Uma trajetória transformada pela educação

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A formatura em Pedagogia, em 2010, foi um marco na vida da ex-merendeira / Crédito: Júlia Amaral

Poucas pessoas conhecem Angela Maria Rita Azevedo Vargas. Mas, se chamarem pelo apelido de Chica, todos saberão de quem se trata. De empacotadora de mercado, doméstica, costureira em fábrica de calçados e merendeira, hoje ela é reconhecida como professora e se orgulha da trajetória que construiu na área da educação.

Em boa parte dos seus 50 anos de vida, morou na mesma rua, na Fazenda São Paulo, em Paverama. Lá, reside com o marido e a filha mais nova, Maria Eduarda, e o marido Laerte D’Avila. As férias escolares deste ano vieram acompanhadas da incerteza de um novo contrato de trabalho como professora nas escolas municipais da região. Hoje, Chica tem experiência com séries iniciais e educação infantil.

Mas, mesmo antes de ser professora, a rotina escolar já fazia parte da vida da família. Em 1999, ela começou a trabalhar como merendeira, depois de passar em um concurso em Paverama. Foi lá que se apaixonou pelo universo da educação e encontrou apoio para reviver os sonhos.

“Sempre gostei de ajudar as pessoas, e ali eu vi que poderia ajudar muita gente. Tinha crianças que só se alimentavam do que a gente oferecia na escola”, conta. O primeiro educandário em que atuou foi a Reinaldo Markus, que, na época, era menor do que hoje. Além da vontade de ajudar, o espírito de liderança também era um diferencial de Chica que chamava atenção.

Foi a professora Noeli Muller quem percebeu o potencial da colega. “Eu queria fazer as coisas antes das professoras. A Noeli me dizia que, na hora em que eu me tornasse professora, eu veria como funcionava”, brinca. Com o incentivo da amiga, que sempre a encorajou a retomar os estudos, Chica voltou para a sala de aula.

Conclusão do Ensino Médio e graduação

Concluir o ensino básico foi desafiador, mas empolgante. “A Noeli sempre falava que eu tinha que voltar a estudar, mas eu tinha medo de não gostar. Até tinha vontade, mas o medo era maior”, conta. Essa situação durou até o dia em que ela tomou coragem e concluiu o terceiro ano do Ensino Médio. Depois disso, nunca mais parou.

Em 2010, ela se formou em Pedagogia pela Faculdade Castelo Branco. “Eram três aulas presenciais por semana, no Colégio Teutônia. Fomos a primeira turma a se formar”, recorda. A faculdade exigiu disciplina e humildade para pedir ajuda quando não sabia executar alguma tarefa, especialmente as envolvendo informática.

“Quando me formei, dediquei o meu diploma à minha filha mais velha, Isis Vargas. Eu escrevia meus trabalhos à mão e ela digitalizava tudo. Até hoje eu digo que o diploma também é dela”, ressalta. Isis também é mãe de Ana Clara, neta de Chica. Após a graduação, Chica já concluiu duas pós-graduações e um curso voltado para o cuidado com crianças autistas.

Sonhos para o futuro


Junto da filha Maria Eduarda, Chica faz o planejamento das aulas durante o ano letivo / Crédito: Júlia Amaral

Em 2011, Chica pediu exoneração do concurso como merendeira e passou a se dedicar à nova profissão. A primeira escola em que trabalhou como professora foi a Meu Cantinho, em Teutônia, com o incentivo da professora Carla Silva. Entrar em uma sala de aula foi a realização de um sonho.

Apesar dos desafios, é na educação que Chica se encontrou. “A pedagogia é tudo na minha vida. Todo conhecimento deve ser compartilhado”, destaca. Nesses quase 15 anos, ela já trabalhou como conselheira tutelar, na Apae e em outras escolas de Teutônia, além de educandários de Lajeado e Estrela.

O grande objetivo do futuro é conseguir abrir uma clínica ou um Centro de Equoterapia, onde possa trabalhar especificamente com crianças autistas e outras síndromes. Ela já tem um curso focado na área e pretende fazer uma pós-graduação. “As crianças são desafiadoras e eu adoro isso. Aprendo muito com elas. Na minha casa, muitas mães que descobrem que o filho é autista me procuram para conversar. Tudo o que podemos fazer é ajudar a criança, acolher e aprender também”, afirma. Certa de seus planos, Chica segue segura de que o futuro será de mãos dadas com a educação.

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