“Do coração à razão: por uma Educação Inovadora” foi a temática central do 3º Congresso Internacional de Educação, realizado pelo Colégio Teutônia nesta quinta e sexta-feira (8 e 9/2), em Teutônia. Muitas foram as provocações realizadas pelos palestrantes e debatedores do evento à plateia de mais de 400 pessoas. Várias temáticas estiveram em pauta e todas desafiaram os educadores a repensar seu modo de fazer.
O diretor Mauro Alberto Nüske destacou que “o evento teve o propósito de compartilhar conhecimentos para potencializar o trabalho de cada um na sua missão de educar crianças, jovens e adultos em um contexto no qual a inovação tem um espaço a ocupar. Mas sem esquecer que, independente de qualquer tecnologia, o professor é o principal elo desse processo e é insubstituível, apesar de termos muito para evoluir”.
O palestrante e professor especialista em educação inovadora, José Motta, destacou que a máquina ainda não consegue amar como humanos e por isso não poderá substituir o professor. No entanto, há condições do mesmo ser substituído por um robô no momento em que ele não usa este diferencial a favor da educação. “Chega de aula dada. É compromisso nosso modificar os seres humanos, tornando-os melhores do que antes. A tecnologia serve para educar o ser humano para hoje e o futuro, e os professores precisam impulsionar isso para o que é bom e útil”, sugeriu.
A participação do doutor António Nóvoa, vindo de Portugal, foi uma das principais atrações do congresso. Entre as dicas do pesquisador, “o aluno precisa trabalhar”, no sentido de ler, pesquisar, conversar, questionar, colocar a mão na massa, produzir e criar. Explicou que a mudança e as transformações nas escolas passam pelas atividades propostas e a própria formatação dos espaços, criticando o modelo tradicional de colocar os alunos o tempo todo em fileiras. Enfatizou que “a educação tem um grande poder transformador, mas só uma escola transformada é que pode ser transformadora”.
Telas e tecnologia
Uma vertente muito forte dentro da programação foi o debate sobre as tecnologias e o uso das telas. Nóvoa recomendou bom senso diante da discussão, que considera central na vida das pessoas. “Recusar tecnologias é um absurdo, assim como pensar que tecnologias substituem os professores, as escolas e a educação. Precisamos ‘mergulhar’ entre esses dois absurdos”, defendeu.
A mesa redonda sobre o livro “Fábrica de cretinos digitais” ampliou o debate. A professora Daniela Ritter destaca o dado de que, pela primeira vez na história, os filhos têm QI inferior aos pais: “Isso traz inquietude. Não sou contra a tecnologia, mas sim do uso abusivo de telas. Entre outros dados, o autor expõe que apenas 3% das horas de uso de telas é para o conhecimento e os outros 97% são para situações recreativas. Isso é extremamente preocupante, pois o uso excessivo traz impactos que podem ser irreversíveis”, frisou.
A fonoaudióloga Vanessa Spolavori acrescentou que também credita ao uso abusivo das telas algumas dificuldades para o desenvolvimento da linguagem das crianças. “Há dados impactantes quanto ao desenvolvimento cognitivo e social pela baixa interação das crianças já em casa, com a família. A interação humana é imprescindível para o desenvolvimento da linguagem, explicou.
Andrea Wallauer, coordenadora geral no CT e do evento, mediou o debate e ressaltou que a educação precisa ser um momento de encontro entre pessoas. “O Congresso trouxe esta proposta, desejando que os professores saiam melhores do que chegaram”, expressou.
Mediação de conflitos – o que a neurociência tem a ver com isso?
Guilherme Nogueira, doutor em Neurociência do Envelhecimento, professor de Neurociência do Comportamento e da Aprendizagem, e Dra. Valéria Figueiró Santoro, mediadora Judicial e Extrajudicial do TJRS, abordaram este tema.
“Mecanismos de gestão de conflito e mediação dentro das escolas podem auxiliar bastante. Ter a quem recorrer é muito importante no ambiente escolar”, defendeu Valéria, recomendando uma comunicação cuidadosa e clara, para construir pontes e relações.
Nogueira afirmou que a ciência orienta e o afeto transforma: “Toda vez que nos preocupamos em formar bons vínculos afetivos, abrimos janelas para o mundo.” Ressaltou que somos muito influenciados pelo cunho emocional e o ambiente na tomada de decisões: “Se não conseguimos gerir nossas frustrações e a capacidade de percebermos os próprios sentimentos, temos dificuldades em organizar a tomada de decisões. Mediar conflitos envolve auxílio na tomada de decisões”.
Ouvir faz bem
“Eu descobri em tempo que o sentido da minha profissão e da minha vida é ouvir. Ouvir histórias salvou a minha vida, ouvir faz bem.” Com essa frase o jornalista Luciano Potter encerrou sua palestra: “Porque ouvir histórias vai salvar sua vida”.
A conversa esteve centrada no ambiente familiar, nas vivências com os filhos Federico e Santiago e na evolução da indústria do entretenimento. “Ouvir é um problema da humanidade, e ouvimos desde a barriga da mamãe. Ouvir faz parte da vida, e nesse contexto podemos mencionar a música, o cinema e os games, o quanto evoluíram ao longo das décadas. Antes lidávamos com a escassez, como as locadoras de fitas VHS; hoje estamos em tempos de abundância, como as assinaturas de plataformas de streamings, e não sabemos o que assistir. A tecnologia tem limites, ninguém vive sem conexões humanas, as amizades combatem a depressão, ajudam na saúde em geral. Para sermos amigos, precisamos ouvir, e os melhores amigos são os que nos ouvem”, ponderou.
Eliminar excessos
A educadora e socióloga Lourdes Atié falou sobre o excesso de informações, atividades e exposição à tecnologia. “A maldição do whatsapp nos fez trabalhar o tempo todo. Precisamos viver o tempo em que o menos vale mais. As crianças precisam de mais tempo para aprender, mais calma, mais encontros, mais afetividade”, exemplificou.
Alertou para a cultura de “resolver” tudo com remédio. “Não é por acaso que no Brasil temos uma farmácia em cada esquina”, expressou, comparando com uma realidade totalmente diferente em Barcelona.
Inovar e atrair a atenção
A palestra “O Futuro das Gerações”, do pesquisador e doutor em comunicação, Dado Schneider, encerrou o congresso demonstrando na prática o quanto é preciso inovar e buscar estratégias para atrair a atenção do público. A primeira parte da palestra foi muda e com uso de música, como forma de estimular ao máximo a concentração dos educadores, Durante todas suas falas sobre o comportamento das diferentes gerações, foi utilizando mecanismos de alerta para fazer contato visual com o público e impactar o máximo de pessoas.