Novo decreto estadual pode impedir venda no sistema “encomende, pague e leve”

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Um decreto emitido pelo governador Eduardo Leite na noite desta sexta-feira (03/04), pode impedir comerciantes de atuarem no sistema take away, ou seja, o cliente encomenda por meios digitais ou telefone e retira o produto na porta da loja, sem aglomerações.

Isso porque o texto diz o seguinte “compreende-se por “take-away”, para os fins do disposto no inciso II do § 2º deste artigo, exclusivamente a atividade de retirada de produtos de alimentação, saúde e higiene, adquiridos previamente, por meio eletrônico ou telefone, com hora marcada, vedado o ingresso de qualquer cliente no estabelecimento comercial, bem como a formação de filas ou qualquer tipo de aglomeração de pessoas”.

Assim, o serviço poderia ser efetuado apenas pelos serviços que já são considerados essenciais e que podem estar abertos. As tele-entregas, a princípio, estão mantidas.

A mudança deixa apreensivos os empresários e as entidades representativas do setor. O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) Teutônia, Airton Kist, diz que a situação passa “um cenário quase de amadorismo”. “Empresas são barcos pesados, não pode mudar uma regra de manhã, depois de tarde, e de noite. A população mostra insatisfação com a falta de alinhamento entre posição e atitude”, opina.

Kist lembra ainda que no início da semana o governador havia se posicionado pela retomada gradual das atividades, e depois teria voltado atrás e emitido um decreto fechando o comércio até dia 15 de abril.

Porém, junto com o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus e com o Executivo, a entidade começou a fazer a interpretação do decreto, e viu-se que o sistema take away era uma boa opção para evitar as aglomerações e, ao mesmo tempo, permitir que os comerciantes continuassem suas vendas, se adaptando ao novo cenário, podendo manter sua arrecadação e também proporcionando à população a possibilidade comprar itens que necessitem. “Fizemos a leitura, adaptamos nosso comércio a isso, orientamos a isso para podermos de forma organizada e inovadora liberar o nosso comércio, sem aglomeração. O comércio de Teutônia é organizado, poderíamos fazer sem problemas”, avalia.

Sobre a possibilidade de continuar com o sistema ou a necessidade de parar, ele diz que ainda difícil dizer o que fazer. “Imagina o empresário, mobilizou, se organizou para isso, na madrugada, sem poder fazer nada, vem uma ordem diferente. A gente sabe da situação, do momento, mas não pode mudar a lei a cada dia. Difícil orientar se não tem base para essa orientação”, desabafa.

A indignação maior é pelo fato de a entidade ter trabalhado durante dois dias na interpretação e orientação dos comerciantes para adotarem o sistema, além da preparação dos próprios empresários para a retomada. “Por que ele não emitiu esse esclarecimento antes? Por que esperou dois dias? Para liberar em um sexta-feira à noite”, contesta.

Segundo Kist, a entidade precisará novamente se reunir para avaliar a situação. “Nesse momento não tem uma orientação clara para cada negócio”, lamenta.

Comércio prejudicado

O presidente da CIC Airton Kist avalia que o decreto trouxe alguns ganhos, como a liberação da área de serviços, como por exemplo, de salões de beleza.”Porque entendeu-se que eram cuidados de higiene pessoal”, destaca. A indústria também poderá retomar suas atividades com os devidos cuidados.

Porém, vê que o setor que está sendo prejudicado é o comércio. “Questão efetiva do comércio me pego de mãos e pernas amarradas, é o sentimento de todas as empresas do RS, o que pode ou não”, aponta.

Kist reforça que o comércio de Teutônia não é como o das grandes cidades. Que a maioria são pequenos comércios e que não geram aglomerações. “Nunca entendemos, e com a orientação dos órgãos de saúde, que a relação comercial fosse problema, o problema é a aglomeração de pessoas. Vale o bom senso, não pode perder bom senso e equilíbrio”, pontua.

Ele avalia ainda que se tem “um decreto para orientar, mas que não orienta”. E diz que o momento é das entidades “aumentarem o tom em defesa da classe, cobrar a coerência na hora de dizer o que fazer”.

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