Dentro de um a dois meses nós sairemos deste problema”, diz Dirceu Bayer

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FOTO: Dirceu Bayer (d) e César Wilsmann participaram do Comunidade Alerta no sábado (4/3) / Crédito: Lucas Leandro Brune

Após o vazamento de documentos, temas ligados a situação financeira e econômica da Cooperativa Languiru ganharam espaço na mídia. Na comunidade, muito temor e apreensão quanto ao futuro da empresa que tem grande impacto econômico e social no Vale do Taquari.

No sábado (4/3), o presidente da Cooperativa, Dirceu Bayer, e o vice-presidente, César Wilsmann, participaram do programa Comunidade Alerta, da Rádio Popular. Na oportunidade, respondeu as perguntas de jornalistas do Grupo Popular e as enviadas pela comunidade. A intenção foi esclarecer a grande quantidade de informações que circulam entre a população e apresentar a versão da cooperativa a respeito dos fatos. Confira as perguntas e respostas:

Entrevista com Dirceu Bayer e César Wilsmann

Grupo Popular: Qual é o tamanho real da dívida da cooperativa – somando bancos, fornecedores e outros em atraso? Por que chegou neste ponto? Esta dívida é pagável no atual cenário? O que é preciso fazer para pagar?

Dirceu Bayer: Esta posição é do dia 20 de novembro [2022], a dívida líquida em torno de R$ 723 milhões. Logicamente, se atualizarmos para hoje, com todos nossos credores, ela deve chegar a R$ 1 bilhão. A dívida em bancos é de cerca de R$ 800 milhões. Nosso faturamento chega a R$ 2,74 bilhões neste exercício de 2022. Então é uma dívida totalmente pagável enquadrado dentro dos índices normais, quando você relaciona dívida com faturamento. O nosso problema é o fluxo de caixa neste momento. Porque fizemos um programa de reestruturação, em que nos encolhemos pela metade na produção de suínos e aves. Isso, em um primeiro momento, gera menos entrada de recursos com caixa. Do outro lado, melhora nosso resultado contábil. Se não fizéssemos isso o prejuízo seria enorme, o que aconteceu no ano passado inevitavelmente aconteceria agora.

Grupo Popular: Qual a expectativa do resultado mensal daqui para frente?

Dirceu Bayer: A tendência, neste ano, é de termos resultados operacionais positivos. Porque nos encolhemos com o que vem dando prejuízo. Para cada quilo de suíno, são R$ 3,00 de prejuízo. Não é uma peculiaridade da Languiru, todas as inseridas nos setores das carnes tem esse problema. O que se pretende com esse programa é reduzir o prejuízo e melhor nosso resultado operacional.

Quem tem a receber, espere um pouquinho, logo teremos resultado daquilo que está em andamento. Com a negociação bancária, não vamos precisar pagar banco, quando isso acontecer poderemos pagar nossos fornecedores/credores de todas as áreas. Peço paciência até, mais tardar, segunda quinzena de abril. É o período que precisamos para tentar vender um dos imóveis.

Grupo Popular: O presidente anunciou uma economia estimada, com esta reestruturação, de R$ 56 milhões mensais, uma redução de prejuízo. A partir de que momento essa redução será sentida nas contas?

Dirceu Bayer: Já estamos sentindo o reflexo desta reestruturação. Mas como o ciclo de suínos é muito longo, ele está acontecendo gradativamente, a cada mês que passa. Se você economiza R$ 56 milhões naquele momento, isso vai refletir. No momento que tira prejuízo daquilo que está causando problema, você economiza uma série de fatores. Estamos nos encolhendo pela metade. O auge do problema é agora, a dificuldade de manter nossos credores em dia é neste momento. Dentro de um a dois meses nós sairemos deste problema, e volta a ter fluxo de caixa. Aconteceu uma reunião com os principais credores da Languiru, os bancos, e houve uma sinalização de ajuda muito grande por parte dos agentes financeiros. Nossa ideia é uma carência de três anos, mais sete anos para o pagamento principal, isso está muito bem encaminhado. A decisão final deve sair na semana. Haverá uma segunda reunião coletiva, coordenada por especialistas desse segmento. Já temos manifestação de bancos que concretamente aderiram ao nosso pedido.

Grupo Popular: A Languiru fala em venda de ativos. Prédios de supermercados já foram vendidos. Quais os imóveis que foram vendidos? Qual o valor de mercado e qual o valor da venda? Quem é o comprador(es)? Há em contrato a previsão de recompra por parte da Languiru? Há preço de recompra estipulado?

César Wilsmann: Foram vendidos somente os prédios de duas unidades de supermercados, o de Arroio do Meio e o de Canabarro. Estes dois prédios entram no modelo de locação como vem sendo feito com o do Alesgut e o outro de Canabarro.

Dirceu Bayer: Continua a mesma coisa para o associado poder comprar seus produtos. Única diferença é que a partir de agora pagamos aluguel. O prédio não é nosso, mas o serviço e atendimento continua igual. É contratual, fizemos essa negociação com a empresa Fasa, de Cruzeiro do Sul. No contrato consta a recompra no valor de R$ 30 milhões para os dois supermercados.

