Conquista da Ponte dos Vales instiga novos projetos logísticos

Lideranças do setor produtivo, entidades regionais e estaduais defendem novas pontes

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Além da Ponte dos Vales e demais obras rodoviárias, reativação da hidrovia e da ferrovia e melhorias no Aeródromo de Estrela também fazem parte das reivindicações / Crédito: Maciel Fischer - Divulgação

É consenso que a construção da Ponte dos Vales, entre Estrela e Cruzeiro do Sul, representa uma conquista histórica para o Vale do Taquari e para o Rio Grande do Sul. A obra, que interliga duas das principais rodovias da região, a ERS-130 e a ERS-129, é vista por lideranças empresariais, políticas e institucionais como o início de um novo ciclo de investimentos em infraestrutura e logística.

Entre os projetos que passam a ser priorizados estão outras pontes sobre o Rio Taquari e um anel viário que conecte os municípios da região. Se colocadas em prática, as iniciativas têm potencial de transformar ainda mais o mapa viário do estado.

Um dos principais articuladores da Ponte dos Vales, o empresário Nilto Scapin reforça a transformação provocada a partir da confirmação da estrutura. Segundo o diretor das empresas Rhodos Implementos Rodoviários e Dina Explosivos, a travessia representa alternativa de ligação entre os eixos norte-sul e leste-oeste do RS.

Para Scapin, a nova ponte garantirá mais uma via de escoamento em casos de nova interrupção na BR-386, seja por acidentes ou problemas nas travessias sobre o Rio Taquari e arroios da região. “É uma obra que o Estado teve a felicidade de enxergar e decidir realizar. Será muito importante para a infraestrutura do Vale como um todo”, reforça.

Presidente do Codevat, Cintia Agostini afirma que o tema infraestrutura e logística precisa estar fundamentado em mobilidade e segurança, o que no Vale do Taquari inclui, necessariamente, o investimento em pontes. “Quando olhamos para a nossa região, percebemos que há uma grande necessidade de travessias sobre o rio que interliguem municípios e regiões”, destaca.

Segundo ela, a reivindicação por novas travessias não é nova, mas se tornou ainda mais evidente após os desastres recentes, em especial, as enchentes. “Os eventos extremos levaram pontes embora, o que impactou fortemente o Vale do Taquari. Isso reforça a urgência de olharmos para o assunto com mais atenção”, ressalta.

Cintia lembra que o Vale do Taquari está em uma posição central do estado, por onde passam muitas pessoas e cargas. “Precisamos, portanto, olhar para essas travessias e para outras mais, pois elas representam mobilidade, logística e segurança. Em situações de eventos extremos, garantem rotas alternativas para enfrentar o que vivemos recentemente”, alega.

Vice-presidente da Federasul, Ivandro Rosa afirma que a entidade reconhece a BR-386 como um corredor estratégico para o Rio Grande do Sul. A rodovia que cruza o Vale do Taquari é responsável por escoar mais de 70% das cargas produzidas no estado, incluindo matérias-primas e produtos processados. “O que nos preocupa é o médio e o longo prazo. Nesse olhar mais amplo, entendemos que é necessário criar passagens adicionais”, defende.

Porém, relata que a Federasul entende que o Vale do Taquari ainda depende muito do modal rodoviário. “Por isso, precisamos adotar uma política estratégica de médio e longo prazo. Além da concessão das rodovias, é fundamental pensar na criação de um anel rodoviário”, acredita.

De acordo com o vice-presidente da CIC Vale do Taquari e presidente da cooperativa de transportes Valelog, Adelar Steffler, é importante reforçar a localização estratégica da região para a logística gaúcha. “Tudo passa por aqui, do trânsito para Santa Catarina, passando pelo centro-oeste, litoral, o Porto de Rio Grande, as Missões e a capital”, ressalta.

Segundo ele, o Vale do Taquari se tornou um grande corredor de passagem, não porque as pessoas querem cruzar pela região, mas porque não existem opções. “Por isso, precisamos encontrar alternativas que sejam benéficas não só para nós, mas para todo o estado e para os usuários das rodovias que cortam o Vale”, destaca.

Anel viário regional

O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Rio Grande do Sul (Setcergs) manifestou apoio institucional ao projeto da Ponte dos Vales. Superintendente institucional da entidade, Eduardo Richter afirma que a nova ligação funcionará como um anel viário, semelhante à BR-448 na Região Metropolitana. “Desafogará o trânsito urbano de Lajeado, criando rotas mais eficientes para motoristas de outras localidades em direção à BR-386”, afirma.

