
Em um cenário esportivo frequentemente dominado pela exigência técnica, cobrança por resultados e pressões externas, o Projeto Viver o Esporte, da Associação Esportiva Recreativa e Cultural Erno Dahmer (Aerc) Juventus, em parceria com a Prefeitura de Teutônia, vem mostrando que é possível conciliar formação esportiva, inclusão social e oportunidades reais de desenvolvimento aos jovens do município.
A Juventus amplia cada vez mais sua atuação além das quatro linhas, com um trabalho que atende atualmente cerca de 600 crianças e adolescentes em cerca de 15 localidades de Teutônia. São treinos nos bairros Teutônia, Languiru, Centro Administrativo, Alesgut, São Jacó e Boa Vista. A proposta do projeto não é apenas formar atletas, mas sim, cidadãos.
Conforme um dos coordenadores do núcleo social da Juventus, Gustavo Fell, a Juventus opera com duas frentes: o núcleo formativo social e o competitivo, com as duas esferas atuando juntas. Fell ressalta que, por mais que pareçam divergentes, os dois focos não são excludentes e o atleta pode seguir os dois universos.
“Temos exemplos de jogadores que surgiram no projeto social e hoje são titulares da equipe competitiva. Esses, como muitos outros, nunca pagaram para treinar e jogar; isso reforça o objetivo da Juventus, ao entender que o talento e o comprometimento não podem ser limitados pela condição financeira e social”, afirma.
“A Juventus é aberta a todos. Se tiver potencial, vamos inserir. Ninguém vai deixar de jogar futebol por não ter dinheiro”
Gustavo Fell
Coordenador do núcleo social da Juventus
Novos atletas
A identificação de talentos vem do olhar treinado dos professores. Em um ambiente social mais leve, como nos treinos no núcleo da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) 24 de Maio, por exemplo, os educadores identificam quem está ali apenas pela recreação e quem demonstra algo a mais com a bola nos pés. A partir daí, o jovem pode ser encaminhado também ao ambiente competitivo, que tem outra proposta: rendimento, disciplina, cobrança – sempre com a responsabilidade e orientação adequada.
Essa transição é feita com cuidado. “O treino do projeto é para brincar, é uma atividade física. No treino competitivo, vem o exercício físico e a cobrança. Mas é possível fazer parte dos dois mundos sem problema algum”, explica um dos coordenadores do projeto social, Daniel Frank.
Logística e desafios
Atender 600 crianças uma vez por semana em tantos locais diferentes exige uma logística complexa e dedicação. A Juventus trabalha com vários professores e uma rede de apoio, formada por parcerias com escolas e comunidades, que cedem espaços como ginásios e campos. Os horários são organizados de forma flexível e adaptável para respeitar a disponibilidade dos profissionais e das instituições.
Os recursos arrecadados ajudam a cobrir custos com transporte, materiais, estrutura e profissionais. “Mesmo assim, o foco segue social. Se a criança precisa, ela ‘está dentro’, independente de poder pagar ou não”, aponta Fell.
Com o crescimento do projeto, alguns profissionais optaram por se afastar do ambiente competitivo para atuar na gestão e no desenvolvimento social. A decisão tem relação direta com a complexidade da operação e a necessidade de garantir que a “engrenagem” funcione com qualidade. “Atualmente, a Juventus atende mais de 1 mil alunos entre todos os núcleos. É uma espécie de quebra-cabeça gigante que precisa ser muito bem montado”, ressalta Daniel.
O projeto também levanta uma reflexão importante sobre a atualidade, a de que o esporte de alto rendimento é excludente. Para cada atleta que chega ao profissional, centenas se frustram no caminho. E, muitas vezes, abandonam o futebol por completo. O excesso de pressão, especialmente vindo de familiares, é uma das principais causas desse abandono.
“A criança precisa vivenciar o futebol com prazer. Se for para se tornar jogador, o tempo dirá. O projeto existe para oferecer o espaço de desenvolvimento saudável e humano a todos”, reforça Frank.
Além da formação de atletas, a grande missão da Juventus é combater a inatividade física. “Hoje o maior adversário não vem de outras escolinhas, mas sim, do celular. O projeto quer tirar a criança do sofá, da tela, e colocar ela em movimento, para conviver com outras pessoas, aprender e evoluir cada vez mais”, ressalta Gustavo.
Saiba mais
Para saber onde ocorrem os treinos, como participar ou apoiar o projeto, os interessados podem entrar em contato com a equipe da Juventus pelas redes sociais ou pelo telefone (51) 99900-5212. Como a agenda dos treinos pode sofrer alterações, o contato direto é o caminho mais seguro para obter informações atualizadas.