Falar sobre morte ainda é tabu em uma sociedade onde a felicidade a qualquer custo é colocada como a principal meta. Falar em suicídio é um tabu infinitamente maior. Porém, é inegável a relevância do assunto diante dos dados evidenciados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontando que, todos os anos, o suicídio causa mais mortes do que HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios. O número é mais chocante se pensarmos nos jovens de 15 a 29 anos; é a quarta causa de morte, atrás apenas de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
No Brasil, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) têm se empenhado na divulgação e ampliação da campanha “Setembro Amarelo”, que hoje é a maior ação antiestigma do mundo.
Entre 2016 e 2021, o Brasil viu um aumento significativo nas taxas de mortalidade por suicídio entre adolescentes, com um crescimento de 49,3% entre 15 e 19 anos e 45% entre 10 e 14 anos. As taxas de suicídio variam de acordo com o gênero, com os homens apresentando taxas geralmente mais altas (12,6%) e mulheres praticamente a metade do índice (5,4%).
Neste ano, o lema da campanha é “Se precisar, peça ajuda!”. O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio tem sua data oficial em 10 de setembro, mas a campanha se estende ao longo de todo o ano.
O cuidado começa cedo
Ao falar sobre suicídio, é preciso atentar para os multifatores que influenciam este ato trágico de pôr fim à própria vida. E a atenção vem de cedo. É senso comum pensar que as doenças e transtornos mentais são assunto de adultos. O cuidado com a saúde mental é fundamental a todas as faixas etárias.
A psicóloga Fernanda Marques chama atenção para os pequenos e os impactos, sobretudo, após as catástrofes climáticas. A profissional explica que as crianças expressam seus sentimentos de forma diferente e cabe aos pais estarem atentos a qualquer mudança repentina no humor e no rendimento escolar. Essas alterações podem vir acompanhadas de sintomas físicos, como dor de cabeça, dor no estômago e diarreia. “Os pais devem acolher as emoções da criança, encher os potinhos das emoções com amor”, enfatiza.
Quando os comportamentos permanecem atípicos para o perfil dos pequenos e se tornam crônicos, é necessário buscar ajuda profissional. A terapia com a criança pode ser feita quando ela começar e ter a mínima independência. Fernanda reforça que os pais ou responsáveis devem fazer uso das inúmeras ferramentas da psicologia para promover o bem-estar, tanto da criança, quanto da família. Afinal de contas, ninguém merece sofrer.
Dados e impactos
O suicídio é um problema de saúde pública global. A OMS tem registrado mais de 700 mil mortes por suicídio anualmente, um número que pode ultrapassar 1 milhão se considerados os casos subnotificados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios por ano, ou cerca de 38 por dia. No mundo, as taxas têm diminuindo, porém os países das Américas veem um aumento nos índices. A maioria dos casos de suicídio está associada a doenças mentais, frequentemente não diagnosticadas ou mal tratadas.
Ao longo dos tempos, o Rio Grande do Sul, historicamente, apresenta as maiores taxas de mortalidade por suicídio do país. Entre 2015 e 2023, no país elas subiram 38,37% e o estado seguiu a tendência, com 32,17% de aumento. Dados preliminares de 2023 mostram que 1.548 gaúchos tiraram a própria vida. Os homens são a maioria: 80,04%.
Prevenção e conscientização
A prevenção do suicídio envolve a conscientização e a atuação em diferentes frentes, tendo em vista que as doenças mentais decorrem de diferentes fatores (predisposição biológica, fatores sociais, econômicos, traumas, entre outros). Falar sobre o tema ajuda a desmistificar o tabu e encoraja aqueles em crise a buscar ajuda. Indivíduos em risco de suicídio frequentemente experimentam um pensamento restritivo e uma visão distorcida da realidade, dificultando a percepção de alternativas.
A escuta ativa, a empatia e a orientação para buscar ajuda profissional são fundamentais. A identificação precoce dos sinais e o suporte contínuo podem fazer a diferença. A ajuda de um médico psiquiatra é crucial para o manejo adequado da situação.
O suicídio representa um problema de saúde pública com impactos significativos na sociedade. E como diz o tema da campanha de 2024, busque ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio pelo cvv.org.br/ ou pelo telefone 188. Em Teutônia, o Centro de Apoio Psicossocial (Caps) atende no (51) 3762-1022 e na sede, na Avenida 1 Oeste, nº 878.