Uma das áreas que mais impacta na vida e bem-estar das pessoas é a economia. Embora para muitos o tema pareça difícil ou chato e não desperte interesse, ele reflete na vida de todos. Preços, empregos, consumo, investimentos, tudo depende da roda da economia para girar.
E assim como os demais setores, a economia tem seus altos e baixos, e diversos fatores que a impactam ao longo de um ano, seja no nível macro (a economia geral ou do país), seja no nível local.
Em 2023, conforme a economista e professora da Univates, Fernanda Sindelar, a economia brasileira teve um desempenho melhor do que o inicialmente previsto. A previsão do PIB no início do ano indicava um crescimento inferior a 1%, mas deve fechar o ano acima dos 3%. Segundo a profissional, isso se deve a diversos fatores ao longo do ano. “Em especial, a agropecuária, já que tivemos um excelente resultado na safra no primeiro trimestre, o que ajudou outros setores da economia”, explica.
Conforme Fernanda, outro fator que impactou a retomada de crescimento foram as medidas fiscais e sociais implementadas pelo governo por meio de isenção/redução de alíquotas de impostos e manutenção do pagamento de R$ 600,00 de Bolsa Família. “A retomada da economia também contribuiu para a criação de empregos. Além disso, os preços ao longo do ano foram reduzindo, e desde agosto também observamos uma queda da taxa de juros, os quais embora continuem altos, reduziram 2% ao longo do ano”, complementa.
No entanto, o desempenho da economia regional ficou abaixo do esperado. “A região foi especialmente impactada pelos efeitos climáticos. No início do ano, o setor agrícola sofreu com os efeitos da seca, e no segundo semestre vários episódios de cheias, em diferentes momentos e municípios, impactaram a economia regional devido El Niño intenso”, pondera.
A professora reforça ainda que algumas empresas exportadoras da região também continuaram sentido os impactos da instabilidade mundial. Além disso, a redução das atividades da Cooperativa Languiru impactou especialmente as atividades econômicas de alguns municípios, de maneira direta e indireta devido ao seu efeito multiplicador.
Pontos positivo e negativos
Entre os altos e baixos da economia, é possível apontar alguns pontos positivos e negativos. Entre as marcas boas do ano, Fernanda salienta retomada do crescimento mais consistente da economia brasileira pelo segundo ano consecutivo; a redução dos juros que contribui para a retomada das atividades econômicas, embora ainda estejam altos; e aprovação da Reforma Tributária, que visa simplificar a cobrança de impostos.
Já entre as marcas ruins, salienta que embora o governo tenha ampliado as políticas fiscais e sociais, este fato contribuiu para o distanciamento da meta fiscal e o aumento do déficit primário. “Pode impactar negativamente na estabilidade da economia e afastar investidores internacionais no próximo ano”, considera.
Também salienta os efeitos climáticos potencializados pelo El Niño que impactaram negativamente a economia de diversas regiões especialmente dos estados da região sul.
Ainda comenta que a estagnação do setor industrial também preocupa bastante. “Tende a dificultar o crescimento do país nos próximos anos”, opina.
Por fim, cita que “continuamos com uma grande disparidade de renda no Brasil e o nível de endividamento das famílias é muito elevado, o que pode comprometer o desempenho da economia brasileira”.
Para 2024
A economista destaca que as perspectivas de crescimento para 2024 são menores. “Há maior receio quanto ao risco fiscal (gastos governamentais superiores as receitas), o que pode contribuir para o aumento do endividamento público e distanciamento da meta fiscal, e assim pressionar novamente a taxa de juros”, esclarece.
Por outro lado, ela avalia que se a economia se mantiver estável, considerando que os preços estão mais controlados, há expectativa de que a taxa de juros continue caindo. “Com isso, a economia tende a ser impulsionada pela maior procura por crédito”, considera.
No contexto regional, Fernanda acredita que o desafio para diversos municípios é reconstruir suas infraestruturas e retomar as atividades econômicas depois das perdas de 2023. “As eleições municipais também tendem a influenciar”, acredita.
Quanto aos desafios e oportunidades, pondera que “somos um país com muitas riquezas, mas precisamos melhorar nossa produtividade e retomar um crescimento de forma mais sólida”. Assim, aponta a necessidade de desenvolver políticas públicas e investimentos considerando que os efeitos climáticos também são fundamentais, pois estes estarão cada vez mais presentes. “Além disso, a taxa de juros precisa reduzir mais para facilitar a retomada dos investimentos industriais. E ainda, há a necessidade de melhorar o nível de renda médio da população e reduzir as disparidades sociais”, conclui.