Elevada ganha força e poderá transformar mobilidade na BR-386

Audiência pública em outubro reunirá ANTT, CCR ViaSul e lideranças regionais para debater projeto de acesso à cidade; proposta inclui nova ponte e terceira faixa entre Estrela e Lajeado

75
Elevada desafogará fluxo intenso de veículos na Av. Rio Branco, principal acesso de Estrela / Crédito: Anderson Lopes

O município de Estrela se aproxima de um passo decisivo para enfrentar um dos principais gargalos de mobilidade urbana da região: o acesso para a BR-386. No dia 2 de outubro, uma audiência pública promovida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em Porto Alegre, reunirá representantes da concessionária CCR ViaSul, autoridades locais e a comunidade para discutir a proposta de construção de uma elevada para interligar as ruas Ilmo Mathias Petter (Bairro Pinheiros) e Alfredo Matias Arenhardt (Bairro Imigrantes).

A obra da elevada e reabertura do antigo acesso Arenhardt é uma antiga reivindicação da população para facilitar o tráfego entre os bairros e desafogar os congestionamentos de acesso e saída de Estrela, tanto na rodovia quanto dentro do perímetro urbano. Além dessa solução, também estão na pauta a proposta de uma nova ponte entre Estrela e Lajeado e melhorias emergenciais no Bairro das Indústrias de Estrela.

O vereador Ângelo Daroit (MDB), que levantou o tema na Câmara, classifica a obra como urgente. “A elevada é vital para a economia da cidade. Hoje, os caminhões ficam presos no trânsito e os bairros estão isolados”, avalia.

Realidade e urgência

Para quem depende da travessia da ponte diariamente, a obra é urgente. O supervisor de suporte técnico, Diego Nunes, caminha todos os dias entre Lajeado e Estrela. Ele relata que a situação na ponte do Rio Taquari é crítica.

“Teve um período, há alguns meses, em que as pistas estavam restritas e os carros passavam grudados na gente. A passagem de pedestres está toda quebrada, cheia de entulho. Depois melhorou um pouco, mas agora colocaram cones que reduziram ainda mais o espaço. A gente é obrigado a andar na pista”, comenta.

Sobre a proposta da elevada no Bairro Pinheiros, Diego avalia positivamente. “Qualquer coisa que ajude o pedestre já é válida. A Avenida Rio Branco vive travada, e isso aqui é um caos”, reconhece.

O auxiliar de produção, Matias Armando Mallmann, reforça a atenção na travessia e o alerta ao perigo. “Passo de bicicleta todos os dias. É muito perigoso. Já quase fui atropelado por caminhões. Não tem recuo, não tem segurança. Precisamos de uma estrutura urgente para pedestres e ciclistas”, comenta.


Fluxo intenso de veículos são risco aos pedestres e ciclistas que não têm proteção ou recuo algum na travessia / Crédito: Anderson Lopes

Proposta de Integração

O projeto da elevada prevê a ligação direta entre os bairros Imigrante e Pinheiros, permitindo uma melhor integração da malha urbana e reduzindo o fluxo que atualmente se concentra na Avenida Rio Branco – a principal via de acesso ao centro de Estrela. Ainda há o acesso pela Trans Santa Rita, utilizada conforme a necessidade logística.

De acordo com a prefeita de Estrela, Carine Schwingel, a obra permitirá a integração da cidade. “A elevada não é apenas entre bairros. Conecta os dois lados da cidade, o que permitirá que moradores do Centro, Oriental, Imigrantes e arredores acessem o lado oposto sem depender da Avenida Rio Branco, que hoje é nosso maior gargalo”, reconhece.

A prefeita explica que a inclusão do projeto na audiência pública é um marco. “Conseguimos incluir essa obra como uma das prioritárias da região. Se aprovada pela comunidade, ela entra na revisão quinquenal [a cada 5 anos] do contrato da CCR ViaSul e passa a ser obrigatória para a concessionária”, destaca.

Execução depende de projeto e viabilidade financeira

Caso aprovada, a CCR ViaSul será responsável por todas as etapas da obra, desde o projeto executivo até a execução, com reajuste das tarifas de pedágio como contrapartida. O cronograma será definido após a conclusão do projeto, o que deve levar cerca de 6 meses.

