Estado tem, pela primeira vez, atuado de forma mais ativa nas discussões envolvendo o setor, ainda que a concessão da malha ferroviária seja de responsabilidade federal. Segundo ele, houve recentemente reuniões no Palácio Piratini, com a presença do vice-governador Gabriel Souza e de entidades empresariais que compõem a agenda da infraestrutura.
Durante a entrevista, ele explicou que o debate ferroviário no estado gira em torno de duas frentes principais: a Malha Sul, que está sob concessão da empresa Rumo até 2027, e os projetos de shortlines, que podem ser viabilizados com autorização estadual. Bacchieri defende que o modelo de concessão adotado nas décadas anteriores foi equivocado e resultou na perda de boa parte da malha ferroviária no estado. “A malha está praticamente abandonada. De quase 4 mil quilômetros, restam pouco mais de 600 em operação”, disse.
Questionado sobre a Ferrovia do Trigo e o impacto da paralisação nos municípios do Vale do Taquari, Bacchieri reconheceu que há entraves jurídicos e operacionais para a retomada do trecho. Ele defendeu que o Trem dos Vales, iniciativa turística que utiliza parte da ferrovia entre Guaporé e Muçum, seja desvinculado da concessão da Rumo para que haja maior liberdade de operação.
Para Bacchieri, o Brasil precisa repensar o financiamento da malha ferroviária. Ele citou o exemplo europeu, onde há subsídio estatal, e reforçou que o investimento público é necessário para que projetos saiam do papel. “Temos licenciamento e estudo técnico prontos, inclusive para a chegada da ferrovia Norte-Sul ao Rio Grande do Sul, mas falta decisão política”, comentou.
Ao final da entrevista, ele reforçou que os modais de transporte devem ser complementares. “Hidrovia, rodovia, ferrovia e aerovia não devem competir entre si. O Brasil precisa tratar isso como estratégia de Estado.”