
Os recentes casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas acenderam um sinal de alerta em todo o país. A ingestão da substância, altamente tóxica e usada em produtos industriais, resultou em internações e mortes, principalmente em São Paulo.
Até o fim desta segunda-feira (13/10), cinco casos estavam em investigação no Rio Grande do Sul pela Secretaria Estadual de Saúde. As possíveis vítimas – todas homens – são de Canoas, Erechim, Santa Cruz do Sul, Viamão e Porto Alegre.
Outras 14 ocorrências já foram descartadas desde o início da investigação (apenas uma suspeita feminina). Um caso foi confirmado até o momento, na quarta-feira passada (8/10). O homem de 42 anos, morador de Porto Alegre, relatou ter consumido caipirinhas com vodka durante viagem a São Paulo. A vítima apresentou sintomas como febre, dor abdominal e dor de cabeça entre 12 e 24 horas após o consumo. Posteriormente, também relatou visão turva e alteração na percepção de cores.
Dos 20 casos notificados até o momento, seis foram de pessoas entre 20 e 29 anos, seis entre 40 e 49 anos,quatro de 30 a 39 anos, um de 10 a 19 anos, um de 50 a 59 anos, um de 60 a 69 anos e um entre 80 anos ou mais.
Quando ingerido, o metanol se transforma em ácido fórmico no organismo e pode causar desde perda de consciência e cegueira irreversível até óbito. As entidades setoriais acreditam que o cenário exige ação coordenada, com fortalecimento da fiscalização, rastreabilidade tecnológica e conscientização do consumidor.
Diante do aumento das notificações, o governo do RS lançou uma página especial com orientações, boletins e notas técnicas sobre o tema no portal da Secretaria da Saúde. O espaço reúne informações do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) e alerta para os sintomas compatíveis com intoxicação, que incluem desconforto gástrico, visão turva e rebaixamento de consciência.
Desde esta segunda-feira, o Centro de Informação Toxicológica do Estado (CIT) realiza exames laboratoriais para detecção do metanol. O primeiro passo recomendado em casos suspeitos é entrar em contato com o CIT pelo telefone0800-721-3000, que atende de segunda a sexta-feira, 24 horas por dia. Segundo a Saúde estadual, com a nova estrutura o RS se torna um dos poucos com capacidade própria para este tipo de diagnóstico.
Alerta de entidades setoriais
A crise levou autoridades e entidades setoriais a reforçarem a importância do controle de procedência e da fiscalização no comércio de bebidas alcoólicas.
De acordo com levantamento da Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp), divulgado neste ano, cerca de 36% das bebidas destiladas comercializadas no Brasil circulam fora da legalidade. Estudo da Euromonitor International, encomendado pela Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), estima em R$ 28 bilhões o custo anual do mercado ilegal de álcool para o sistema de saúde.
No setor produtivo e de serviços, cresce a mobilização para conter os efeitos da crise. A Fecomércio-RS disponibilizou cursos gratuitos ao governo estadual, voltados à capacitação de agentes de fiscalização para identificar bebidas falsificadas, em parceria com o Sindicato do Comércio Atacadista de Álcool e Bebidas em Geral (Sicabege-RS) e a própria ABBD.
Presidente do Sicabege-RS, Matheus Cardoso afirma que a qualificação dos profissionais é fundamental para garantir a segurança do consumidor e preservar o ambiente de negócios legítimo. “Quando uma bebida é falsificada, é a vida das pessoas que está em risco”, alerta.
A Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta) também reagiu aos episódios, instituindo um grupo de trabalho para gerenciamento de crise. A entidade reforçou o papel da certificação setorial como forma de garantir rastreabilidade e transparência na cadeia de fornecimento.
Entre as empresas que já adotam controles rigorosos, a Quiero Café é um exemplo de atenção constante à procedência dos produtos. Sócio da empresa, Matheus Fell afirma que toda a rede trabalha apenas com fornecedores homologados pela indústria, responsáveis por marcas de reconhecimento internacional.
“Temos uma distribuidora própria que fornece parte dos insumos e, no caso das bebidas destiladas, há distribuidoras indicadas pelos fabricantes, como a Decash, que atende Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e a MDG, responsável por São Paulo”, explica Fell.
Já o Grupo Passarela afirma que todas as bebidas destiladas disponíveis nas unidades da rede são adquiridas de fornecedores com procedência, diretamente da indústria, garantindo qualidade e autenticidade em cada garrafa. “Garantimos aos nossos clientes a prioridade de segurança na comercialização de produtos em todas as nossas lojas”, afirma a nota.
Conforme Matheus Fell, entre as orientações de segurança estão exigir nota fiscal, desconfiar de preços muito abaixo do mercado e comprar apenas de fontes confiáveis, ações que sempre fizeram parte das práticas internas do Quiero Café. “A nossa rede compra exclusivamente de fornecedores indicados pela própria indústria das marcas. É dessa forma que garantimos controle e precaução nas operações”, reforça.
5 casos em investigação pelo Estado (até o fim da segunda-feira – 13-10) |
1. Erechim: Homem, 24 anos, vodca |
2. Erechim: Homem, 40 anos, bebida não informada |
3. Viamão: Homem, 19 anos, uísque |
4. Santa Cruz do Sul: homem, 46 anos, sem informação |
5. Porto Alegre: Homem, 45 anos bebida não informada |
*Fonte: CEVS |