Grupo Popular: Fala-se em um prejuízo acumulado, de dois anos, de R$ 274 milhões em aves e suínos. Foram dois anos em que a cooperativa absorveu esse prejuízo e ele não foi sentido pelos fornecedores, transportadores e produtores. Por 21 meses a cooperativa segurou, mas agora não conseguiu segurar. Nestes dois, três meses, como as pontas podem ajudar a Languiru?

Dirceu Bayer: Na verdade, o prejuízo de suínos e aves, somado nos últimos dois anos, chega a R$ 400 milhões. O problema aconteceu porque estamos no princípio de agregar valor a matéria-prima. E esse modelo não serve mais, porque não existe valorização para quem faz esse tipo de trabalho. A Languiru precisa mudar completamente o seu modelo. Isso que estamos fazendo agora. A ideia de querer diversificar aves, suínos e leite, nos últimos anos os três setores trouxeram prejuízos. Diferente de outras empresas que estão em um só segmento, estamos nos três trazendo prejuízo e não há expectativa de melhora. Vamos solucionar o problema. A Languiru tem ativos, é a única do estado que possui cinco indústrias, mas a fábrica de rações. Temos que tirar o peso das proteínas animais, para apostar mais no milho, soja e trigo que dão resultado. Por isso investimos no Porto de Estrela.

Grupo Popular: Fala-se em vender os frigoríficos. Isso é verdade? As plantas seguem operando normalmente?

Dirceu Bayer: Até o momento as plantas operam normalmente. Estamos procurando parcerias. Nessa semana nos deslocamo a uma grande cooperativa e estamos aguardando a continuidade das negociações. A ideia é a Languiru não sair do negócio, mas compartilhar. Uma forma que você consiga ainda fazer parte do ciclo de produção, e dali para frente, o que é mais pesado, que exige consumo, a outra empresa assume e isso implica na venda eventual de um frigorífico de suínos. Esse é o mais próximo e o que mais está dando prejuízo.

Grupo Popular: O presidente anunciou parceria com a Lactalis. Fala-se que a Languiru canaliza grande parte de sua produção para a Lactalis. Comenta-se que a Lactalis pagou adiantado determinado número de meses referente à entrega da produção. Procede?

Dirceu Bayer: Sim, tudo isso é verdade. No momento que você tem dificuldade de caixa, tem que apelar para aquelas que realmente alcançam recursos. Foi o que aconteceu. Apenas tranferimos parte da nossa produção, denominada venda de leite spot, leite in natura. Estamos com contrato de três anos, mas apenas envolve a transferência de parte do leite spot, porque o negócio tem sido muito melhor do que do nosso leite longa vida. Em contrapartida, estamos contratando venda de rações para todos produtores da Lactalis, e abrimos nossos supermercados para a compra de gêneros alimentícios para funcionários da Lactalis. Também compra de insumos, adubos, sementes. Temos um resultado disso enorme.

Grupo Popular: Funcionários estão com salários em dias?

Dirceu Bayer: Estão, rigorosamente em dia.

Grupo Popular: E os associados?

Dirceu Bayer: Sim. Somos transparentes, verdadeiros. Tem alguns que, por ocasião da entrega de milho, tem alguns atrasos em produtores. Infelizmente, por absoluta incapacidade de atendê-los, mas estamos os convidando para reparcelar. Tem associados que entregaram sua produção e neste momento temos dificuldade de colocar em dia.

Grupo Popular: Existe um grupo de trabalho de gestão da crise?

Dirceu Bayer: Existe esse grupo. Inclusive os transportadores, com quem também temos atrasos, foram reunidos, colocamos toda a situação, e garantimos que, embora o atraso, não vamos deixar de honrar. Mas nesse período crítico, março e abril, teremos dificuldade. Queremos pedir desculpas a nossos produtores que eventualmente estejam nisso, mas nos procurem pessoalmente para resolver. Vamos fazer uma reunião nessa semana, com todos os associados, diante desse tumulto que aconteceu é necessário fazer isso.

Grupo Popular: Já tem algum resultado operacional de fevereiro? Ou dá para balizar no resultado de janeiro?

Dirceu Bayer: Apesar do encolhimento, ainda estamos tendo prejuízo em janeiro. Em fevereiro, provavelmente, também teremos prejuízo. A reversão disso poderá acontecer, de repente, no momento que fizermos uma parceria. Isso melhora muito o resultado da cooperativa. Por exemplo, o frigorífico de suínos tem valor histórico de R$ 87 milhões, o valor registrado na contabilidade de R$ 82 milhões. Ele vale, no mínimo, de R$ 250 milhões a R$ 400 milhões, está sendo reavaliado. Essa diferença [entre os R$ 82 milhões e até R$ 250 milhões] vai gerar resultado, melhorar liquidez e índices. A partir deste momento teremos resultado consistente. No frigorífico de aves, o valor histórico é R$ 106 milhões e ele vale R$ 400 milhões.

