Abril é o Mês de Conscientização sobre o Autismo e, em meio às campanhas de informação e sensibilização, cresce a importância de se compreender não apenas os aspectos clínicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas também de cultivar uma sociedade mais empática e inclusiva. Em entrevista à Rádio Popular, o psiquiatra Nael Hamid destacou a importância do diagnóstico precoce, os sinais de alerta nos diferentes ambientes de convivência e o papel das redes de apoio no cuidado às pessoas com autismo.
O que é o TEA e por que ele exige atenção contínua
Segundo Hamid, o TEA é um transtorno global do neurodesenvolvimento, de base neurológica e multifatorial, que afeta a neuroplasticidade cerebral. “Não é uma patologia no sentido clássico, porque não tem cura. É um transtorno com diferentes níveis de comprometimento e que acompanha o indivíduo por toda a vida”, explica.
A importância da observação nos diferentes contextos
Os primeiros sinais costumam surgir ainda na infância e podem ser percebidos tanto pelos pais quanto por educadores. “É importante observar o comportamento da criança em diferentes ambientes. Muitas vezes, os relatos da escola não coincidem com o que os pais percebem em casa, e por isso é essencial considerar todos os contextos para uma avaliação mais precisa”, destaca o médico.
Sintomas e comportamentos que merecem atenção
Entre os principais sintomas estão atrasos nos marcos do desenvolvimento, como dificuldade para falar, andar ou interagir socialmente. Também são comuns comportamentos como andar na ponta dos pés, não interagir em ambientes públicos, ter reações intensas a estímulos sonoros, ou apresentar crises de agressividade, como bater a cabeça ou se morder.
Seletividade alimentar x preferência: entenda a diferença
Outro ponto frequentemente relatado pelas famílias é a seletividade alimentar. “É importante diferenciar preferência alimentar de seletividade. No autismo, há uma rejeição a certos alimentos por conta da textura, cor, ou pelo fato de estarem misturados no prato”, esclarece.
Atendimento especializado e papel das redes de apoio
Sobre o atendimento especializado, Hamid explica que instituições como o TEAcolhe (que atua com matriciamento e planejamento terapêutico) e o CAS (Centro de Atendimento em Saúde) têm papel fundamental. “O TEAcolhe desenvolve um plano terapêutico singular em conjunto com a família e a unidade básica de saúde. Já o CAS oferece atendimento médico e terapias multidisciplinares, podendo complementar o que já existe no município”, afirma.
Quebrando preconceitos e construindo uma sociedade inclusiva
Para o psiquiatra, o debate social e o aumento da visibilidade do TEA nos últimos anos são essenciais para combater o preconceito e promover a inclusão. “Não podemos falar em exclusão. São pessoas que têm um transtorno, sim, mas também têm potencial para estudar, trabalhar, se desenvolver. O autismo tem níveis, e muitas pessoas com nível 1 vivem de forma bastante próxima do que chamamos de neurotípico”, aponta.
Respeito e inclusão como compromissos de todos
Por fim, Hamid reforça que o respeito e a quebra de paradigmas devem ser as bases de toda a abordagem. “O mais importante é fortalecer a inclusão. A sociedade precisa acolher, entender e conviver com as diferenças. Isso é essencial para o bem-estar das pessoas com autismo e para o crescimento coletivo.”