Com Irã isolado e ONU enfraquecida, Israel avança no Oriente Médio, diz especialista

Mateus Dalmás, da Univates, aponta fragilidade do Irã, silêncio das potências e impasse diplomático diante de um cenário cada vez mais violento

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Crédito: Reprodução/ Revista Relações Internacionais

A recente declaração de cessar-fogo entre Irã e Israel encerrou 12 dias de ataques que, embora breves, acirraram ainda mais a instabilidade no Oriente Médio. Para o professor Mateus Dalmás, docente de História e Relações Internacionais da Univates, a trégua foi marcada por uma guerra de narrativas que expõe o isolamento do Irã e a liberdade estratégica de Israel no atual cenário geopolítico.

Cessar-fogo e a “vitória” iraniana

A leitura do governo iraniano, que classificou o desfecho como uma “grande vitória”, atende mais ao público interno do que à realidade dos fatos, segundo Dalmás. “É uma maneira de o regime dos aiatolás encerrar o conflito sem parecer fragilizado, especialmente após os bombardeios que atingiram o programa nuclear do país”, explica. Ele ressalta que, embora o programa não tenha sido extinto como afirmou Donald Trump, sofreu um duro revés, em um momento em que o Irã já lida com pressões e oposições internas.

Israel isolado, mas fortalecido

Na visão do professor, a conjuntura é especialmente desfavorável para o Irã, que perdeu o apoio de antigos aliados. “A Síria teve a queda de seu governo, a Rússia está envolvida na guerra da Ucrânia, e grupos como Hezbollah, Hamas e Houthis vêm sendo duramente atacados por Israel desde 2023”, observa.

Do outro lado, Israel se aproveita de um momento em que os mecanismos multilaterais — como a ONU e seu Conselho de Segurança — estão profundamente descredibilizados. “Israel está à vontade para se impor no Oriente Médio, com apoio dos EUA e sem qualquer organismo internacional que o contenha”, afirma.

Faixa de Gaza: um genocídio em curso

Questionado sobre os ataques contínuos à Faixa de Gaza, o professor Dalmás não hesita: “É um crime contra a humanidade. A crise humanitária é uma das mais graves do mundo e ainda está longe de terminar”.

Apesar de países como França e Brasil denunciarem publicamente os ataques e levantarem bandeiras como o multilateralismo e o direito internacional, essas vozes não têm, por ora, poder de contenção. “Hoje o que prevalece é a força. Não há ator internacional capaz de impedir as ações de Israel e dos Estados Unidos”, afirma o professor.

A força da sociedade civil como possível saída

Mesmo com um cenário de poucas alternativas, Dalmás aponta uma possibilidade: a mobilização de parcelas da sociedade civil nos próprios EUA e Israel. “Se houver pressão interna suficiente, isso pode influenciar as decisões externas. Tanto Trump quanto Netanyahu enfrentam críticas em seus países”, diz.

Essa movimentação popular poderia fortalecer propostas como as do Brasil e da França em defesa de um sistema multilateral mais efetivo. Mas, segundo ele, essa mudança não será rápida: “No curto prazo, não há cenário possível de rearticulação do multilateralismo. O que impera, por enquanto, é o interesse do Estado sobre a cooperação.”

A guerra como constante nos EUA

Ao final da conversa, uma provocação: em qual momento os Estados Unidos deixaram de se envolver em conflitos? “De forma direta ou indireta, os EUA sempre estão lá. Quando não enviam tropas, contratam mercenários. Isso também é uma forma de guerra, só que invisível na narrativa oficial”, conclui Dalmás.

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