A missão mais difícil para um pai seja, talvez, dar condições para que os filhos sigam seus caminhos da melhor forma e encontrem seu lugar no mundo. Quando se percebe que tudo deu certo, o orgulho é inevitável. E ele é ainda maior quando o pai percebe que foi a inspiração do filho.
Pedro Hugart Sant’Ana (50), mais conhecido como sargento Sant’Ana, vive essa sensação com o filho David Henrique Souza Sant’Ana (24). Há quase 30 anos servindo à Brigada Militar em Teutônia, o sargento vê seu filho ingressar na corporação.
O auge dessa realização ocorreu nesta quinta-feira (18/11), quando foi realizada a formatura dos novos soldados da BM. Entre os formandos estava David, que passa a ser o soldado Sant’Ana. Na plateia, o pai orgulhoso pôde colocar a cobertura, como é chamada a boina, no filho.
O sargento conta que foi um momento de muita emoção. “Ver todo esse empenho dele, o esforço, a dedicação, tudo isso vem agregando para a vida dele. Ele disse que nesses meses de curso aprendeu muito e vai levar para a vida dele”, declara. A sensação é ímpar. “Não dá para descrever tudo que a gente sente, é gratificante demais”, destaca o pai orgulhoso.
Para o soldado, o momento também foi emocionante e representou um alívio. “Não teve como conter o choro, um misto de alegria e dever cumprido”, reforça. Ele conta que foram meses muito puxados, sua primeira experiência fora de casa, morando em um alojamento.
O pai deseja que o filho possa dar continuidade. “Que ele almeje algo maior, busque crescer na profissão, é o que se busca. Em qualquer profissão, se ele não quiser seguir na carreira militar, quiser seguir em outra área, independente da escolha, ele pode contar comigo sempre, esterei sempre apoiando do que ele precisar”, pontua.
Pai e filho não devem, no entanto, atuar no mesmo batalhão. David deve ser encaminhado ara outra cidade, conforme distribuição a ser feita pelo Comando da Brigada Militar, considerando as necessidades dos municípios gaúchos.
O exemplo dentro de casa
Obviamente, que a ideia de ingressar na BM surgiu na vida de David vendo o exemplo do pai. “Eu admirava muito. E como sou formado em Direito, via como uma porta de entrada para a carreira militar e almejar uma coisa maior no futuro”, conta. Todo processo iniciou em 2017, quando ele prestou o concurso e foi aprovado. O curso em si, foi iniciado em março deste ano.
Para o pai é motivo de orgulho e satisfação saber que o filho se espelha nele para seguir os seus passos. “Como pai, independente da profissão, sempre temos que procurar fazer o melhor e encaminhar eles para um caminho justo e correto, sabendo que sempre devemos respeitar para sermos respeitados”, reforça.
Agora oficialmente soldado, David afirma que pretende seguir honrando tudo que o pai já fez pela instituição e pela comunidade. “Se eu for 50% do que ele é, eu já vou ser um excelente profissional. Vou entregar tudo que tiver ao meu alcance para fazer um bom trabalho pela comunidade e ajudar as pessoas”, declara.
Dever cumprido
O sargente salienta que na profissão se aprende muito, não só na sala de aula mas, principalmente, na linha da frente, na rua, na lida com o cidadão. Este ensinamento, no entanto, nem sempre é fácil, às vezes é doloroso.
E o sofrimento da profissão, o sargento conhece de perto. Em 2001, durante um assalto a um banco no Bairro Canabarro, foi alvejado com nove tiros, ficando entre a vida e a morte. “Isso causou um sofrimento, inclusive para ele, que na época tinha quatro anos. Isso trouxe um aprendizado muito grande”, comenta. O que poderia ter sido um episódio desmotivador, para o sargento foi o contrário. “Motivou a continuar e mostrar que vale a pena. Quando gostamos do que fazemos, vale a pena”, reforça.
Após tudo que passou, e vendo a inspiração que causou no filho, o sentimento é de dever cumprido. “O planejamos para ele, que foi dar estudo, dar condições para ele, ele seguiu corretamente, nunca nos deixou envergonhado, as atitudes dele sempre foram motivos de orgulho”, conclui.