
Assim como a maioria dos hospitais no Brasil, o Bruno Born (HBB), de Lajeado, entendeu que não conseguiria sobreviver apenas com a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), defasada há 12 anos. Porém, diferente de tantas casas de saúde em crise, o HBB pôs em prática uma série de ações em busca de mitigar os efeitos da escassez de recursos.
A discussão sobre a correta alocação dos pacientes dentro da rede de atendimento ganhou destaque dentro da casa de saúde. O diretor executivo do hospital, Cristiano Dickel, reforça a necessidade urgente de uma mudança de paradigma na gestão da saúde municipal, com estruturação clara dos atendimentos primário, secundário e terciário.
Ele defende que um hospital de alta complexidade (atendimento terciário) não pode continuar a atender pacientes considerados “leves” – fichas azuis e verdes – em sua emergência. “Isso não deveria mais estar em discussão. Essa função é de responsabilidade do Município, 24h por dia, 7 dias por semana. Não adianta ter atendimento em Unidades Básicas de Saúde só durante o dia e, de noite, mandar tudo para o hospital. Isso não funciona”, ressalta.
Hoje, a emergência do HBB está regulada. Pacientes que não configuram casos para permanência na emergência são redirecionados para o posto de saúde de seus bairros ou para a UPA, conforme pactuado com o Executivo e a Promotoria.
UPA é prioridade do gestor municipal
Dickel ressalta que as UPAs são estruturadas por três tamanhos – tipos 1, 2 e 3 -, de acordo com o volume populacional das cidades. “É questão de prioridade do gestor colocar uma UPA no seu município. Essa possibilidade existe em municípios menores, como Teutônia”, aponta.
Segundo ele, os postos de saúde têm por característica o atendimento de casos muito leves, que envolvem consulta, encaminhamento de exames e renovação de receita. “As pessoas vão para uma emergência de hospital porque lá vai ter exame de sangue na hora, se precisar, uma ecografia, uma tomografia. A UPA atende parte dessa complexidade, com exames de laboratório, raio-x, sala de observação”, situa.
A presença de uma UPA permite que a população tenha acesso a um atendimento intermediário, evitando a sobrecarga das emergências hospitalares com demandas que poderiam ser resolvidas em um nível de complexidade menor.
A emergência hospitalar é o ponto de atendimento mais crítico, no qual a agilidade é fundamental para salvar vidas. “Cada minuto de um AVC não tratado significa 2 milhões de neurônios perdidos”, exemplifica Dickel. Isso exige uma equipe focada, sem a interferência de situações menos urgentes.

Cristiano Dickel, diretor executivo do HBB / Crédito: Lucas Leandro Brune
Necessidade, não escolha
Seis mil pessoas acessam o HBB por dia, dos quais 3.800 são pacientes – 57% de fora de Lajeado. O hospital é o 10º maior prestador de serviços do SUS no estado e o 3º maior do interior – 81% dos pacientes são atendidos pelo Sistema Único de Saúde, mas apenas 39% da receita provém destes atendimentos. Os outros 69% vêm de serviços privados e receitas extraordinárias federais, estaduais e municipais.
A luta diária para manter as contas no verde fazem com que o HBB busque constantemente melhorar e ampliar os serviços prestados. Cristiano remonta a 2002: a construção do Centro de Tecnologia Avançada trouxe a alta complexidade para a região. Hoje, o HBB possui 20 leitos de UTI Adulto, 10 de UTI Pediátrica e 10 de Neonatal. Recentemente, foram abertos os centros de Obstetrícia e de Cardiologia e, em outubro, está prevista a inauguração de mais 12 leitos exclusivos para atendimento cardiológico.
A qualificação da equipe é um ponto chave dessa evolução. Hoje, a casa de saúde tem 1.500 funcionários e cerca de 470 médicos. Assim como para as outras áreas, o Hospital Bruno Born está em busca de intensivistas cardiológicos para a nova UTI. “Existem poucos destes profissionais no estado. Estamos atrás deles porque queremos uma UTI com alto padrão de qualidade. E queremos que venham residir em Lajeado, para de fato criar vínculo com a comunidade”, sinaliza Dickel.