Comunidade anseia a volta dos desfiles cívicos em Teutônia

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Crédito: Arquivo pessoal

Os desfiles cívicos com a participação das bandas marciais se encerraram em 2017 em Teutônia. Com saudade destes momentos, a comunidade espera pela retomada, assim como ex-integrantes e professores. O Grupo Popular levantou o tema com quatro entrevistas ao longo da Semana da Pátria para provocar a reflexão sobre a importância das bandas e dos desfiles. O compilado de histórias está nesta edição da Folha Popular.

Cada um dos três primeiros bairros de Teutônia tinha sua própria apresentação de 7 de setembro. Estudantes e professores relembram dos desfiles da Escola Estadual Reynaldo Affonso Augustin (Bairro Canabarro), da Escola Estadual Gomes Freire de Andrade (Bairro Languiru) e Colégio Teutônia (Bairro Teutônia). Por motivos distintos, pararam em diferentes épocas. A última foi a Escola Gomes Freire de Andrade, em 2017.

Airton Guilherme Grave participou de desfiles no Colégio Teutônia e na Escola Gomes Freire de Andrade. “No auge, era esperado o desfile de 7 de setembro pelas bandas marciais na nossa região”, relembra ao citar também bandas das escolas Martin Luther (Estrela) e Colégio Mauá (Santa Cruz do Sul).

Na Escola Gomes Freire, Grave chegou a implementar sete diferentes ritmos, além da inclusão de alguns instrumentos de sopro para gerar a melodia. Quando ele saiu da escola, o professor Marcelo Bittencourt assumiu e alcançou de 13 a 14 diferentes toques. Para Airton Grave, o incentivo deve partir da direção da escola: “Não é crítica, é uma constatação da realidade do momento, mas depende muito da vontade da direção da escola e seus professores para reativar as bandas marciais.”

A manhã do dia 7 de setembro era muito aguardada pela comunidade escolar. Cadeiras de praia, chimarrão e a família reunida nas calçadas. Tudo para ver os estudantes marcharem – sim, com a batida no ritmo do bumbo – e depois desfilarem em caminhada cívica. A banda era um atrativo a parte, inclusive com o recuo realizado. “O querer é um poder. Quando a gente quer alguma coisa, a gente retorna. Talvez não retorne com tanta empolgação, mas é uma forma”, estimula Grave.

NOVAS VIVÊNCIAS

Ânderson Altmann participou da banda da Escola Gomes Freire enquanto estudante. Depois, também ajudou a coordenar os trabalhos por dois anos enquanto professor (1998 e 1999), antes do Marcelo Bittencourt assumir a função. Ajudou a constituir a banda marcial do Colégio Santo Antônio em Estrela e na Escola Gonçalina Pinto Vilanova, em Paverama.

“Em 2000, fui convidado pelo colégio Santo Antônio para ensaiar e retomar a banda marcial. Foi por ali que a gente começou o trabalho mais profissional. Fizemos desfiles de rua na frente do parque. Quando se fala de banda marcial e fanfarra a gente não precisa profissionalizar o aluno com a parte teórica. A gente trabalha mais a parte de ele querer tocar e prestar atenção nos ensinamentos do professor”, destaca Altmann.

Paverama tem até hoje o desfile. Antigamente era com duas bandas: da Gonçalina e da escola estadual. “Ficou só a banda da escola Gonçalina, que é atuante até hoje. A gente vê e ouve alunos de noite ensaiando com a banda”, destaca.

Altmann também enxerga o retorno possível. “As escolas recuaram dos desfiles e cada uma tem os seus motivos. A gente como professor percebe que poderia sim voltar esses desfiles e essas organizações, porque sempre eram tratados determinados temas”, argumenta.

TEUTÔNIA PODE RETOMAR

O hoje professor e maestro Lucas Eduardo Grave participou dos desfiles do Colégio Teutônia quando era aluno. Também admirava o trabalho feito na Escola Gomes Freire. Acredita que Teutônia tem todas as condições para retomar a atividade, especialmente em razão do projeto Teutônia Cultural.

Com a formação musical, há a oportunidade de formar uma banda marcial com muito mais facilidade e com grande oferta de estudantes. “Você já está fazendo a aula, já lê partituras, já tem o ritmo, já tem um professor que te dá aulas semanais e são alunos que poderiam participar da banda marcial e mais outras pessoas convidadas. Teutônia poderia ter uma banda marcial enorme”, diz.