A prefeita reforça que a prioridade é executar já no primeiro ano, caso os custos permitam. “O projeto precisa ser feito para sabermos quanto a obra custará. Se o valor for viável dentro do reequilíbrio do contrato, a CCR já sinalizou que essa será uma obra prioritária”, destaca.

Durante as obras, a expectativa é de que as interrupções no tráfego urbano sejam mínimas, já que a elevada conectará áreas com baixo fluxo atual. A prefeitura também fará adaptações nas vias de acesso, em paralelo ao cronograma da CCR.

Desafios de financiamento e estrutura urbana

Embora a proposta traga alívio ao trânsito, há entraves. A prefeita reconhece que não há previsão de recursos públicos para medidas de sinalização e segurança após a obra. “Ainda estamos operando com o orçamento do governo anterior, sem recursos para segurança ou mobilidade. Até pequenas obras, como as sete elevadas que conseguimos implantar, só foram possíveis graças à parceria com a iniciativa privada”, destaca. A prefeitura trabalha para aderir ao programa nacional PRONE, que pode viabilizar investimentos em videomonitoramento, radares e até guarda municipal.

Nova ponte entre Estrela e Lajeado

Outro ponto relevante da audiência será a discussão de uma nova ponte sobre o Rio Taquari. Ao contrário da elevada, ainda não se discute a obra em si, mas sim a inclusão do custo do projeto no contrato. “A ponte nova está em fase de inclusão do projeto. Se a comunidade aceitar, a CCR desenvolve o projeto inicial e depois apresenta o custo final para análise e aprovação futura”, esclarece a prefeita.

O município também luta por outras conexões, como a ponte entre Estrela e Cruzeiro do Sul, considerada prioritária por conectar duas regiões – Vales do Taquari e Rio Pardo – e aliviar o fluxo na área central de Estrela e Lajeado. “Nosso entendimento é que o Vale precisa de pelo menos quatro novas pontes”, conclui Carine.

Intervenções emergenciais e alternativas viárias

Com a reabertura do acesso sob a BR-386, no Bairro das Indústrias, o fluxo na Avenida Rio Branco teve uma leve melhora, mas os congestionamentos continuam. Como alternativa à impossibilidade de reabrir o antigo acesso do Arenhardt, a CCR apresentou um novo projeto de ligação pela alça de acesso ao porto.

“Estamos finalizando o projeto e conversando com a comunidade. A obra precisa do aceite da CCR, da ANTT e da população para sair do papel”, afirma a prefeita. A expectativa é de concluir o projeto nas próximas semanas.

Acidentes justificam intervenção

Os dados reforçam a necessidade de intervenção. Entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023, foram registrados 19 acidentes no trecho da BR-386 entre os km 350 e 354 – exatamente onde a elevada seria construída. A expectativa é de que, junto com a terceira faixa atualmente em execução, a obra melhore significativamente a segurança viária.

Terceira faixa

Enquanto a elevada ainda depende de aprovação, a obra da terceira faixa está em andamento. São 5,1 quilômetros (entre os km 346,1 e 351,2) com faixas adicionais em ambos os sentidos, barreiras de concreto e nova iluminação, visando melhorar a fluidez e reduzir riscos.

O que esperar

A audiência pública de 2 de outubro marca o início oficial da revisão quinquenal do contrato da CCR ViaSul. Nela, a comunidade poderá conhecer o projeto funcional da elevada, debater alternativas e propor melhorias.

“Nosso papel é ouvir, esclarecer e, com base nas contribuições, deliberar sobre a inclusão da obra na concessão”, declarou a ANTT à reportagem da Folha Popular. Caso aprovada, o projeto executivo será iniciado imediatamente, definindo prazos para execução e conclusão.

A audiência de outubro é mais do que uma formalidade, é a oportunidade da comunidade influenciar diretamente o futuro da mobilidade urbana. Estrela vive momento histórico, com possibilidade real de reverter anos de gargalos estruturais. A elevada, se aprovada, pode ser o primeiro passo para um novo capítulo no desenvolvimento urbano da região.

- publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Escreva seu comentário!
Digite seu nome aqui