Outra dificuldade que existe é o custo financeiro. Um custo financeiro onde a Selic está 14%, o impacto que causa do endividamento. A solução é podermos fazer essas parcerias, com resultado amortizar as operações para termos menos custo financeiro. E ao mesmo tempo termos alongamento do nosso endividamento.

Grupo Popular: Se o cenário estava ruim por que a Languiru continuou anunciando investimentos, resultados positivos e não tomou uma atitude antes? Por que os investimentos no Porto de Estrela?

Dirceu Bayer: No ano passado fizemos investimentos nas indústrias para poder ter alternativa de produtos novos e rever ter quadro de prejuízo. Isso funcionou muito bem. Vestimos os frigoríficos para torná-los atraentes. Nossas indústrias são iguais as de primeiro mundo, isso atrai. Por isso temos quatro grandes players e agenda conosco interessados na compra. Foram cerca de R$ 80 milhões (investidos). A mesma explicação se refere ao frigorífico de bois. É difícil entender, mas se não tivéssemos feito isso, a situação teria sido ainda pior.

[Investimos no Porto de Estrela] porque queremos sair da proteína animal que não tem futuro. Queremos estar nos setores que dão resultado operacional. 90% das cooperativas do estado estão nas commodities, e nós estamos na transformação pagando alto pelas commodities. Compramos o Porto com carência de quatro anos, e cinco para pagar o principal. Neste meio tempo ele se paga.

Grupo Popular: O negócio do Supermercado do Shopping, do Agrocenter de Rio Pardo, se fosse feito hoje, seria feito? Qual o resultado?

Dirceu Bayer: Sim. O mercado hoje ainda dá um certo prejuízo, mas é pequeno. Mas temos lá a farmácia e o setor de insumo e máquinas, se analisar o todo dá resultado. Com a reforma que fizeram lá, do acesso, do asfalto para acessar, vai nos ajudar. Isso nos prejudicou neste momento, o tumulto de obras.

Rio Pardo faríamos de novo, porque nosso grande problema é o milho. E Rio Pardo e Venâncio Aires respondem por 35% da produção de milho que recebemos nesta safra. É outra realidade. O Agrocenter é um setor que nos dá muito resultado. Os negócios da Languiru são 70% carnes, que dá prejuízo, e 30% outros negócios que sempre dão resultado. Queremos nos encolher no que dá prejuízo, para atividades como Supermecado e Agrocenter [aumentarem]. Supermercados, postos de gasolina, farmácias, são os 30% que nos dão segurança de resultado, mas ficam mascarados porque não é suficiente para equilibrar a situação ruim das carnes.

Grupo Popular: Os diretores Fabiano Leonhardt e Euclides Andrade saíram da cooperativa. Eles foram demitidos ou pediram a saída? Quais os motivos? Os salários de presidente e vice-presidente estão em plano de redução?

Dirceu Bayer: A decisão dos superintendentes foi deles. Quisemos entender os motivos, e não houve justificativa plausível. Tomaram decisão de repente, nos surpreendemos também. Motivo real não sabemos, porque a justificativa não nos convence. Deve ter razões maiores. Quanto aos salários, é uma decisão que temos que tomar na assembleia, dia 30. Se o associado entender que temos que reduzir nosso salário, nós vamos atender.

Grupo Popular: Caso a crise não tenha solução, aconteça o pior, o patrimônio do associado está em risco?

Dirceu Bayer: Não está, de forma alguma. Nosso patrimônio supera, em muito, a dívida líquida. E um patrimônio que está valorizado. Não tem como quebrar a Languiru. Precisa sim um alongamento da dívida, que está encaminhado, e a busca de um parceiro que possa nos ajudar. E com esse parceiro podemos negociar a participação da Languiru, e não precisa vender tudo. E se nos desfizermos do frigorífico, continuamos produzindo leitão, as matrizes, tudo continua. Não é uma saída brusca.

Grupo Popular: Qual é o patrimônio líquido da Languiru?

Dirceu Bayer: O patrimônio líquido é de R$ 162 milhões. Patrimônio líquido quer dizer que se pagarmos tudo que devemos, e recebermos tudo que temos, a sobra será de R$ 162 milhões. Na Assembleia que vamos fazer, diante deste prejuízo, ele vai encolher.

Grupo Popular: Algumas lideranças têm falado de mudanças na gestão da cooperativa. Como o senhor recebeu esse tipo de comentário?

Dirceu Bayer: Não me atinge mais. Não estamos isolados como disseram. Temos nosso Conselho que dá total apoio, temos nosso bom associado. O que tenho certeza, é que se respaldam em inverdades.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Levaram anos para lentamentem produzirem esse rombo, fazendo financiamentos para expandir desmedidamente e como a economia retraiu o retorno aos investimentos feitos não veio. E vem agora dizer que em dois meses vão reverter. Sinceramente, tá mais para: em dois meses vamos pedir falência. Sinto pelos cooperados que não tem real poder de decisão e vão acabar pagando a conta.

  2. Dirceu Bayer meu colega de faculdade UFSM, vai firme colega que a vitória está logo ali adiante, boa sorte!

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