A Rádio Popular estreou na quinta-feira (7/8) o programa Empreendedoras em Ação. Apresentado por Luciana Brune, o espaço chega para dar voz às empreendedoras, com objetivo de contar histórias e compartilhar desafios e experiências do mundo dos negócios e o entorno da vida destas mulheres. Além do rádio, o programa é transmitido ao vivo pelas plataformas digitais.
No episódio de estreia, Andrea Feine, fundadora e CEO da empresa Andrea Feine, conta um pouco da sua trajetória profissional e de vida. Compartilha experiências da gestão e as lições aprendidas ao longo de 25 anos de empreendedorismo. Com uma empresa que hoje emprega quase 70 funcionários e atua em âmbito nacional e internacional, Andrea revelou a essência de sua liderança e as bases de um negócio que preza pela humanização.
Entrevista com Andrea Feine
Folha Popular – Você empreendeu aos 28 anos, em uma época em que as mulheres praticamente não tinham empresas. Houve uma virada na sua forma de se posicionar no ambiente de negócios?
Andrea Feine – É muito engraçado, olhando as fotos de quando comecei, percebo que são todas ‘masculinas’. Eu usava terninho preto, calça preta, quase sapato masculino, e não usava salto para trabalhar. Eu precisava ficar masculina para ser aceita e respeitada no universo masculino, e nem sei se fazia isso conscientemente na época. Foi um período horrível para a mulher, onde havia a brincadeira de que mulheres bonitas não eram inteligentes. Era um absurdo que as pessoas se surpreendessem com a inteligência ‘apesar da beleza’ e isso era normal. Gastávamos um esforço gigante para provar nossa capacidade e cruzar essa barreira. Hoje está mais tranquilo e admiro mulheres lindas e fortes se posicionando. Minha preocupação, porém, é que a balança não vá de uma desvalorização para uma supervalorização, ultrapassando o equilíbrio. Temos que ser inteligentes e cuidadosas para estarmos lado a lado, homens e mulheres. Na minha empresa, por exemplo, presenteamos homens e mulheres em seus dias para incentivar o equilíbrio.
Folha Popular – Como nasce a marca Andrea Feine?
Andrea – O propósito nasceu quando eu trabalhava na Loja Seli, dos meus sogros. Lá, conheci uma mulher inspiradora, anônima e muito forte. Ela pediu 50 metros de fazenda (tecido) para costurar cortinas em casa aos domingos, após cuidar da roça, das crianças, da comida e da casa durante a semana. O rolo era super pesado e ela disse que o levaria a pé, após descer do ônibus. Eu fiquei impactada e pensei: Eu preciso ajudá-las, oferecendo-me para medir, costurar, ajudar. Foi então que compartilhei o desejo com o Gilberto (meu marido). Ele, meu parceiro, me apoiou e começamos.
Folha Popular – O que o empresário deve atentar diante da Inteligência Artificial?
Andrea – A informação precisa estar bem rápida e compilada para auxiliar na tomada de decisão. No meu início, o feeling era importante, e ainda é, mas só o feeling não basta. É preciso ter um BI (Business Intelligence) robusto. Por exemplo, nós contratamos uma empresa para entrar em nossa base de dados, que por ter 25 anos acumulou muitos dados “sujos”, como endereços ou datas de aniversário errados, para limpar e organizar tudo, tornando mais eficientes. Hoje, no meu celular, tenho o mapa completo da empresa e posso perguntar qualquer coisa para obter informações imediatamente.
Estamos avançando com a inteligência artificial. Embora já trabalhemos com IA, daqui a dois meses teremos o “Larry” na nossa sala de reuniões. Ele será um funcionário da empresa, que verbalizará os dados com mais rapidez e precisão durante as reuniões, auxiliando-nos. Ele, inclusive, vai opinar, embora teremos um filtro inicial enquanto ele é treinado e abastecido. Estive 30 dias nos Estados Unidos estudando sobre inteligência artificial e novas tecnologias. Posso afirmar que é um caminho sem volta.
Folha Popular – A leitura faz parte da sua rotina. Como incorporou este hábito?
Andrea – A leitura é um desejo de muitas mulheres, mas é difícil conciliar. Não tenho problema em dizer que, quando meu filho Eduardo era pequeno e eu estava montando a empresa, eu desejava ler, mas o cansaço me vencia antes de chegar ao livro. As mulheres têm muitas demandas: filhos, casa e o autocuidado, que demanda tempo e dinheiro. Eu só consegui ler mais quando Eduardo cresceu e a empresa começou a se organizar e eu consegui delegar, algo muito difícil. Minha palestra “Descomplicando a Gestão” fala sobre isso, porque muitas vezes nós mesmas complicamos as coisas. Não dá para se cobrar tanto, embora a gente tente fazer tudo ao mesmo tempo.
Folha Popular – Você mencionou a importância da contemplação. Para contemplar é preciso ter planejamento?
Andrea – Certamente que sim. Se falássemos isso há alguns anos, seria totalmente inimaginável. Para mim, é tão importante que eu construí uma casa de final de semana justamente para a contemplação. É preciso planejar e se policiar para ter um momento de “nadismo”, embora para a mulher isso seja quase impossível, pois sempre estamos com as antenas ligadas. Esse momento é crucial porque restabelece a mente, gerando muita paz para o organismo e a mente, o que nos permite manter o fluxo incrível que temos na vida corrida.