
Com 18 eventos programados em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, a Tarde no Campo, uma iniciativa liderada pela Secretaria do Desenvolvimento Rural, Embrapa e Emater/RS-Ascar, busca qualificar cerca de 3 mil produtores com tecnologias que geram renda no inverno e protegem o solo. Das áreas cultivadas no inverno gaúcho, apenas 33% são aproveitadas.
O chefe da divisão estadual da secretaria estadual, Jonas Wesz, explica que o formato do evento foi pensado para eliminar barreiras. “O produtor toca as plantas, vê a resistência do trigo, compara a produtividade e entende como cada cultivo se adapta à sua realidade”, diz.
O foco principal é a bovinocultura, tanto leiteira quanto de corte, setor que sofre com a escassez de alimento no inverno. “Um produtor de leite não pode depender só do verão. Essas culturas garantem pasto ou silagem de qualidade nos meses críticos”, aponta.
Os materiais apresentados podem elevar a produtividade em até 30%. “Quando um produtor me diz: ‘Não sabia que esse trigo podia virar silagem’, vejo que estamos no caminho certo. Estamos derrubando mitos”, conta ele.
Na Cooperagri, em Teutônia, o workshop realizado nesta quinta-feira (31/7) foi uma vitrine tecnológica de materiais, com foco em cereais de outono e inverno e, também, em plantas de cobertura. Trigos, triticales e cevadas são muito usados na alimentação animal. “O foco principal aqui é a alimentação animal, principalmente a bovinocultura. Estamos em uma região muito forte no leite e na carne. Este movimento acontece em cada município, organizado pela Emater junto às cooperativas e, aqui, temos um bom espaço junto à Cooperagri”, manifesta Wesz.

Chefe da divisão estadual da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Jonas Wesz, defende que o produtor não pode depender apenas das épocas quentes / Crédito: Anderson Lopes
2/3 do solo são subaproveitados
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Cristiano Tomasi, existe um “vazio forrageiro” no estado. Enquanto caminhava entre parcelas demonstrativas de espécies de trigo, alertava que o estado tem 7 milhões de hectares de área cultivável, mas com potencial subutilizado, reduzindo o uso em apenas um terço no inverno. “Isso significa alimento não produzido, renda deixada na mesa e solo desprotegido contra erosões”, cita.
Em um campo experimental, dezenas de produtores de Teutônia observaram variedades de trigo e cevada e técnicas para conservação do solo como opções estratégicas para alimentação animal. “Não estamos falando de ciência futurista, mas de tecnologias prontas, testadas e acessíveis”, enfatiza Tomasi.
Para ele, há três desafios a serem superados como a falta de informação: “Muitos produtores ainda veem o inverno como período de descanso, não como janela de oportunidade.” Outra dificuldade é o acesso a sementes. “Estamos ampliando a rede de distribuição de cultivares adaptadas, como o trigo BRS Pastoreio”, informa.
Aliado a isso, está a assistência técnica. Por isso, Embrapa, Emater e Secretaria Rural se uniram para levar conhecimento até a “porteira”.
Uma das espécies de trigo apresentada aos agricultores tem como característica as raízes das plantas de cobertura, mais profundas. Se utilizadas para pasto, não são arrancadas na raiz pelo animal. “Elas evitam erosão, melhoram a estrutura da terra e, ainda, sequestram carbono”, conta Tomasi.
Para pequenos produtores familiares, a combinação de grãos e pastagens no inverno está sendo um divisor de águas. “O recado é claro. O inverno não é para deixar a terra dormir”, conclui o pesquisador.