Além disso, o maestro sugere aumentar o número de apresentações da banda ao longo do ano, como forma de estimular e valorizar os músicos. Em função da grande preparação, ensaios e complexidade do conjunto musical, a banda poderia se apresentar em datas diferentes, como o aniversário do município e outras festividades escolares.

Até mesmo na Parada Natalina seria possível incluir. Mesmo que em formatos distintos, o evento auxilia os jovens a compreender um desfile, as distâncias e os passos. A harmonia e a coordenação em um desfile é um dos fatores decisivos.

A participação de jovens militares do quartel também poderiam integrar os desfiles como ocorreu anos atrás. O professor cita a possibilidade da colaboração do Batalhão da Brigada Militar, instalado em Teutônia, no desfile de 7 de setembro. Lucas Grave tem a expectativa da retomada do desfile no próximo ano, com organização e preparativos desde o início de 2025.

MEIO SÉCULO DE HISTÓRIA PARA INSPIRAR

Vem de Barão, no Vale do Caí, um exemplo positivo para inspirar Teutônia. A Banda Marcial Hélio Mosena existe de 1972 e funciona de forma ininterrupta desde então, com exceção da pandemia. O professor e instrumentista Rodrigo Persch e o diretor da escola Elton Chassot, explicam a relevância desse momento para a comunidade. “Seis meses antes do desfile, a gente organiza a turma para fazer esses ensaios semanais para que ocorra tudo certo no dia”, contaram pouco antes do ensaio final da manhã de ontem. A banda tem 32 integrantes, realiza até 12 toques e usam apenas tambores coordenados por uma baliza para a mudança do toque.

“Sentamos para conversar sobre o projeto e falei que precisávamos trabalhar com jovens para ter a sequência. A gente começou com esse projeto nas sextas-feiras à tarde para ensinar os toques da banda. Mas só participam os que têm notas boas, essa é uma das cláusulas. Mas é importante dizer que quem não tem nota boa está se puxando para conseguir, porque querem tocar na banda”, destaca Persch. “É um incentivo para eles estudarem. Eles vão acompanhar o ritmo e vão ver que vale a pena o investimento na área dos estudos e na banda para se apresentar.

MUITO ALÉM DO DESFILE

Em algumas regiões do Rio Grande do Sul e do Brasil, as bandas marciais funcionam o ano inteiro e participam de outras atividades das escolas e das comunidades. Airton Grave lembra que há anos existiam encontros, com troca de gentilezas, assim como ocorre nos corais. “Tocavam em bairros diferentes e recebiam bandas de outras comunidades”, explana.

Ânderson Altmann enxerga valor para o ser humano. “Eu acho isso muito importante para a pessoa, é para a vivência. Os temas eram importantes para a vivência dos alunos. O professor trabalhava em sala de aula, por exemplo, e depois passava para o desfile. Era um trabalho bonito e interessante. Além disso, trazia muitos pais para dentro da escola”, sustenta.

Elton Chassot de Barão endossa os benefícios da atividade extracurricular para a sala de aula e a vida do cidadão. “Existe uma febre digital e os alunos acabam não agregando muito no conhecimento, na coordenação, disciplina e organização. Os ensaios da banda automaticamente trazem a agregar em qualidade para os alunos, visto que todo aluno que se envolve na música reflete em questões de melhora nas notas e concentração. Eu acredito que se a gente tivesse mais projetos voltados aos alunos carentes ou com dificuldades de aprendizagem, nós teríamos até rendimentos melhores em sala de aula, porque uma coisa puxa a outra”, complementa.

BANDA MARCIAL OU DE FANFARRA

A banda marcial ou banda de fanfarra, é constituída por tambores, tem caixas, pratos e pandeiros. A banda marcial pode ser só de percussão, de instrumentos sem som ou pode ser complementada por instrumentos de sopro, como trombones, trompetes e saxofones e também por escaletas e liras.


Acompanhe as entrevistas clicando no nome de cada convidado: Rodrigo Persch e Elton Chassot; Ânderson Altmann; Lucas Eduardo Grave e Airton Grave.

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