Entre livros, câmeras e holofotes, Lajeado celebra o encontro entre duas grandes expressões artísticas: a literatura e o cinema. A 19ª Feira do Livro, que acontece entre os dias 13 e 17 de agosto, transforma a Praça da Matriz em um cenário vivo de cultura, conhecimento e imaginação. Com curadoria e patronato do escritor, cineasta e professor Carlos Gerbase, o evento deste ano propõe mais do que uma simples feira – oferece uma verdadeira imersão na narrativa, seja ela escrita ou filmada.
Promovida pelo Sesc Lajeado em parceria com a Prefeitura, a feira tem como tema central “Literatura e Cinema”, e não poderia haver nome mais apropriado para conduzir essa conexão do que Gerbase. Com uma carreira construída entre palavras, roteiros e câmeras, ele personifica a intersecção entre essas duas linguagens que, como ele mesmo diz, “sempre se retroalimentaram”. Durante a abertura do evento, realizada na Casa de Cultura, Gerbase destacou que nunca conseguiu se limitar a uma só linguagem artística – e foi justamente essa pluralidade que enriqueceu sua produção.
“Eu adoro literatura, leio muito, escrevo, faço filmes, dou aula. Claro que fazendo tantas coisas, a produção em cada área é menor, mas isso me fez navegar em mares diferentes, e isso foi bom para mim”, afirmou. Em sua fala, Gerbase também abordou com leveza a eterna discussão entre o livro físico e o digital. Se, por um lado, reconhece a praticidade dos e-readers – especialmente para as novas gerações -, ele também confessa um apego incondicional ao livro impresso. “Tenho livros demais. Às vezes, compro sabendo que nem vou ler, mas só para tê-lo na estante, saber que está ali”, disse, citando o escritor Humberto Eco.

Durante a abertura do evento, realizada na Casa de Cultura, Gerbase destacou que nunca conseguiu se limitar a uma só linguagem artística / Crédito: Anderson Lopes
A programação da feira é ampla, gratuita e democrática. Curtas-metragens, bate-papos com os homenageados, espetáculos teatrais, apresentações musicais, contações de histórias, lançamentos de livros e o tradicional Colóquio da Alivat compõem uma agenda pensada para diferentes faixas etárias e gostos. Escolas da região podem agendar visitas e atividades pedagógicas, reforçando o papel formativo do evento, que conta ainda com apoio cultural da Univates, da Alivat e do Conselho Municipal de Política Cultural.
A homenagem à atriz lajeadense Gabriela Munhoz, reconhecida por sua trajetória nos palcos e telas, também marca a edição deste ano, destacando talentos locais que ajudaram a moldar a identidade cultural da cidade.
O livro físico resiste
Se o cinema é a arte da imagem em movimento, o livro continua sendo o artefato palpável da imaginação. E na Feira do Livro de Lajeado, o testemunho do público e dos expositores reforça a vitalidade do livro físico em plena era digital.
A vendedora Rejane Milane, se emociona ao ver a movimentação de crianças e jovens. “Quando as escolas chegam, é bem legal ver toda aquela criançada aqui na feira. O público principal tem sido do ensino fundamental, mas os adolescentes também estão vindo”, relata. Para ela, o livro físico tem um valor insubstituível: “Folhear, ver as figuras, sentir o papel… isso não deveria acabar nunca.”
O livreiro Rodrigo Quevedo, 22 anos, reforça a mesma ideia. “O livro físico é insubstituível. Há um contato sensorial que nenhuma tela proporciona”, diz. Segundo ele, eventos como a feira ajudam a fomentar não só a leitura, mas também o mercado literário. “Percebo um aumento de público nos últimos três anos. As pessoas sentem que precisam aproveitar esse momento único. É a tal da ‘teoria da escassez’”, brinca.
Wesley Martins, estudante de gestão comercial e também expositor, destaca o impacto direto na movimentação de vendas. “A feira alavanca muito as vendas. Sem esses eventos, o mercado dependeria só do ponto físico. Aqui, a gente vê o retorno acontecer na hora.”
Leitura atravessa gerações
A feira também se revela um espaço de troca entre gerações. O servidor público Ivan Coos, de 50 anos, visitava o evento com sua filha Lisandra, de 13. Para ele, feiras como essa são essenciais para manter vivo o hábito da leitura: “O livro físico sobreviveu a tudo. E vai continuar existindo. Eu gosto de história; minha filha prefere suspense e romance. O importante é que ela está lendo.”
Lisandra confirma a paixão pelas páginas impressas: “Prefiro livro físico, principalmente os de suspense. Gosto de ter o livro na mão, marcar onde parei. É diferente.”

Pai Ivan e filha Lisandra: “O livro físico sobreviveu a tudo. E vai continuar existindo” / Crédito: Anderson Lopes
O cinema como extensão da palavra
Ao unir cinema e literatura, a Feira do Livro amplia horizontes e promove o entendimento de que ambas as formas narrativas têm o mesmo DNA: contar histórias. Para Gerbase, essa fusão é natural. “A literatura me ajudou a fazer cinema e o cinema me ajudou a escrever melhor. São linguagens diferentes, mas que se complementam”, reflete.
Ele ainda contextualiza que o próprio livro já passou por muitas transformações ao longo dos séculos. “Do papiro ao pergaminho, depois o códex, agora o digital. A forma muda, mas a essência continua sendo a narrativa”, pontua.
É essa essência que pulsa na Praça da Matriz durante a feira: o desejo de contar, ouvir, ver e ler histórias – em tela, em palco ou no papel.
Feira para todos
Mais do que vender livros, a Feira do Livro de Lajeado reafirma seu papel como evento formador, acessível e acolhedor. Um espaço onde leitores se encontram, histórias ganham vida e o cinema encontra, nas páginas dos livros, a centelha da criação.