
Em tempos em que a infância parece cada vez mais ligada às telas, cresce o movimento de quem busca resgatar o brincar em sua forma mais essencial: aquela que nasce da curiosidade, do toque e do convívio. O desafio para pais e educadores é devolver às crianças o espaço do corpo e da experimentação.
A professora atelierista Roberta da Silva se dedica a esse propósito. Em seu trabalho com a Educação Infantil na Escola Brincarolá, de Lajeado, ela convida as crianças a explorarem materiais que vêm da natureza e do cotidiano, como galhos, argila, sementes e tintas extraídas de flores. A proposta é despertar sentidos, ampliar a sensibilidade e fortalecer a criatividade.
“As crianças precisam tocar, sentir e experimentar. Quando elas têm contato com diferentes texturas e cores, aprendem sobre o mundo e sobre si mesmas”, afirma Roberta. Para ela, o brincar é uma forma de pesquisa, e o adulto tem o papel de acompanhar esse processo com escuta e observação.
“O brincar livre é o espaço onde a criança cria, imagina e se expressa. É importante que o adulto esteja presente, mas sem conduzir, permitindo que ela descubra sozinha o que é possível fazer com cada material”, explica.
O olhar de Roberta encontra eco no cotidiano de muitas famílias que tentam equilibrar o uso das telas com as experiências reais. A analista de Implantação de Sistemas, Lariane dos Santos Sampaio, mãe do pequeno Pedro (3), vive esse desafio diariamente.
“Até 1 ano e pouco, ele não via telas. A gente brincava o tempo todo. Mas, depois das enchentes, quando ele ficou semanas sem creche, a TV virou uma ajuda para conseguirmos trabalhar”, relata.
Com o tempo, Lariane e o marido ajustaram a rotina para que o filho pudesse assistir a desenhos em momentos específicos e brincar na maior parte do dia.
“Usamos a Alexa para marcar o tempo. Quando o alarme toca, ele mesmo desliga a TV e entende que é hora de brincar. Depois, sentamos com ele ou deixamos brinquedos à disposição: carrinhos, quebra-cabeça, piscina de bolinhas, peças de encaixar. Tentamos que ele sempre tenha algo para explorar com as mãos e com o corpo”, explica ela.
Sem rede de apoio em Lajeado, o casal organiza o dia entre o trabalho e o cuidado com o filho. Quando o tempo permite, as brincadeiras acontecem ao ar livre. “Se está chovendo, ficamos em casa. Se o tempo abre, vamos para o parque andar de bicicleta, correr. É o que ele mais gosta”, aponta Lariane.
Ela percebe diferenças claras no comportamento do filho conforme o tempo de exposição às telas. “Nos dias em que ele passa mais tempo vendo TV, fica mais inquieto e até agressivo. É então que sentimos na prática o quanto o brincar faz bem”, afirma.
Entre brinquedos espalhados, tintas naturais e galhos recolhidos do quintal, o que se busca é o mesmo: resgatar a infância como espaço de descoberta e imaginação. O desafio é grande, mas o resultado aparece nos gestos, nas conversas e na alegria de cada nova invenção.