
No verso da fotografia, o dizer “essa fotografia foi um grande desejo da minha vida que eu consegui realizar” resume o sentimento de Maria Ivone de Oliveira no ano de 1987. Um dos grandes personagens da Escola de Samba Inhandava, ela recorda com carinho os mais de 35 anos em que desfilou em Bom Retiro do Sul e lamenta não poder estar na Avenida Jorge Fett neste ano.
Em 2025, a cidade é a única do Vale do Taquari a realizar desfile de carnaval de rua. A programação inicia às 19h30 deste sábado (8/3), com atrativos para toda a família, envolvendo também corais e orquestras de Bom Retiro do Sul, ampliando o leque cultural do evento tradicional na cidade.
A Escola de Samba Inhandava trará, neste ano, o samba-enredo “Divertidamente, o Carnaval das Emoções”, abordando sentimentos humanos e as memórias da festividade. A entidade propõe um desfile mais intimista, buscando a aproximação com a comunidade local e visitantes.
Não haverá cobrança de ingresso para prestigiar a programação.
Ícone do Carnaval
Aos 84 anos de idade, Maria Ivone é um dos ícones do Carnaval de Bom Retiro do Sul. Não há quem não recorde da sua alegria e vitalidade ao ingressar na Avenida do Samba pela Inhandava. Sua relação com o Carnaval começa ainda na infância. “Naquela época eu tinha uns 8 anos, meu pai era o presidente e minha mãe, a vice dele. Então eu sempre acompanhava. Usávamos uma taquara, com algo em volta e vela, pois não existia luz”, recorda.
Assim começou o apreço de dona Ivone pela celebração de Carnaval. “Então me casei e tive meus filhos. Aí o Deco (filho) ingressou na bateria e eu bordava as roupas dele. Até que um dia meu marido me disse: “Você gosta tanto de Carnaval desde criança, não quer sair na Escola de Samba?”. Nem precisou pedir duas vezes”, relembra ela. De imediato, dona Ivone já saiu na Ala das Baianas, somando, atualmente, 38 anos que faz parte da Escola de Samba Inhandava.
Com o passar do tempo, as crianças da família foram crescendo e todos chegaram a desfilar no Carnaval. Eram mestre-sala, porta-bandeira, destaque, comissão de frente e bateria: a família inteira estava envolvida. “Eu amo a Inhandava. Para mim foi o maior prazer, porque meus pais eram do Carnaval, então veio de berço”, destaca.
Dona Ivone recorda com carinho do ano em que foi homenageada, oportunidade em que se vestiu de Nossa Senhora Aparecida, diferente das demais fantasias da Ala das Baianas. “Minha capa era toda dourada, muito bonita. E agora faz uns 3 anos que estamos ganhando as roupas, o que ajuda bastante”, conta.

Há 4 meses, dona Ivone perdeu o esposo. E, por este motivo, não desfilará na Avenida do Samba neste ano. “Ele me ajudava e incentivava muito. Sempre me aguardava depois dos desfiles, inclusive quando eram fora de Bom Retiro do Sul. Então, não tenho o ânimo de ir para a Avenida neste Carnaval, até por respeito a ele”, explica. Relembra que ele era o responsável por confeccionar a saia das baianas, de arame, uma ala que sempre foi um grande destaque e que já chegou a ter 20 integrantes. Neste ano serão 13 baianas, enquanto que, no ano passado, eram oito.
Pela Escola de Samba Inhandava, dona Ivone recorda que desfilou em Estrela, Lajeado, Taquari, Venâncio Aires, Triunfo, Fazenda Vilanova, na Univates e no Shopping Lajeado. Para ela, a Inhandava pode ser considerada uma segunda família.
Em 2026, dona Ivone pretende retornar à Avenida do Samba com toda sua energia, alegria e amor. “Eu amo o Carnaval e amo a minha Inhandava. No próximo ano, se Deus me permitir, eu estarei de volta com toda certeza”, confirma.

Carnaval de cultura
Dona Ivone considera ser importante este envolvimento cultural no Carnaval de Bom Retiro do Sul, incluindo corais e orquestras. “Fico feliz, pois todos se sentem pertencentes desta cultura tão rica e bonita que é o Carnaval”, comenta. Além do Carnaval, ela se envolve em outros momentos culturais, como o Terno de Reis. Também já recebeu reconhecimento pela Prefeitura. “Recebi esta foto, um troféu, e colocaram uma foto minha lá na Prefeitura”, relembra.