
Em janeiro, a Folha Popular contou a história de Gabriel Andréas Schneider Aréstegui, o jovem de 14 anos que conquistou medalhas de ouro e prata nas edições regional e nacional de 2023 da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e Particulares (Obmep). Na edição de 2024, o estudante recebeu mais duas insígnias de prata e bronze para coroar seu esforço. Ele as recebeu em junho no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. Agora, no 9º ano, disputa a edição de 2025.
Quem lembra da trajetória de Gabriel nas linhas deste jornal recorda, também, dos fatores responsáveis por suas vitórias – que, claramente, estão apenas começando. O jovem tem nos pais, Nilton e Marineide, a base de todo o seu conhecimento, fortalecido no dia a dia a partir do senso crítico, do raciocínio lógico e da autonomia de aprendizado. A abordagem educacional – não convencional para a maioria das famílias – incentiva o menino de forma constante a ser curioso e inquieto quanto aos desafios apresentados na escola e na vida.
Gabriel foi apresentado ao universo dos números e do raciocínio lógico desde cedo, especialmente pelo pai, engenheiro eletricista apaixonado por desafios. Na infância, o menino era incentivado a somar números de placas de carros e a fazer cálculos mentais, transformando atividades cotidianas em exercícios de agilidade mental. O xadrez foi outro meio pelo qual o menino pode aprimorar o raciocínio estratégico. O casal também estimula o filho a trazer soluções para problemas apresentados, cultivando a proatividade e desenvolvendo uma cultura autodidata no menino.
Nilton argumenta que “uma criança é uma folha em branco” e o filho completa: “os pais são a caneta que escreve a história”. Para o pai, onde mais se deve se aprender não é na escola, mas sim, em casa. “Sentar e conversar. Nós conversamos, começamos com matemática e saímos por história, geografia, por tudo. Em que momento os pais sentam e conversam com os filhos e perguntam: ‘E aí, o que tu fez na escola? Fizeram soma de um dígito? Vamos fazer de dois, de três?’”, cita.
Ele enfatiza que os pais, muitas vezes, utilizam a escola como uma ‘creche’ para seus filhos, na qual as crianças e jovens não sabem o valor do estudo ou porque estão lá. Nilton ainda critica a dissociação de matérias nas escolas e defende que o conhecimento é associativo. Desde funções básicas como somas e divisões até questões de probabilidade e trigonometria, foi com Nilton e a Marineide que o jovem aprendeu a relacionar as disciplinas e os conteúdos estudados – o que o ajuda a compreender o mundo de uma forma diferente.
Programação
O jovem também descobriu desde cedo o valor do trabalho, das metas e da persistência. Ele e os pais tinham um combinado: Gabriel concluiria as tarefas solicitadas e, em troca, receberia dinheiro (como R$ 5 por um texto ou atividades matemáticas) ou outro incentivo. “Todo mundo que trabalha quer retribuição. Ele pediu um celular e um notebook, e conseguiu trabalhando”, conta Nilton.
A partir do computador, sua jornada com a programação começou aos 8 anos, quando expressou interesse em um curso de robótica. Seu pai o desafiou a primeiro aprender sobre o funcionamento de um robô e “como ele pensa”. Isso o levou à plataforma Scratch (linguagem de programação visual desenvolvida peloMassachussetts Institute of Technology), onde aprendeu a programar da forma mais simples, através de comandos em blocos. Ali, publicou 19 jogos.
Foi com o computador que adquiriu em 2019 que Gabriel entrou de vez no mundo da programação. Do Scratch, o jovem avançou para a linguagem Python. Com ela, criou uma “Alexa” própria, carinhosamente chamada de “Gabí”. Gabriel também explorou engines de jogos como Godot e Unity, e optou pela última para criar um jogo de biologia humana, entre outros. Nele, é preciso responder questões sobre áreas específicas do corpo para avançar de fase.
Um futuro (ainda mais) brilhante
Porto Alegre claramente reserva muitos desafios e conquistas para o menino. A colocação em nível nacional nas edições de 2023 e 2024 da OBMEP renderam a Gabriel a participação no Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC) do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), bem como uma bolsa de estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Pelo segundo ano consecutivo, ele e o pai vão de dois a três sábados por mês a Porto Alegre para que Gabriel participe das aulas, realizadas na UFRGS.
Seu trabalho no campo da programação impressionou professores de mestrado e doutorado da universidade, que o convidaram a desenvolver outros projetos. Gabriel desejava óculos de realidade virtual e os pais aproveitaram a oportunidade de desafiar ao menino, propondo a compra em troca dele programar um jogo nesta ferramenta. O desafio foi fácil: em 1 dia, ele desenvolveu um jogo de realidade virtual, que agora aprimora com auxílio dos professores e a motivação do pai.
Os projetos do menino também chegaram ao Instituto Caldeira e chamaram a atenção de grandes empresas de tecnologia presentes no parque tecnológico.
“Se alguém vier falar comigo sobre matemática, eu não preciso me preocupar com uma pergunta que eu não saiba responder. Porque tendo as respostas e a metodologia já na minha cabeça, vou saber como falar com os outros sem ter essa vergonha de errar. É assim que eu aprendi que o cérebro funciona”, finaliza Gabriel.
Emocionados e empolgados com a caminhada do filho, Nilton e Marineide confiam no acerto da metodologia utilizada para educar Gabriel. Seus ensinamentos aplicados ao “caderno vazio” na mente do filho moldaram um jovem motivado, autodidata e com um forte senso crítico. O pai, com o incentivo dos números, e a mãe, com o amor e carinho, fortalecem e amparam Gabriel com união e cumplicidade.