A presidente do Codevat afirma que as obras de infraestrutura são necessárias também devido ao crescimento do Vale. Segundo Cintia, a região cresceu cinco vezes mais que a média do Estado em 10 anos e a tendência deve se manter. “Mesmo após os reveses recentes, essa dinamicidade se comprova pela velocidade da recuperação e pelas soluções encaminhadas”, relata.

Para Cintia, pensar em um anel viário é projetar os próximos 15 a 20 anos de desenvolvimento. Ela afirma que a proposta surge como alternativa ao eixo central da BR-386, criando rotas complementares, especialmente para o transporte de cargas. “É no Vale do Taquari, mas beneficia o estado”, aponta.

De acordo com Ivandro Rosa, o anel viário teria o papel de desviar parte do fluxo pesado de carretas que hoje passa pelas imediações das cidades de Lajeado e Estrela. Ele afirma que, além de viabilizar o escoamento do grande volume de cargas, também criaria novos corredores de desenvolvimento.

“Naturalmente, com uma nova rodovia, surgem oportunidades para a instalação de novas indústrias e empresas, o que melhora a mobilidade regional e ajuda a destravar gargalos que hoje ainda são frequentes, especialmente nos congestionamentos”, frisa.

Para Adelar Steffler, a questão do anel viário não pode ficar apenas nos debates entre as lideranças do Vale do Taquari. Segundo ele, a região vai continuar a crescer e se desenvolver, mas, para que isso aconteça de forma mais rápida e segura, a estrutura é fundamental. “Não adianta propor obras apenas para fins estéticos ou turísticos. Tudo isso virá naturalmente depois, se tivermos infraestrutura que garanta segurança, agilidade e economia”, reforça.

Nilto Scapin afirma que a ideia é iniciar o anel viário em Fazenda Vilanova e terminar em Marques de Souza, com dois contornos saindo da BR-386. O objetivo é desviar o tráfego pesado das principais cidades com pistas largas e modernas para desafogar o trânsito e melhorar a logística.

O tema avançou em conversas com entidades de classe e proposta de parcerias público-privadas. Conforme Scapin, o projeto já tem estudo preliminar, plano de comunicação e estrutura projetual. “Mas entendemos que, neste momento, a prioridade deve ser concentrar esforços nas pontes mais urgentes: a Ponte dos Vales e a ponte Estrela-Lajeado”, ressalta.

Outras estruturas

Nilto Scapin lembra que, além da Ponte dos Vales, a região ainda pleiteia outras duas travessias sobre o Rio Taquari. Uma delas faria a ligação entre Estrela e Lajeado em paralelo à atual ponte da BR-386. “Esta obra estaria dentro da concessão da CCR ViaSul e seria custeada pela concessionária”, aponta.

A outra estrutura ligaria Arroio do Meio e Colinas, mas ainda precisa de articulação para receber recursos estaduais ou federais. “Unidos, conseguiremos avançar e atingir nossos objetivos. Esses são os caminhos para conquistarmos o desenvolvimento e a infraestrutura que o Vale do Taquari precisa”, destaca.

De acordo com Adelar Steffler, quando se analisa a estrutura de uma ponte, não se trata apenas da travessia sobre o rio, é preciso avaliar sua conexão com a infraestrutura viária existente. “Foi daí que surgiu a nossa decisão de aprovar e apoiar a ponte entre Cruzeiro do Sul e Estrela. Entendemos que ela oferece uma dinâmica mais acessível, com menor interferência no fluxo urbano e menos impacto dentro das cidades”, relata.

Para o vice-presidente da CIC VT, o Vale do Taquari precisa urgentemente de infraestruturas que vão além das pontes e do anel viário. Entre as alternativas complementares, destaca o aeródromo de Estrela. “Nem todos vão usar, é verdade, mas há situações em que ele é essencial, especialmente em casos de urgência, para voos de pequeno porte”, aponta.

Outras estruturas defendida pelo vice-presidente da CIC VT incluem hidrovia e ferrovia. “Não há necessidade da hidrovia chegar até Estrela. Se vier até Taquari ou Bom Retiro do Sul, já está dentro do Vale. O mesmo vale para a ferrovia, embora saibamos que é uma obra complexa e de alto custo”, conclui.

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