Elaine Hollmann é proprietária da Gráfica Dallas, de Teutônia, que em 2025 celebra 36 anos de história. A gestora fala sobre os desafios do empreendedorismo e a evolução da gráfica, desde a tipografia manual até a digitalização total dos processos, além da necessidade de diversificar os serviços para além da impressão tradicional. Elaine também explica como superou o machismo do setor através de uma postura de empoderamento e firmeza na administração.
Início
A trajetória de Elaine no ramo começou com um convite para ser sócia da gráfica. Inicialmente, a empresa funcionava como tipografia. O trabalho era inteiramente manual. Nos primeiros 15 anos de sociedade, a administração foi gerenciada por mulheres. Após esse período, Elaine sentiu a necessidade de evoluir e crescer e assumiu a propriedade da Dallas. “Foi muito difícil, mas quando as opiniões são muito diversas, não tem como”, cita.
Transição digital e adaptações
Assim como muitas empresas, a Dallas vivenciou uma transição complexa no impresso. O processo hoje é 100% digital, mais ágil e prático. Essa evolução, no entanto, exigiu um alto custo e investimento constante em maquinário e mão de obra. Para manter o faturamento e se adaptar ao mercado, foi necessário inovar e complementar o leque de produtos. Hoje, a Dallas oferece serviços como impressão de cadernos, agendas, calendários, adesivos, lona, banner e impressão UV em crachás. “Conseguimos trabalhar a identidade visual completa das empresas, exceto fachadas grandes com caixa”, conta Elaine.
Retorno do papel
A gestora nota que o impresso chegou a ser quase “excluído” durante a pandemia, por questões de saúde e distribuição. Agora, o papel volta com força, pois, embora o digital seja um caminho sem volta, ela percebe uma saturação do digital por parte dos clientes. “Receber um folder em mãos faz com que o cliente olhe e guarde, diferente da exclusão rápida de informações no celular”, assinala. “Não são os volumes massivos de 50 ou 100 mil unidades de antigamente, mas a demanda voltou a crescer, saindo de 2 mil a 5 mil impressos”, aponta Elaine.
Aperfeiçoamento e qualidade
A Dallas busca inovação por meio de aperfeiçoamento constante. Elaine participa de cursos, reuniões presenciais e eventos diversos. Ela busca inspiração em feiras anuais, com fornecedores e atende as sugestões de clientes. Para a gestora, a qualidade e a reputação são valores inegociáveis. A empresa lida com valores altos e ela exige que o trabalho saia 100%, sem falhas ortográficas ou de contagem.
Quando erros são detectados, o trabalho é refeito antes da entrega, garantindo a qualidade do serviço. “É o custo que se paga pela excelência. O valor que mais prezamos na cultura da empresa é a honestidade e a palavra dada”, detalha ela. Para ela, o olhar feminino faz diferença no negócio, como a atenção aos acabamentos e demais detalhes.
Baixarotatividade e gestão
Diferente da realidade de muitas empresas da região, a Gráfica Dallas possui baixa rotatividade de funcionários, sendo que alguns estão na equipe há 10 ou 12 anos. “Por ser uma profissão técnica, quando há necessidade de contratar, é difícil encontrar alguém com experiência. Por isso, prefiro treinar pessoas jovens, ensinando o processo da empresa e alinhando a cultura. Minha administração é firme, mas transparente: as decisões são ‘sim ou não’, sem espaço para indiretas”, ressalta a gestora.
O machismo no setor gráfico
Um dos momentos mais desafiadores na caminhada de Elaine à frente da gráfica foi o machismo presente no setor. O segmento gráfico era majoritariamente masculino. Elaine e sua ex-sócia eram, em determinada época, as únicas donas de gráfica no estado. Ela sentiu o preconceito ao buscar financiamentos bancários e chegou a ouvir de um gerente que ele a tratava de forma diferente por ela ser mulher.
Para combater essa intimidação e a necessidade de se provar constantemente, por um período, Elaine adotou uma postura de empoderamento nas negociações. “Ia de salto alto, um batom vermelho, com maquiagem e produzida para impactar e mostrar convicção. Sendo mulheres, precisamos provar ainda mais o conhecimento na área”, lamentou ela. Elaine observa que as empreendedoras mais novas têm mais facilidade hoje para se estabelecer e obter reconhecimento no setor.
O recarregar das energias
Elaine busca estar em equilíbrio, já que o trabalho exige lidar com uma alta demanda digital: são cerca de 40 a 50 contatos de WhatsApp por dia. “Depois do trabalho, não quero mais olhar telas. Quero sentar no sofá, fazer um chimarão, conversar com as pessoas ou fazer um exercício. Acho que a maioria das pessoas está voltando a buscar isso”, conta. Elaine gosta de estar em grupo e se dedica a atividades físicas: joga vôlei três vezes por semana, faz ginástica ou caminhada. Na leitura, ela discorre sobre espiritismo e romances, buscando qualquer leitura que a prenda e a ajude a descansar.
Sucessão e planos futuros
A gestora quer dar início à transição a partir do seu sucessor, o filho de 37 anos. Embora o processo esteja lento, ele já atua na empresa no setor de corte a laser e criação de artes. “Conhece o negócio desde pequeno. A meta é que ele assuma a gestão para que eu possa diminuir o ritmo de trabalho – não quero estar totalmente aposentada”, ressalta Elaine.


