Desde 2019, a busca pela centelha da chama crioula faz parte do calendário do teutoniense e tradicionalista ferrenho Carlos Henrique Dahmer, o Henrique. As longas cavalgadas para carregar o símbolo do Rio Grande do Sul fazem parte da rotina não somente dele e do grupo de amigos cavaleiros, mas da esposa Sabrina e dos filhos Lara (15) e Otávio (10). O pai confidencia a saudade de cavalgar com sua filha mais velha, que pratica voleibol e é campeã estadual na modalidade.
Henrique foi novamente responsável por acender a chama no Acampamento Farroupilha em Teutônia, abrindo oficialmente a programação de 2024 em homenagem ao povo gaúcho. Nos 578 quilômetros de viagem ao Alegrete, teve apoio do grupo formado por outros apaixonados por esta terra e de suas duas “Mouras”, a “velha”, de 14 anos e a “nova”, de 5. As éguas “Mouras” e a Tostada, de 11, formam o trio parte da família.
Terra marcada pelas patas e por histórias
O feito do grupo equivale, por exemplo, a cinco viagens de ida e volta a Porto Alegre. Foram inúmeros os momentos vividos em 16 dias de cavalgada, que começaram em 16 de agosto. Um deles foi o encontro com Heloísa, no trajeto entre Vila Nova do Sul e São Sepé, já com a chama mantida com muito querosene e diesel. De carro, os pais de Heloísa, de apenas 7 anos, abordaram o grupo solicitando uma foto com eles e com a chama, já que a pequena é amante do tradicionalismo. Devidamente pilchada, a guria não escondeu a emoção de estar com aqueles homens, que carregavam consigo o símbolo tão importante aos gaúchos.
“Heloísa disse que tinha um lenço e uma camisa como a que estávamos usando, mas naquele momento as peças estavam para lavar. O que mais me marcou foi a idade dela, a fala dela de amor pela tradição e pelos cavalos e ir pilchada para a escola”, relembra Dahmer.
A interação com a família foi curta e certamente representa muito, não somente para a pequena, mas para o condutor da Chama Crioula. Um pacote de erva foi entregue pela família da gauchinha a cada um do grupo, em sinal de agradecimento pelo tanto que estavam fazendo pela filha.
Paixão de guri
Henrique puxa na memória quantos anos tinha quando “se apaixonou” pelo tradicionalismo. Contudo, parece que é “desde sempre”. Influenciado pela família, sobretudo pelos dois tios, Paulo e Edson Dahmer, a lida com os cavalos sempre foi uma das suas três paixões. A primeira é a família, a terceira, o futebol. Essa última já foi maior, quando morou em Porto Alegre dos 14 aos 17 anos e atuou na base do Grêmio e no Aimoré, de São Leopoldo.
Já em Teutônia, o amor voltou-se à família e aos cavalos novamente. Há 20 anos, sua companheira Sabrina divide com ele a paixão pela cultura gaúcha. Com 39 anos, Dahmer sonha em ter uma casa no sítio do Vô Fausto, em Boa Vista, onde poderá ficar mais perto da sua outra paixão, os cavalos. “Disse para a Sabrina: Daqui um ano quero estar lá, com uma casa para a gente morar”.
É no sítio que, desde 2019, o Galpão do Henrique abriga e preserva as tradições e os princípios da cultura, carregada de geração em geração. Com seu irmão Anderson, já realizou inúmeras viagens no lombo do cavalo. Frederico, o Ico, foi o grande incentivador para ele seguir a formação em Ciências Contábeis.
2017: recalculando a rota
Saindo da carreira de contador, no ócio e ainda sem um rumo a seguir, Henrique passava os dias no sítio. Entre uma lida e outra, tomava algumas cervejas. Preocupado com a família e com os filhos do casal, o pai de Henrique o desafiou a ficar meio ano sem beber. Desafio aceito e cumprido com orgulho, já são oito anos longe do álcool. E essa virada de chave veio a galope: Henrique passou atuar como corretor de imóveis e, atualmente, tem a sua própria empresa.
Com uma nova rotina, o incentivo de seguir com as tradições foi intensificado pela participação dos seus filhos, que o acompanham sempre que possível.
Sonho já vivido
O ano de 2024 marca a história de Dahmer. Ter os filhos e companheira o apoiando em todos os sonhos, a família, motivo de orgulho e honra e toda a trajetória junto aos princípios do tradicionalismo é um sonho em vida. Os amigos são parte importante, sobretudo por estarem juntos na construção do galpão e cultivarem o respeito e a tradição.
“O que eu vivi na parte do tradicionalismo do dia 16 de agosto até o dia 20 de setembro deste ano, em vida eu não sei se eu vou viver uma coisa tão espetacular ainda”
Henrique Dahmer – Cavalariano