Canto erudito e emoção marcam encontro de corais em Imigrante

Evento reuniu grupos de várias cidades em uma noite de música erudita inglesa, alemã e italiana

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Coral Municipal de Caxias do Sul apresentou repertório erudito inglês do período Renascentista - Crédito: Anderson Lopes

A noite de sábado (27/9) foi de pura harmonia no Convento São Boaventura, em Imigrante, durante o tradicional Encontro de Corais. Promovido pela Associação Cultural de Imigrante e pela Prefeitura Municipal, o evento encheu o espaço histórico com vozes e melodias, proporcionando um espetáculo erudito de alto nível para a comunidade.

As sólidas paredes de pedra do convento, conhecidas por sua acústica refinada, foram o cenário perfeito para um repertório que incluiu músicas inglesas da Renascença, canções em italiano e peças em alemão. O local, que realça tanto os tons agudos quanto os graves, foi elogiado por regentes e participantes. “É perfeito, sagrado, a acústica é linda”, afirmou Norildo Pereira de Andrade, regente do coral da Sociedade Cultura Beneficente e Espírita Santos Reis, de Montenegro, que visitava o convento pela primeira vez.

A noite teve a participação do Coral Municipal de Caxias do Sul, da Sociedade Cultura Beneficente e Espírita Santos Reis, de Montenegro, do Coral Municipal de Capão da Canoa e do Coral Comunicação Unicanto, de Guaporé. O anfitrião, Coral Municipal de Imigrante, abriu as apresentações, que foram marcadas pela diversidade. “Cada coral trouxe uma proposta diferente, tivemos vários estilos e gêneros diferentes de música”, completou o regente Andrade.

Para muitos integrantes, o canto coral vai além de um hobby – é uma herança. A coralista Tati Gärtner, de Imigrante, compartilhou sua história familiar. “O canto coral faz parte da minha família desde o meu avô, que cantou por mais de 60 anos. Meu pai canta, meu irmão canta. Então, é uma coisa que tá no sangue”, disse.

Ela, que retomou a prática após uma pausa devido ao trabalho, descreveu a sensação de cantar: “É uma alegria, uma paz, um momento de harmonia, de pertencimento. É aquela questão de união, porque você não canta sozinho”, apontou.

Essa visão da música como uma força terapêutica e humanizadora foi reforçada pelo frei José Leonardo através de um provérbio alemão: “Onde se canta, podes fazer pousada. Pessoas ruins não conhecem canções”. O frei analisou que o canto funciona como uma “terapia interna”, que exige e desenvolve autodisciplina, concentração e espírito de colaboração. Ele ainda recorreu à neurociência e mencionou o livro “O Instinto Musical”, de Daniel Levitin, para sublinhar que “a música humaniza” e que esta é a motivação mais profunda para praticá-la.

O regente do Coral Municipal de Imigrante, Charles João Gregory, resumiu o sentimento da noite: “Foi uma noite especial, muitas emoções, muitos aplausos, melodias inesquecíveis. A acústica é simplesmente perfeita, o reverb no ponto certo”, contou.

A organizadora do evento, Kátia Harberkamp, confirmou que a tradição, que já soma mais de 20 edições, continuará. Ela ainda mencionou os planos ambiciosos do coral municipal de ir para a Alemanha.

O evento consolida-se não apenas como um encontro musical, mas também como uma forma de valorizar o patrimônio local. “Esse ambiente é muito próprio para esse encontro, é um belíssimo local, um ponto turístico de Imigrante”, finalizou Kátia.

Destaque erudito

O Coral Municipal de Caxias do Sul apresentou um repertório dedicado à música erudita inglesa do período Renascentista. Esse estilo foi caracterizado pela evolução do madrigal, uma forma polifônica vocal secular que floresceu entre o Renascimento e o início do Barroco. Sua essência reside na capacidade de a linha musical expressar e iluminar o conteúdo emocional e semântico da poesia cantada.

A produção musical da época igualmente se notabilizou pela complexa textura contrapontística, com expoentes como William Byrd e Thomas Tallis, os quais se dedicaram a traduzir os afetos do texto e o domínio da escrita para coros, tanto na música sacra quanto na profana.

O virginal, um instrumento de teclado, ocupou um lugar de relevo, e o advento da imprensa permitiu a circulação mais ampla de partituras. Esses fatores foram cruciais para a formação de uma linguagem musical com traços singulares, ainda que aberta a influxos vindos do continente europeu.

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