A força da agroecologia no centro da fé e da resistência

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Crédito: Ariana de Oliveira

No 11º Dia Sinodal da Igreja, realizado em Teutônia neste domingo (8/6), a agroecologia ocupou um espaço de destaque. Entre cultos, ceia e comunhão, a tenda da Fundação Luterana de Diaconia, por meio do programa Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), reafirmou que o cuidado com a terra, com o alimento e com a vida é também uma expressão de fé.

Melissa Lenz, nutricionista e integrante do CAPA há 23 anos, participou da atividade e reforçou o papel da agroecologia como ferramenta de transformação social, ambiental e espiritual. “A FLD-CAPA é um serviço da IECLB, e poder estar aqui com a nossa exposição de produtos agroecológicos demonstra o que a Igreja também faz que é o cuidado com a criação de Deus e o cuidado com o ambiente através da agroecologia”, afirmou.

Criado em 1978, o CAPA atua como entidade de assessoramento na defesa de direitos, como o direito à alimentação, ao acesso à água e a uma vida digna. “A nossa missão institucional é também a missão da IECLB: defender o direito à existência com vida boa de toda a diversidade. Deus criou as pessoas para que todas tenham vida digna.”

Agroecologia é resistência

O mês de junho é marcado pelo Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), mas, para Melissa, o cuidado com a natureza deve ser diário. “Como se a gente precisasse cuidar só nessa época… A gente precisa cuidar do ambiente e entender que ele não é nosso. Só estamos usando. Temos que cuidar muito bem para que as próximas gerações tenham um ambiente sustentável.”

Segundo ela, a agroecologia vai muito além da ausência de agrotóxicos. “É manter o equilíbrio da terra, produzindo alimentos limpos, mas também produzindo um ambiente sustentável, animais equilibrados e famílias mais felizes.”

Melissa alertou para retrocessos recentes. “Foi aprovado no Senado o PL da Devastação, que flexibiliza regras e permite desmatamentos sem controle. Isso é um grande retrocesso. Assim como o aumento da liberação de agrotóxicos nos últimos anos. Mas a agroecologia resiste e persiste.”

Presença no Vale e atuação com mulheres

No Vale do Taquari, o CAPA atua desde o ano 2000. Atualmente, acompanha 13 grupos de mulheres em municípios como Teutônia, Westfália, Cruzeiro e Paverama, e também grupos na área de produção agroecológica. “São oito grupos de produtores que estão num processo de transição ou já certificados pela Rede Ecovida, em municípios como Santa Clara, Rui do Meio, Forquetinha e Lajeado.”

A atuação junto às mulheres também se manifesta em ações como o Café Orgânico, realizado recentemente pelo grupo Vida Digna de Canabarro. “Café colonial a gente tem muitos, mas café orgânico, onde todos os produtos servidos são orgânicos, demonstra a resistência dessas mulheres.”

23 anos de caminhada por justiça e dignidade

Melissa vê sua trajetória no CAPA como um desafio constante. “A gente não faz o comum. Existe o agronegócio em larga escala, mas a agroecologia vem crescendo. Trabalhar numa entidade que defende o direito à existência com vida boa à diversidade é um baita desafio.”

Além da agroecologia, o CAPA atua em outras frentes, como o enfrentamento à violência contra mulheres e a luta antirracista. “Muitas pessoas não querem entrar nessa resistência. Mas a violência contra mulheres, por exemplo, acontece todos os dias. Atuamos em conselhos municipais para garantir os direitos delas.”

Hoje, o CAPA também trabalha com comunidades indígenas e quilombolas. “No início, a atuação era mais com a agricultura familiar. Agora ampliamos. Porque nossa missão diz que todas as pessoas têm que ter direito à vida e à existência. E não só a existir, mas existir com vida boa.”

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