Guerra tarifária e incertezas globais desafiam indústria gaúcha

Economista-chefe do Sistema Fiergs, Giovani Baggio apresentou o cenário econômico de dificuldades após as tarifas definidas pelos Estados Unidos

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Encontro na Acil reuniu empresários da região interessados em compreender melhor os desdobramentos da conjuntura internacional e suas implicações locais / Crédito: Thiago Maurique

O contexto geopolítico da economia mundial e seus reflexos no Brasil e no Rio Grande do Sul foram tema central da reunião-almoço promovida nessa quinta-feira (11/9) pela Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), em parceria com o Sinduscom Vale do Taquari. O encontro teve como palestrante o economista-chefe do Sistema Fiergs, Giovani Baggio, que apresentou projeções para 2026 e destacou os desafios de adaptação das empresas diante de um cenário de incertezas.

De acordo com Baggio, o cenário global mudou de patamar e a guerra tarifária instaurou uma nova era no comércio internacional, marcada por custos mais altos e menor previsibilidade para investimento”. Segundo ele, o resultado já é perceptível. Em agosto, as exportações da indústria gaúcha para os Estados Unidos caíram 19%, com setores como metalurgia, transformadores e celulose entre os mais atingidos.

Baggio destacou que mais de 85% das exportações gaúchas foram afetadas pelas tarifas americanas, atingindo também segmentos como calçados e móveis, responsáveis por grande parte das contratações. Lembrou que, além das tarifas, o Estado conviveu com estiagens e enchentes que afetaram a produção agrícola e industrial em anos recentes.

Todas essas dificuldades resultaram em queda nos índices de confiança do empresariado gaúcho. Levantamento de agosto mostra que a confiança dos empresários está no patamar mais baixo registrado desde junho de 2020, durante a pandemia. “O ambiente de negócios ainda é de cautela, mas a história mostra que o Rio Grande do Sul tem capacidade de superar crises. Precisamos transformar essa resiliência em planejamento de longo prazo”, reforçou.

Ajuste fiscal

Quanto ao Brasil, Baggio afirma que o país enfrenta o desafio adicional de lidar com um ambiente interno marcado por carga tributária elevada, juros altos e instabilidade fiscal. Segundo ele, desde 2023 o governo federal anunciou mais de 20 medidas com foco em aumentar receitas, o que aumenta a pressão sobre o setor produtivo. “O ambiente de negócios precisa de estabilidade. Se o governo não conseguir dar clareza às regras fiscais, as empresas terão de adiar projetos, e isso vai refletir no desenvolvimento econômico”, alertou.


Baggio defendeu a adoção de medidas de austeridade para destravar o desenvolvimento no Brasil / Crédito: Thiago Maurique

Conforme o economista, o caminho para fortalecer a indústria nacional passa longe da adoção de barreiras comerciais. “Em vez de levantar tarifas, precisamos melhorar o ambiente de negócios, reduzir gastos públicos, tornar a máquina estatal mais eficiente e investir em educação e infraestrutura. Isso dá competitividade e produtividade para nossas empresas”, detalhou.

Baggio defendeu a adoção de medidas de austeridade para destravar o desenvolvimento no Brasil, como o congelamento do salário-mínimo. Segundo ele, cada R$ 1 de aumento no piso nacional gera um impacto adicional de quase R$ 400 milhões nas contas públicas, considerando previdência, seguro-desemprego, abono salarial e demais políticas indexadas.

O economista-chefe da Fiergs também defendeu a necessidade de rever a vinculação obrigatória das despesas de saúde e educação à arrecadação. “Existe uma obrigação constitucional de que, sempre que a receita aumenta, o governo tenha de gastar mais em saúde e educação. Isso também precisaria ser ajustado”, alegou.

Guerra tarifária

Para o economista, a política americana de tarifas não deve alcançar o objetivo de reindustrializar a maior economia do mundo. Ele lembrou que o governo dos Estados Unidos aposta na recuperação de empregos industriais, mas que os processos produtivos mudaram. “Mesmo que novas empresas se instalem lá, dificilmente vão gerar os mesmos postos de trabalho que existiam no passado. No fim, quem vai pagar a conta são os consumidores americanos”, avaliou.

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