Após avaliação técnica do Ministério de Minas e Energia, o presidente Lula decidiu, na quarta-feira (16/10), não retomar o horário de verão em 2024. De acordo com estudos da pasta, o início do período de chuvas garante que os reservatórios estarão suficientemente abastecidos para a geração de energia nas hidrelétricas, permitindo que o ano termine sem grandes prejuízos no setor.
Durante os últimos 45 dias, especialistas se reuniram dez vezes para discutir o tema. Um relatório da Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS) chegou a estimar que a mudança temporária no fuso horário poderia gerar uma economia de R$ 400 milhões em 2024. O órgão havia recomendado o retorno do horário de verão como uma medida para enfrentar a crise hídrica, já que o Brasil enfrenta a pior seca desde 1950. A mudança poderia ajudar a aliviar a pressão sobre o sistema elétrico.
Entretanto, na quarta-feira, o Governo Federal alegou que o benefício econômico não justificaria a adoção da medida. Na semana anterior, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o horário de verão só seria implementado se fosse “estritamente necessário”. Durante o anúncio oficial, Silveira destacou que “há um início modesto de recuperação das condições hídricas do país, o que nos permite reavaliar a política em 2025”. O horário de verão foi abolido em 2019.
Avaliações
A professora Aline Käfer, coordenadora do curso de Engenharia Elétrica da Univates, explica que os benefícios do horário de verão se baseavam principalmente em dois fatores: o uso da luz natural ao acordar mais cedo e a redução do consumo de eletricidade no período da noite. “Com o avanço das lâmpadas de LED, que consomem apenas 10% da energia de uma incandescente, esse benefício perdeu relevância, já que outros eletrodomésticos são mais significativos no consumo de energia do que a iluminação”, ressalta.
Outro benefício do horário de verão era a redistribuição do pico de consumo. “O hábito do brasileiro de tomar banho ao chegar em casa sobrecarrega o sistema elétrico em um momento em que a geração de energia solar já não contribui para a rede. Como toda a rede brasileira é interconectada, o fato de alguns estados ‘irem para o banho’ uma hora mais tarde ajuda a distribuir o consumo, reduzindo o custo geral”, explica Aline.
Como reduzir o consumo
Em setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) afirmou que as contas de luz devem continuar altas até o fim do ano, com a cobrança de bandeira amarela ou vermelha. Sem o horário de verão e com temperaturas cada vez mais elevadas, forçando o uso de aparelhos como ar-condicionado, é necessário buscar outras formas de economizar energia.
Tomar banho e lavar roupas ao meio-dia, quando a geração de energia fotovoltaica é maior, pode ser uma alternativa eficiente. “A tarifa branca, um desconto oferecido pelas concessionárias para quem evita o consumo noturno, é uma opção interessante”, comenta Aline. “Além disso, tecnologias de refrigeração eficientes e casas com melhor isolamento térmico podem contribuir para uma economia significativa.”
Políticas públicas e impacto na indústria
Em relação às políticas públicas, Aline acredita que incentivos para o consumo fora dos horários de pico, como a tarifa branca, e medidas de conscientização são estratégias viáveis. “Se ligarmos o ar-condicionado à tarde, com a casa fechada, mantendo o ambiente refrigerado, é melhor para a rede do que ativá-lo às 18 horas, quando o consumo é generalizado”, sugere a professora. Ela também destaca a importância de incentivar o uso de energias renováveis, como solar e eólica, que oferecem uma opção mais barata ao consumidor final.
O setor industrial não deverá sofrer grandes impactos, pois as taxas para o consumo no horário de pico continuam elevadas, independentemente do tamanho da empresa. No entanto, é possível que haja uma tendência de turnos mais matutinos em razão das altas temperaturas, especialmente em fábricas sem refrigeração.
“Se ligarmos o ar-condicionado à tarde, com a casa fechada, mantendo o ambiente refrigerado, é melhor para a rede do que ativá-lo às 18h, quando o consumo é generalizado”
Aline Kafer – professora e coordenadora dos cursos de Engenharia Elétrica da Univates