População economicamente vulnerável é a mais impactada pelas perdas em apostas

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Pesquisa aponta que 64% dos apostadores têm nome negativado // Crédito: Freepik / Divulgação

Nos últimos anos, as apostas esportivas, ou bets, explodiram no Brasil. Somente em 2024, mais de 25 milhões de brasileiros brilharam os olhos com a possibilidade de faturar uma grana extra. Apostar dá a falsa ilusão de lucro fácil e está levando pessoas que já são economicamente vulneráveis à derrocada total. O que pode ser apenas um jogo inocente de diversão e competição, pode esconder um problema social e financeiro aos praticantes. Em casos extremos, pessoas acabam endividadas e encurraladas.

Nesta semana, um levantamento do Banco Central (BC) mostrou que, das 24 milhões de pessoas que participaram de jogos de azar e apostas, cerca de 5 milhões são beneficiárias do Bolsa Família. O dado chama a atenção por revelar o alto percentual de pessoas em situação de vulnerabilidade social que enxergam nas apostas um meio de ter renda. Chefes de família representam 70% destes jogadores.

O estudo do BC é relativo a apostas em esportes e cassinos virtuais somente via Pix, sendo que o volume mensal de transferências de pessoas físicas para empresas de apostas on-line variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões até agosto.

Na quarta-feira (25/9), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que, na regulamentação preparada pelo governo, os sites de apostas serão vistos como uma prática nociva, viciante como o cigarro. O Governo Federal já sancionou a lei nº 14.790 em 2023, porém ela só entra em vigor em 2025. Somente a partir de janeiro do próximo ano os sites de apostas serão cobrados como as empresas, ou seja, pagarão impostos.

As plataformas de apostas on-line que fazem parte da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) já se preparam para antecipar a proibição do uso de cartão de crédito para apostas, a partir da próxima terça-feira (1º/10).
A ANJL aponta que a antecipação desta proibição não se deve a pressões externas, mas reflete a realidade do setor, onde o cartão de crédito já é pouco utilizado, representando menos de 3% das apostas nas plataformas associadas.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) já defende a proibição imediata do uso de cartões de crédito em apostas.

A velocidade do vício

Se, no passado, para jogar e apostar uma pessoa precisava se expor, ir ao local e gastar tempo em um bingo ou caça-níquel, hoje a modernidade traz o conforto e rapidez em realizar a “fezinha”. A mesma velocidade também é aplicada no endividamento e degradação do patrimônio, às vezes inexistente, dos adictos em jogos. O Instituto Locomotiva apontou: 64% dos apostadores têm nome negativado. E é esse o perfil preferido dos sites.

A reportagem da Folha Popular procurou entender como é essa pessoa que vê na aposta on-line uma prática para além do entretenimento. De forma anônima, um dos sócios de um site de apostas explicou o mecanismo dos sites.

Quando o apostador está com a “sorte grande”, o site passa a travar, impedindo que siga com o jogo. O apostador, já viciado na euforia de ganhar alguns reais, utiliza até os dados de amigos e parentes para criar perfis e seguir na grande ilusão da vitória. “A maioria gosta de apostar em jogos combinados, com pouco valor e buscando prêmios altos, perfil de apostador que as casas de apostas adoram, pois geralmente são perdedores”, disse o sócio.

Esse chamado perdedor é aquele usuário que não possui o controle emocional ou gestão dos valores apostados e o ciclo segue em uma grande bola de endividamento. Na tentativa de recuperar o saldo, o usuário se afunda em mais prejuízo.

“Esse perfil de perdedor é mais de 80% dos meus clientes. Se eles perdem, tentam recuperar da forma errada, fazendo apostas combinadas e acabam perdendo mais ainda. Teve caso de pessoas que vão até o fim, tentando recuperar algo que perderam ou tentando ganhar um valor necessário para pagar contas”, Anônimo, Dono de site de apostas.

A fonte desta matéria explica que a maior parte dos seus clientes aposta valores menores e, conforme perdem, não conseguem recuperar os reais já apostados. Há casos de viciados que deixaram, nesta prática, mais dinheiro do que possuíam, pedindo inclusive o parcelamento das dívidas de jogo. Com antecipação da regulamentação para 1º de outubro, só poderão atuar no Brasil sites que já encaminharam a documentação. Os demais serão bloqueados e, apenas em 2025, todas as apostas on-line pagarão impostos sobre ganhos como uma empresa normal.

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