No Bairro Canabarro, o cheiro da terra molhada e o colorido das hortaliças não são apenas sinais de produção agrícola: são símbolos de transformação. Na Horta Comunitária, cada semente plantada carrega histórias de solidariedade, aprendizado e cuidado com o próximo.
Coordenada pela pastora Cristiane Echelmeier, carinhosamente conhecida como pastora Cris, a horta se tornou um espaço de acolhimento e crescimento pessoal. “Quando alguém chega aqui em um momento difícil e encontra esperança entre as plantas, sentimos que estamos plantando mais do que hortaliças: estamos cultivando vidas”, afirma Cris.
O jardim naturalista, coordenado pelo paisagista Anderson Kilpp, preserva espécies nativas e valoriza a flora da região. “Não é um jardim convencional. Ele é permanente, de fácil manutenção e cada planta aqui conta uma história do nosso bioma”, explica a pastora. Entre aulas práticas de paisagismo e mutirões aos sábados e quintas-feiras, o ambiente se transforma em sala de aula, espaço terapêutico e ponto de encontro da comunidade.
As construções de banheiros secos e molhados, acessíveis e sem gênero, só foram possíveis graças à arrecadação do livro “Vale do Taquari, o Vale do Associativismo”, de Ivandro Carlos Rosa e Emílio Rotta. “Todo o valor da venda do livro vai para a horta. Se trata de fortalecer iniciativas que realmente transformam vidas”, ressalta Rosa. O livro pode ser adquirido por R$ 80 através do Pix da Horta: 51984178171 (celular).
Cheirinho de natureza
O aroma de pães coloridos, cucas e focaccias recém-assadas mistura-se ao frescor das verduras. Mulheres produtoras, muitas delas fora do mercado de trabalho, gerenciam a produção com autonomia. Parte é vendida para gerar renda extra; parte é destinada a eventos e ações sociais. “Elas dividem os ganhos, mantendo 10% para a manutenção da horta. Cada gesto aqui fortalece toda a comunidade”, afirma Cris.
A horta também funciona como terapia. Voluntários do Caps e Cras mexem a terra, cuidam de mudas e plantam flores de corte, descobrindo no manejo diário uma oportunidade de reconexão consigo mesmos. “Ir para a horta é bom para a mente, para o corpo, para a alma e para o coração”, reforça a pastora.
Além do cultivo de alimentos, a horta promove sustentabilidade: papelão doado pelo comércio local, desde que sem plástico, é reaproveitado no manejo do solo. Novos projetos, como flores comestíveis, chás e artesanatos se somam às atividades educativas e terapêuticas.
Impacto além do bairro
No dia 14 de outubro, a Horta Comunitária foi convidada pela Sicredi Ouro Branco RS/MG para preparar o almoço e o lanche de 800 crianças. O cardápio inclui cachorro-quente e sanduíches de cacetinho, margarina, presunto e queijo para a tarde, mostrando que o trabalho da horta também alcança eventos de grande escala, beneficiando toda a comunidade.
Para além disso, o grupo ainda promove cursos, como o de Paisagismo, realizado em agosto, recebe alunos dos cursos técnicos do Colégio Teutônia e realiza eventos de arrecadação.
A pastora Cris convida: “Qualquer pessoa pode vir às quintas-feiras ou aos sábados de manhã. Temos mutirões, brechó, produção artesanal e oficinas. É um espaço para aprender, colaborar e se conectar com a natureza”. Encomendas de produtos podem ser feitas via grupo de WhatsApp às quintas-feiras, com informações disponíveis no Instagram da horta.
Na Horta Comunitária de Canabarro, cada folha, cada flor e cada mão que trabalha a terra é um lembrete de que transformar vidas é possível quando se cultiva cuidado, solidariedade e esperança.