Taxista de Teutônia atua na região há 11 anos

Núbia Helena Müller trabalha com o transporte de passageiros no município desde 2011

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Núbia Helena Müller trabalha com o transporte de passageiros no município desde 2011 / Crédito: Divulgação

Se você é de Teutônia provavelmente já andou com ela ou ouviu falar do Táxi da Núbia. A motorista está em atividade no município desde 2011. Aos 58 anos, hoje tem uma funcionária e trabalha com horário reduzido.

A história com o transporte de passageiros iniciou por influência do seu ex-marido. Núbia, na época, trabalhava na Certel. Com a redução de carga horária na cooperativa, trabalhava também de motorista à tarde. “Eu não tenho arrogância em dizer que fui escolhida para ser motorista, que é o meu talento ou qualquer coisa do tipo. Eu não escolhi ser motorista. Mas me apaixonei pela profissão. Sou apaixonada por pessoas e o táxi proporciona isso”, afirma.

Após se aposentar do trabalho com carteira assinada, se dedicou inteiramente à atividade de taxista. Em 2013 assumiu o seu próprio ponto de táxi, em frente ao Supermercado Languiru, do Bairro Languiru. Nove anos após o início, o ponto segue no mesmo local. “Eu mandei adesivar, fiz um layout como eu queria; com flores amarelas. As crianças dizem ‘eu quero andar nesse carro’. As mulheres e o público idoso também têm preferência por mim. Tenho clientes muito fiéis ao meu trabalho”, conta.

Nos quase dez anos em que trabalhou sozinha, Núbia detalha que muitas vezes não sobrava tempo para cuidados pessoais. “Era de manhã, de tarde e de noite e vários dias entrava também na madrugada. Eu deitava para dormir um pouquinho com a roupa que vestiria para trabalhar, pois não teria tempo para trocas. O celular ficava sempre próximo dos ouvidos para não perder nenhuma ligação”, revela.

A decisão em ter uma funcionária e reduzir horas foi pensada para ganhar mais qualidade de vida. Núbia explica que a pandemia mostrou a necessidade de aproveitar de forma saudável cada dia. “Eu trabalhei por muito tempo sem deixar de atender ninguém. Me colocava como disponível 24 horas. Eu não tinha mais tempo para fazer consultas médicas, ir em uma loja fazer compras ou no salão de beleza. No início da pandemia teve toque de recolher e eu fiquei alguns dias em casa. Na minha casa, sossegada, enxerguei coisas que eu nem sabia que tinha. Percebi que eu construí o meu império mas não estava usufruindo dele”, demonstra.

Hoje a funcionária trabalha das 7h até as 17h e Núbia assume até as 19h30. A motorista conta que o atual horário proporciona uma vida tranquila. “Eu durmo de manhã, faço o meu almoço e voltei a fazer crochê, que é algo que eu gosto muito e fiquei quase dez anos sem exercer”, especifica.

Mulher no volante perigo constante?
Em sua história na profissão, Núbia comemora nunca ter sofrido discriminação por ser mulher taxista. “Eu acredito muito na índole das pessoas e, por ser assim, acho que passo confiança no que faço. É claro que a gente pode cometer erros, mas eu trabalho com o máximo de atenção e respeito possível para garantir uma viagem segura e agradável”, destaca.

Sexo frágil não foge à luta
Apesar de não sofrer discriminação, a taxista ressalta que a profissão não é “para qualquer um”. Conforme Núbia, para trabalhar na noite é necessário saber “falar” com todos os públicos. “Passei por duas situações muito graves, em que poderia ter morrido. Uma delas, um cliente, usuário de drogas, tentou levar o meu táxi e colocou uma faca no meu pescoço. Em algum segundo ele voltou para a realidade e desistiu. Na outra situação, um homem pediu uma corrida para Paverama. Ele disse que me guiaria. Em vez de irmos pelo caminho comum, por dentro da cidade, ele indicou rotas pelo interior. Quando eu vi, estávamos totalmente em outro destino. Ele pediu para parar em uma casa e logo voltaria. Quando ele desceu, eu percebi que estava em algum golpe. Deixei ele lá e retornei para Teutônia sozinha. Fiz boletim de ocorrência nessa última situação”, desenvolve.

Sexto sentido maior que a razão
De acordo com Núbia, é preciso, também, ter sensibilidade para perceber quem é o cliente que está entrando no veículo. Para a taxista, ser mulher é um diferencial nesse aspecto. “A gente precisa se adequar a pessoa. Se é uma criança, eu canto uma musiquinha, faço perguntas bobas, por exemplo. Se eu percebo que a pessoa pode falar alemão, eu tento falar em alemão com ela. Se talvez é uma pessoa mau intencionada, preciso mudar minha linguagem, entrar no universo dela. Acho que nós, mulheres, temos mais esse tato”, alega.

Dois lados
Além do perigo da noite, Núbia indica outras dificuldades da profissão. Segundo a motorista, conciliar horários e dívidas são pontos complicados de gerir. “Com frequência, várias pessoas ligam em uma proximidade de horário e querem ir para locais bem distantes um do outro. Eu tento abraçar todo mundo, mas nem sempre é viável. O que acontece muito, também, é fazer a corrida e quando chegamos no destino a pessoa informa que não tem dinheiro”, expõe.

Já a satisfação do ofício passa pelo relacionamento com os clientes. Para Núbia, poder trocar vivências é o que a manteve na profissão. “Não é um serviço monótono. É uma diversificação de pessoas. Escuto histórias diariamente. Pessoas riem e choram comigo. A gente escuta, a gente dá conselho, a gente é aconselhada. Eu tenho necessidade de conversar com pessoas. É isso o que me faz querer continuar”, ressalta.

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