Morte de agricultor westfaliano reforça importância da segurança no trabalho

O falecimento de Evanor Jair Horst, 53 anos, vítima de um acidente com um tratador automático em sua propriedade, trouxe luz para perigos da rotina e do possível excesso de confiança

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Recusa ou desconhecimento sobre o uso de EPIs causam maioria dos acidentes em local de trabalho - Crédito: Pexels / Divulgação

A comunidade de Linha Schmidt Fundos, em Westfália, lamenta e está consternada com a trágica morte de Evanor Jair Horst, 53, proprietário da Granja Horst. Ele faleceu na noite do sábado (17/5), vítima de asfixia após ter o tórax esmagado por um tratador automático em sua residência. O corpo foi encontrado no início da noite.

Segundo Evanete Inez Grave, irmã da vítima e ex-vice-prefeita de Westfália, a familiaridade de Evanor com o maquinário pode ter contribuído para o acidente. “Acreditamos que ele subiu para olhar algo na máquina. Nesse meio tempo, o tratador ligou, ele não teve tempo suficiente para pular e foi esmagado. Foi um descuido, pois ele nasceu no meio dos aviários, não sabia fazer diferente. Conhecia e botou a mão em tudo isso”, lamentou.

Este acidente é um um triste exemplo dos riscos frequentemente subestimados no ambiente de trabalho. Conforme o engenheiro civil e técnico em Segurança do Trabalho, Alexandre Jung, a segurança é frequentemente comprometida por uma combinação perigosa de fatores humanos e gerenciais. Ele destaca que trabalhadores mais experientes, como Evanor, podem desenvolver um excesso de confiança, “levando a descuidos com normas que iniciantes, recém-orientados, tenderiam a seguir”.

Vilson Luiz Luft, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e do Mobiliário de Lajeado e Região, reforça que esse é um dos desafios atuais. “’Sei o que estou fazendo’” é o argumento mais perigoso, porquê, em uma fração de segundo, você morre”, afirma.

Os prejuízos de um acidente como o ocorrido em Westfália são devastadores. Quando não há morte, o trabalhador pode sofrer afastamentos, perda de membros ou redução da mobilidade, comprometendo sua capacidade laboral. Para as empresas, as consequências incluem custos com afastamento, a necessidade de substituição do funcionário, a obrigatoriedade – muitas vezes, negligenciada – de abrir uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e o impacto negativo na reputação junto ao Ministério do Trabalho.

Jung aponta que a falta de treinamento adequado é outro fator crítico. “É comum que novos empregados recebam apenas instruções superficiais e EPIs sem a devida orientação sobre seu uso”, relata, acrescentando que muitos são contratados sem o conhecimento necessário sobre Normas Regulamentadoras (NRs) cruciais, como a NR-12 (segurança em máquinas e equipamentos) e a NR-11 (transporte e armazenagem de materiais). Estas normas estipulam procedimentos e cargas horárias de treinamento específicas, adaptadas ao risco da atividade e ao número de empregados.

Responsabilidade e fiscalização

O engenheiro enfatiza a responsabilidade do empregador. “Dizer ‘dei o Equipamento de Proteção Individual (EPI) mas o funcionário não quis usar’ é desculpa. A responsabilidade pelo fornecimento do EPI adequado, treinamento e fiscalização do uso é do empregador”, afirma Jung. Ele detalha que, em caso de recusa, o empregado deve ser formalmente advertido, e a persistência pode levar à demissão por justa causa, sendo a documentação crucial para a defesa da empresa.

Cada acidente exige uma análise detalhada: o EPI foi fornecido? Houve treinamento e fiscalização? Os equipamentos estavam em condições seguras de operação? Jung lembra que cursos específicos, como para operadores de empilhadeira, são obrigatórios.

Jung aponta que muitas empresas não levam em consideração incidentes e quase acidentes não são levados em consideração, especialmente quando o funcionário não se machucou. “Porém, foi um incidente, um evento indesejado que tem potencial de causar um acidente ou lesão”, cita.

Ele explica que há o ato inseguro e a condição insegura, ou mesmo a combinação dos dois. O ato inseguro é quando o trabalhador sabe da existência dos riscos, mas, mesmo assim, se coloca em perigo. Já a condição insegura é o ambiente de trabalho que oferece risco, como, por exemplo, um equipamento sem proteção, defeitos ou falta de manutenção.

Luft alerta que o técnico em Segurança não deve ser contratado apenas para entregar EPIs, relação e assinatura, mas, sim, para capacitar os profissionais na área. “Os técnicos precisam ser mais cobrados, especialmente devido à teimosia ou falta de cuidado dos trabalhadores. Há acidentes ocorrendo no setor de máquinas quando a empresa oferece EPI, dá tudo”, afirma.

Quanto custa uma vida?

O presidente do sindicato lamenta casos recentes, como a morte de dois funcionários de empresas por queda de altura, e os mais comuns, que são a perda de membros. “Uma máquina circular na Alemanha já vem pronta, com sensor de travamento no disco e no motor. As mesmas máquinas no Brasil não têm sensor, o freio é à mão. É um absurdo”, aponta.

Por outro lado, Jung acredita que muitos empresários veem a segurança como um custo, e não um investimento, optando por não “gastar” com dispositivos de segurança mais modernos, como sensores de desligamento automático.

E nos casos em que há perda de vida? Há a perda irreparável para a família. “Enquanto a segurança do trabalho for vista como um ‘custo’ em vez de um investimento essencial, acidentes deste tipo vão continuar acontecendo”, alerta o engenheiro. “Quanto vale uma vida? Quanto valerá a vida do trabalhador se a família dele puser a empresa na justiça? E a família que, muitas vezes, perde a pessoa que sustenta a casa?”, reflete.

41.000 em 2023

Conforme o Ministério da Previdência Social, o Rio Grande do Sul registrou 50.384 acidentes de trabalho em 2023 (data do último censo) com CAT registrada. Destes, 41.000 foram por motivo típico ocorre enquanto o trabalhador está a serviço da empresa. Os demais envolvem acidente no trajeto ou doença do trabalho. Em Teutônia, foram 190 acidentes típicos no mesmo ano e uma morte registrada. Em Westfália, no ano anterior (2022), foram registrados 24 acidentes típicos e duas mortes.

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